Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 07 de maio de 2011

Velozes e Furiosos 5 (2011): muita ação e empatia recompensam o novo longa

Com ação de qualidade e personagens coadjuvantes cheios de carisma, longa revitaliza franquia que andava perdida.

Que falta criatividade em Hollywood, isso todo mundo já sabe. Que sobra pretensão, também não é novidade. Mas certas insistências ainda surpreendem, positiva e, principalmente, negativamente. “Jogos Mortais” que o diga. “American Pie” não fica muito atrás também, assim como “Resident Evil” e “Premonição”. O espantoso é que, com exceção da primeira franquia citada, nenhuma delas teve um episódio de abertura digno de iniciar uma longa vida nos cinemas. O mesmo pode-se dizer de “Velozes e Furiosos”, que não passa de um bom pipocão, seguido de continuações que nunca justificaram a que vieram. No entanto, “Velozes e Furiosos 5: Operação Rio” encaixa-se na exceção na qual que inclui ainda o recente “Pânico 4″. Estamos diante de mais um raro caso em que a insistência foi recompensada.

Para isso, eles tiveram de mudar de ares. Ir para a América do Sul, mais especificamente para o Rio de Janeiro. Depois de ajudar no resgate do, respectivamente, irmão e cunhado Dominic Toretto (Vin Diesel) das mãos da polícia, Mia (Jordana Brewster) e Brian O’Conner (Paul Walker) fogem dos EUA e aportam na capital fluminense, logo buscando trabalhos desafiadores e bem pagos. Sob indicação de Vince (Matt Schulze), eles decidem se arriscar em ramo bem conhecido: o roubo de carros valiosos, mas contando com a parceria de bandidos locais.

O reaparecimento de Toretto, porém, modifica os planos, e o trio passa a ter seus próprios interesses, que, claramente, entram em conflito com os da gangue liderada pelo grande traficante local Hernan Reis (Joaquim de Almeida). Um chip é o principal motivo das desavenças que levam a torturas e tiroteios. E a situação tende a piorar quando eles montam uma estratégia para roubar milhões de Reis, mesmo sob intensa caça do mais prestigiado e carrancudo policial americano, Hobbs (Dwayne Johnson).

Como pode-se notar pela sinopse, “Velozes e Furiosos 5″ segue o mesmo caminho do episódio antecessor ao apresentar uma trama policial simples. A diferença é que os planos agora são meticulosamente planejados e as perseguições têm suas razões de existência. Entretanto, não espere uma história inteligente e cheia de diálogos bem construídos, muito menos personagens complexos. O filme tem consciência do padrão em que deve se enquadrar e entrega um entretenimento de qualidade que não subestima seu público alvo, assim como não decepciona todos os outros.

Chris Morgan, responsável pelo roteiro dos dois longas anteriores, está mais cauteloso, sabedor de como começar, desenvolver e terminar sua trama sem fazê-la ter uma overdose de ação sem justificativa. Os furos são inevitáveis (como o paradeiro final do badalado chip), mas, diante do que a franquia já sofreu, é um avanço surpreendente. Mesmo com vilões caricaturais e heróis com desvirtuado senso ético, o planejamento e a execução do golpe idealizado pela turma de Toretto traz adrenalina na dosagem certa.

Morgan triunfa ainda ao incluir personagens coadjuvantes que dão vitalidade extra ao filme. Tyrese Gibson e Ludacris, com seus Roman e Tej, respectivamente, são responsáveis por um humor eficiente, além de contribuírem com a ação. O mesmo pode ser dito dos espanhóis Tego Calderon, como Leo, e Don Omar, como Santos, que tentam lidar com o eterno pessimismo de um deles. Acima de tudo, é gratificante observar a nascente relação de Gisele (Gal Gadot) e Han (Sung Kang), que sabe como acrescentar sensualidade e malícia a trama.

Todos eles ficam ainda melhor porque os protagonistas aparecem mais inexpressivos e desinteressantes do que nunca. Nem mesmo uma gravidez consegue trazer algum carisma para Jordana Brewster e Paul Walker, e aparentemente nada é capaz de fazer Vin Diesel convencer como ator. Dwayne Johnson, no pior papel de todo o filme, segue pelo mesmo caminho. Contudo (e talvez até pelo mesmo motivo), é divertido vê-los se enfrentar em uma das ótimas sequências de ação.

O diretor Justin Lin retorna mais uma vez para comprovar que megalomania é o seu sobrenome. Se você acha que a cena de abertura é curta, ele vem com o ato final, fazendo-o engolir qualquer possível reclamação. Aqui, as mentiras são limitadas em prol de uma mínima verossimilhança que convence. Até mesmo as corridas de carro evitam efeitos especiais exagerados, sendo reduzidas sem fazerem qualquer falta. Se há algo que incomoda, isso é a adaptação da vida carioca para o padrão hollywoodiano.

De dublagens desnecessárias a locações inexistentes, “Velozes e Furiosos 5″ exibe um Rio com momentos de deturpação, mas que causa menos estranhamento do que a recente animação de Carlos Saldanha. No filme, a violência e a corrupção reinam absolutas, casando perfeitamente com a proposta “testosterônica” da franquia iniciada em 2001, que agora se revitaliza. Se antes já era difícil saber quando um definitivo ponto final seria dado, agora tornou-se impossível. Apenas não comemore ou reclame precipitadamente.

Darlano Didimo
@rapadura

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