Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 11 de setembro de 2011

Cowboys & Aliens: quando uma ideia original não rende um bom filme

Jon Fravreau dirige longa que entende que sua ousada mistura de gêneros é tudo que ele pode proporcionar.

Quando pensamos que o cinema já provou de toda e qualquer mistura entre gêneros, Hollywood apresenta “Cowboys & Aliens”, juntando o que aparentemente jamais poderia ser unido. No mundo dos gêneros cinematográficos ficcionais, o que pode ser mais distinto do que ficção científica e western? Nada. O que pode ser mais atrevido do que exibir um confronto entre seres de outro mundo, com suas mega naves e feições amedrontadoras, e homens retrógrados empunhando pequenas armas de fogo? Poucas coisas.

Para se ter uma breve ideia da ousadia do longa, basta dizer que os alienígenas este ano já invadiram duas vezes a Terra (mais especificamente os Estados Unidos, claro) nos cinemas. Mas “Super 8” e “Invasão do Mundo – Batalha de Los Angeles” não têm entre os seus méritos (mesmo que o segundo tenha pouquíssimos) o pioneirismo da ideia. No entanto, o novo filme de Jon Favreau entende que a originalidade de seu plot é o suficiente. Porque há pouco material elogiável depois que a surpresa inicial passa, ficando evidente a falta de um roteiro mais trabalhado, que vá além de uma comum aventura que confronte ETs e humanos.

A história não poderia ser mais simples, mostrando primeiramente uma pequena cidade do Oeste americano que acaba de receber a visita de um homem desmemoriado. Nem mesmo o seu próprio nome ele sabe. Nada que o cartaz de “Procura-se” não identifique. Trata-se de Jake Lanergan (Daniel Craig), um temido ladrão da localidade, que agora carrega um misterioso bracelete. A função do utensílio só é, em parte, revelada quando máquinas voadoras surgem no céu, seguidas de ferozes ataques. A partir de então, Lanergan entende que deve combater os alienígenas e resgatar os abduzidos, passando a receber o apoio dos moradores da cidade, bem como de índios e foras-da-lei que surgem pelo caminho.

Adaptação do quadrinho de mesmo nome, o longa parece ter medo de criar além do que a obra original oferece, trazendo um tom sisudo de um filme de ação habitual ao qual o público está acostumado a conferir. Em nenhum momento, o roteiro de Alex Kurtzman, Roberto Orci e Damon Lindelof se utiliza da potencialidade de brincar com a mistura de gêneros que retrata. Os estereótipos, que poderiam servir de escopo humorístico para a obra, existem, mas sem proporcionar qualquer entretenimento.

Estão lá o anti-herói em processo de redenção, o “coronel” teoricamente malvado, o rapaz rebelde e o menino-órfão que quer virar homem. Mas nenhum deles soa interessante. Na verdade, a apresentação demasiada de coadjuvantes não permite que alguns de seus personagens possam ser desenvolvidos adequadamente. Minutos preciosos são perdidos com a má-pontaria de Doc (Sam Rockwell), por exemplo, quando o mistério em torno do passado do protagonista é deixado lado. E quando tudo é apresentado, entendemos os motivos de tais “desvios” do roteiro: não havia nada de realmente enigmático na antiga vida de Lanergan.

E o que podemos dizer de Woodrow Dollarhyde (Harrison Ford)? Quando os primeiros minutos fazem questão de construir um aura de vilania sobre o personagem, esperamos, no mínimo, por um embate de egos entre ele e Lanergan. O roteiro, porém, faz de Dollarhyde alguém bem menos amedrontador, capaz de dar bons conselhos para um carente garoto e permitindo-se até soltar elogios e fazer amizades. Uma total contradição que Harrison Ford busca amenizar com suas expressões carrancudas, mas cuja caricatura desmorona antes do recomendável.

Olivia Wilde, por sua vez, encarna de longe a personagem mais desinteressante de “Cowboys & Aliens”. Seria apenas uma frágil mocinha sem expressão que demonstra disposição para destruir os alienígenas, mas o roteiro faz questão de trazer segredos mal explorados que tornam Ella ainda menos carismática e sensual. O mesmo pode ser dito para os verdadeiros vilões da história. Apropriando-se explicitamente de estética semelhante a do filme de Ridley Scott de 1979 para montar fisicamente seus alienígenas, o longa segue a linha sem graça e lugar-comum para justificar a invasão, soando retrô e perdido no tempo.

A direção de Jon Favreau também não colabora. O cineasta, responsável pela ótima franquia “Homem de Ferro”, parece preguiçoso, lento. Por mais que volte a utilizar os efeitos especiais com elogiável parcimônia e proporcione cenas de ação que são de longe os melhores momentos do filme, ele traz um ato final que parece não acabar e que incomoda pela falta de ritmo. O único que escapa é Matthew Libatique com sua fotografia estupenda que se aproveita das possibilidades proporcionadas por um western. E quando a fotografia é o ponto alto de um longa, temos um grande problema.

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Darlano Dídimo é crítico do CCR desde 2009. Graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é adorador da arte cinematográfica desde a infância, mas só mais tarde veio a entender a grandiosidade que é o cinema

Darlano Didimo
@rapadura

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