Reunindo o que há de mais encantador no cinema de Hollywood, o novo filme dos Muppets é aquela comédia que procuramos para assistir com toda a família. E o melhor: todos saem satisfeitos.
Um filme de fantoches parece uma proposta utópica demais para o grande cinema. Quem sabe nas mãos de um cineasta independente, com enquadramentos pouco usuais e lançamento previsto para as sessões de arte… E qual seria o resultado de bonecos de mão sob o comando de um diretor alternativo? Provavelmente alguma comédia politicamente incorreta, cheia de palavrões e situações constrangedoras ou um humor genuinamente violento, com sangue falso escorrendo pelas veias de pano dos brinquedos.
Quando os fantoches mais famosos do mundo caem nas mãos da maior fábrica de sonhos do planeta, o resultado é bem diferente. São cores fortes, músicas alegres, situações familiares e, o mais importante, piadas leves que divertem públicos de todas as idades e deixam um sorriso nostálgico estampado no rosto daqueles que acompanharam a TV Record nas tardes das décadas de 1970 e 80. “Os Muppets” chega aos cinemas e, carregando o que há de melhor da Disney, é um dos filmes mais divertidos do ano.
Para quem não teve a oportunidade de morrer de rir da série em sua exibição original, o filme tem sua trama centrada na reapresentação dos personagens e tudo em seu roteiro é saborosamente metalinguístico. O antigo estúdio dos Muppets está abandonado e isso é revoltante para o casal Gary e Mary (Jason Segel e Amy Adams). A única solução para contornar o ostracismo e evitar que um magnata do petróleo (Chris Cooper) destrua o estúdio é arrecadar uma fortuna e pagar as dívidas. Para essa tarefa, os humanos saem à procura dos Muppets e colocam em prática a ideia de um show beneficente. Nada mais sugestivo para representar o renascimento dos bonecos de pano em pleno século XXI.
Pela sinopse, é fácil perceber a aura de encanto que permeia toda a trama, sobretudo por se tratar de uma produção da Disney. Além da questão financeira, entra em cena o resgate de valores universais, como a união, a amizade e o trabalho coletivo. A sinopse aparentemente boba é o fio condutor de uma história pontuada por um humor leve e inocente que dificilmente ainda se vê. Sob a direção de James Bobin, veterano diretor de séries de humor, os Muppets parecem mais engraçados, elétricos e excêntricos – embora sempre politicamente corretos – que em outras produções protagonizadas por eles. Tudo é clichê. E delicioso.
São muitos os momentos em que é difícil conter a risada. Se em sua primeira metade o longa explica toda a trágica situação em que o antigo estúdio se encontra, o momento seguinte foi pensado para divertir. Alguns números musicais revivem o que houve de melhor na época dos grandes filmes cantados de Hollywood, com coreografias que te fazem bater com os dedos na poltrona. Depois, quando os Muppets estão empenhados na arrecadação de fundos para impedir a destruição do lugar, podemos acompanhar a confusão dos bastidores de um programa de TV, com seus tipos excêntricos e manias peculiares.
Para abrilhantar esse grande projeto nostálgico, um time de estrelas topou participar do longa, e vez por outra somos surpreendidos pela aparição de Whoopi Goldberg, Selena Gomez, Emily Blunt, Dave Grohl e muitos outros. A interação entre o elenco de carne e osso e os bonecos é um ponto forte do filme, e aqui aparece de forma bem executada e divertida. Nesse quesito, merece destaque todo o trabalho dos protagonistas, que oferecem ao público atuações tão pueris e cheias de animação quanto se possa imaginar para um filme do gênero, embora vez por outra acabem escorregando para o exagero de expressões, sobretudo durante os números musicais.
Além dos valores tradicionais expostos em toda a duração do filme, além do maniqueísmo tão usual dos filmes da Disney – que separa em polos tão opostos o bem e o mal – a mensagem que fica ao final do longa, nessa brilhante sacada de metalinguagem, é de que os clássicos são eternos.
OBS: O sapo Caco agora é chamado de Kermit, que é o nome original do personagem. Essa alteração aconteceu no mundo inteiro e tem como objetivo universalizar os nomes dos personagens. Nas décadas de 70 e 80 vários personagens tiveram seus nomes regionalizados, principalmente por causa da dificuldade de pronúncia e por não ser tão atrativo. Hoje, com acesso a informação bem mais proliferado, usar o nome universal é bem mais comum e interessante para as distribuidoras. Assim como Super-Homem virou Superman e a Sininho virou Tinkerbell.
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Jáder Santana é crítico do CCR desde 2009 e estudante de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Experimentou duas outras graduações antes da atual até perceber que 2 + 2 pode ser igual a 5. Agora, prefere perder seu tempo com teorias inúteis sobre a chatice do cinema 3D.