Em “O Lado Oculto da Lua”, Michael Bay presenteia o público com os mais impressionantes efeitos especiais, enquanto esquece de todo o resto.
Pelo menos até agora, parece que os grandes estúdios de cinema e as distribuidoras nacionais tiraram as férias para bombardear o público com lindas paisagens, impressionantes efeitos especiais e muito barulho e ação, enquanto o conteúdo é esquecido. Depois de “Carros 2” decepcionar como o pior filme da ainda assim esplêndida Pixar, agora é a vez de “Transformers: O Lado Oculto da Lua” adentrar a sala escura clamando para que a audiência desligue o cérebro e se contente com a técnica. Porque não há nada além de bom a ser apreciado na continuação da já fracassada franquia de Michael Bay.
Não que se esteja cobrando uma história inteligente, que intrigue e provoque reflexões. Mas uma trama plausível, minimamente interessante, que ao menos respeite um fato histórico, é o recomendável. Este ano, “X-Men: Primeira Classe” provou que isso é sim possível. No entanto, as pretensões de Bay fogem de qualquer interesse intelectual. Jogar seus robôs contra prédios, fazê-los se atracarem e se perseguirem pelas ruas, e ainda tentar tirar alguma graça disso tudo, é o medíocre e único objetivo do longa. Se você se satisfaz só com o que foi citado, “sorte” a sua. “Transformers 3” é a sua melhor opção nos cinemas.
Não que ela interessa, mas a sinopse gira em torno da já batida rivalidade entre Autobots e Decepticons. Desta vez, o roteiro de Ehren Kruger ousa utilizar em seu favor (o que acaba virando um boicote) a badalada ida do homem à lua, causada aqui pela queda de uma espaçonave vinda de Cyberton, o planeta dos robôs. Décadas depois, então, uma série de estranhos acontecimentos levam a inteligência americana, Optimus Prime e companhia a resgatar a espaçonave, que na verdade é Sentinel Prime. Mas tudo não passa de uma estratégia dos Decepticons. Para que? Uma breve olhada no currículo do diretor dá o spoiler por si próprio.
Cineasta que melhor representa o lado negro de Hollywood (entenda como aquele preocupado exclusivamente com bilheteria), Michael Bay entrega um trabalho no padrão que vem estabelecendo desde “Os Bad Boys” (1995): correria seguida de correria, a qual coloca em jogo a vida de muita gente, quando não de toda a humanidade. Aqui ele surge mais descontrolado do que nunca. E o roteiro de Kruger coopera para tanto. É megalomaníaco ao extremo, ao ponto de trazer um dos mais longos e torturantes clímax finais dos últimos anos, encerrado da maneira mais óbvia possível.
Se tiros, tiros e mais tiros não forem suficientes para você, satisfaça-se com lutas com alto grau de agressividade (entre robôs, claro) e estranhos vôos humanos. Sim, temos personagens humanos que voam entre prédios destruídos, escapando, claro, por um triz de um trágico destino. O triz, aliás, repete-se recorrentes vezes na película. Experimente contar quantas vezes o inimigo fica a um passo de sair vencedor. O “inesperado”, porém, faz questão de salvar os heróis. Na verdade, o trágico só acomete os infelizes coadjuvantes, com os quais pouco temos contato, evitando qualquer grande decepção emocional por parte do espectador.
Em termos narrativos, o roteiro pode até surpreender inicialmente com a pretensiosa inclusão da histórica missão de Apollo 11, com reconstituições do espaço lunar e de pronunciamentos presidenciais que não fazem feio. O passar dos minutos, no entanto, revela que o uso do fato que deu início à corrida espacial foi feito em vão, sendo um mero utensílio comercial que não encontra diálogo com o restante da trama. Um verdadeiro desrespeito para com os envolvidos com esse relevante fato da história americana.
Ao protagonista Sam (Shia LaBoeuf) é concedida uma participação menos relevante do que a das produções anteriores. Ele continua a se arriscar por seus amigos robôs, mas nada pode fazer, além de correr, quando toda a pirotecnia de Michael Bay toma conta do filme. Na verdade, Sam até possui alguma importância no primeiro ato, nos melhores momentos do filme, quando o roteiro exibe seus esforços para conseguir o primeiro emprego, enquanto a apaixonada namorada se sai bem melhor financeiramente do que ele. Por sinal, Rosie Huntington-Whiteley substitui sem prejuízos Megan Fox, no papel da gostosa cuja maquiagem e humor pouco se abalam depois de quase morrer, como deixa claro o diretor, em um longo plano do rosto da atriz que pode causar algumas risadas de deboche.
O elenco tem ainda um time de respeito, que costumava ser bem seletivo em suas escolhas até aceitarem participar de “Transformers 3”. Frances McDormand, John Turturro e John Malkovich escolhem as mais exageradas caricaturas para encarnarem seus personagens. Todos têm uma função cômica embaraçosa, tom que o roteiro insiste em incluir em demasia. Mas é com Ken Jeong que as tentativas de provocar risadas causam vergonha alheia. Já Patrick Dempsey é responsável por um dos piores e, certamente, o mais previsível personagem do filme.
Com US$ 190 milhões de orçamento, Michael Bay dedicou boa parte do dinheiro para a pós-produção, quando os efeitos especiais são inseridos. E aqui não se pode criticar o filme. Nesse quesito, “O Lado Oculto da Lua” não só supera seus antecessores, como traz os mais embasbacantes efeitos já produzidos, que ficam ainda mais impressionantes em 3D. Destruindo Washington e, principalmente, Chicago, Bay usa e abusa da câmera lenta, a mesma velocidade de raciocínio que exige de seu público. Que Harry Potter não siga pelo mesmo caminho e salve as férias!