Fórmulas repetidas e muito sangue digital marcam o quinto longa.
Com “Premonição 4”, a Warner Bros. informou que este seria o grande final da franquia, com uma estratégia de marketing atraente para os fãs de suspense/terror. A bilheteria foi alta e logo um quinto filme foi pensado. Desta vez, um grupo de amigos entra em um ônibus que passa em uma ponte. Sam (Nicolas D’Agosto) tem uma visão de que a ponte se tornará pó e matará todos os transeuntes. Desesperado, ele e sete amigos saem do ônibus e conseguem se salvar. Era o que eles achavam, até que a Morte mostra que não gosta de ser enganada e começa a caçar os sobreviventes um por um.
O que vemos neste “Premonição 5” é uma reciclagem de ideias da própria série cinematográfica para tentar se manter atraente ao público, mas é aparente o seu desgaste e a falta de uma trama mais ousada que a tornasse significativa. Após quatro filmes semelhantes, o roteiro cai nos mesmos buracos já explorados anteriormente, inclusive julgando a inteligência do público sobre o que acontecerá nos momentos seguintes. Um exemplo disso é quando os protagonistas “descobrem” que, após a premonição, a Morte segue uma linha cronológica para matar cada jovem. Fatos como esse o público já conhece e é perda de tempo criar uma tensão sobre isso pela quinta vez.
O processo narrativo é o mesmo visto anteriormente, ainda que o roteiro de Eric Heisserer tente investir em novas ideias. A principal delas é levantar o debate de que os jovens podem se salvar caso consigam matar alguém em seus lugares. O problema é que a partir daqui o filme segue uma questão de caráter e moral que não importa tanto para a franquia, ou até importaria caso fosse focada apenas nesses conflitos entre o grupo de amigos. O elenco, escolhido apenas para gritar bem em cena, não demonstra tanta carga psicológica que faça com que o público se importe com eles. Afinal, mal o conhecemos e a questão de sobrevivência deles se torna insignificante.
Para piorar, as mortes não criam mais aquela sensação de incerteza dos filmes anteriores, sempre muito quadradas e talvez até inspiradas em “Jogos Mortais” (atenção à cena do oftalmologista). A exceção se dá apenas na morte que acontece em um ginásio. No caso, há uma grande suspensão de planos e o diretor Steve Quale, com sua câmera detalhista e rápida, consegue criar uma “boa morte”. Quale também aumenta os prós em uma determinada sequência que envolve o personagem cozinheiro. Ele é o próximo da lista, mas decide voltar às atividades normais. O que ele não esperava era que aquela cozinha possibilitasse tantas suspeitas de como morreria. Mas a criatividade do diretor é limitada, deixando a desejar a maior parte do tempo.
A principal colaboração de Quale para este quinto filme é o que o transforma em uma experiência visual agradável. Após assinar cenas em 3D do aclamado “Avatar”, aqui ele empresta sua inteligência, ainda que limitada pelo orçamento, ao potencializar as experiências de morte dos personagens. Muito sangue digital é jogado na tela, enquanto objetos pontiagudos assustam o espectador. Em uma época em que os estúdios trabalham apenas a questão de perspectiva de cenários em suas produções tridimensionais sem priorizar outros lados da técnica, é interessante o fato de “Premonição” ter mantido (desde o filme anterior) a qualidade nos efeitos visuais. Não há inovação, mas sim um bom aproveitamento das ações banais para assustar, juntamente com uma trilha sonora genérica sempre presente.
Típico caça-níquel, “Premonição 5” é tudo que esperamos dele: o mais do mesmo pela quinta vez. Utilizando-se de bons momentos em 3D , o longa não supera seus anteriores e desagrada por ter enfraquecido parte da mitologia da franquia. Talvez esteja na hora de parar, antes que tenha o mesmo destino do promissor “Jogos Mortais”, cujos últimos três filmes descaracterizam o que vimos lá em 2004, quando Jigsaw ainda era um justiceiro admirável. Aqui a Dona Morte parece ter perdido a mão.
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Diego Benevides é editor chefe, crítico e colunista do CCR. Jornalista graduado pela Universidade de Fortaleza (Unifor), atualmente é pós-graduando em Assessoria de Comunicação, pesquisador em Audiovisual e professor universitário na linha de Artes Visuais e Cinema. Desde 2006 integra a equipe do portal, onde aprendeu a gostar de tudo um pouco. A desgostar também.