Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 24 de outubro de 2010

Juntos pelo Acaso

Explorando premissa "batida", comédia romântica consegue agradar ao inserir um convincente, mesmo que leve, drama.

O mais novo filme estrelado por uma das mais recentes queridinhas de Hollywood, Katherine Heigl, possui uma das premissas mais clichês exploradas pela indústria cinematográfica americana (só perdendo para aquela famosa e sobrenatural troca de identidades entre parentes). Quem não já se cansou de ver um casal que não se suporta ser forçado a morar junto devido às peripécias do destino, para pouco tempo depois descobrirem que foram feitos um para o outro? Aos que levantaram o braço, uma surpresa: a fórmula ainda funciona. Pelo menos é o que “Juntos pelo Acaso” mostra, proporcionando ao público momentos de entretenimento agradável e descompromissado.

O grande trunfo do longa é saber que não possui a mais original das ideias, e a partir disso, moldar sua própria identidade, facilitando a afeição com os mirabolantes fatos vividos pelos protagonistas nos últimos dias e meses. Holly (Heigl) e Messer (Josh Duhamel) possuem melhores amigos em comum, o casal Alison (Christina Hendricks) e Peter Novack (Hayes McArthur), que acabam de dar a luz a primeira filha, a pequena Sophie (interpretada pelas trigêmeas Alex, Brynn e Brooke Clagett). Os jovens solteiros, porém, passam longe de possuir harmonia entre si. Discutem, brigam, insinuam julgamentos mordazes e tudo o mais que duas pessoas que se odeiam fazem.

Enquanto Holly é uma responsável dona de confeitaria, Messer é um expansivo e folgado técnico de televisão que trabalha durante jogos da NBA. Até que uma tragédia os une. Um acidente automobilístico mata Alison e Peter, e um precoce testamento feito por eles concede a guarda de Sophie para seus melhores amigos. Espantados pela escolha, eles decidem mergulhar na experiência, passando a dividir o mesmo teto com um bebê e aceitando (em parte) os desafios dessa nova vida.

Roteirizado pelos estreantes Ian Deitchman e Kristin Rusk Robinson, a fita tem início da pior maneira possível. Explorando os estereótipos, a dupla busca reforçar a rivalidade entre Holly e Messer, fazendo dele, especialmente, alguém desprezível, irresponsável ao extremo, incapaz até de atender aos pedidos do amigo para não balançar a criança, para segundos depois, ser vomitado por Sophie. Tentando inserir um caráter cômico comum, Deitchman e Robinson fazem da introdução de seu filme uma total contradição com o que vem depois. Felizmente.

Tudo porque é com um drama leve que a história engrena. E esse tom só passa a existir a partir da morte dos pais da bebê. Se Holly já parecia uma mulher de verdade, Messer tem desconstruída toda a caricatura que carregava (mesmo que abruptamente), tanto que chora ao rever sua recente “filha”, numa cena que comove. Então, passamos a assistir aos problemas enfrentados pela dupla ao educar a menina, mesclando, com agradável sobriedade, momentos de humor, de choro e de brigas.

Não esperem ver uma sequência pastelão, de tombos e risadas fáceis. O cômico em “Juntos pelo Acaso” vem de circunstâncias naturais, como através do primeiro passo dado por Sophie ou pelos dilemas surgidos por decorrência da decisão sobre quem ficará com ela a cada hora do dia. Também não esperem ver grandes discussões por pequenas coisas, algo bem típico de comédia romântica de mau gosto. Por mais que não sejam as pessoas mais maduras do mundo, os protagonistas se envolvem por completo nessa empreitada e fazem de tudo para agradar a pequena menina.

O romance ainda convence, talvez principalmente pelo fato de o roteiro parecer jamais se preocupar em criar situações que juntem Holly e Messer. Eles acabam por gradativamente se gostarem, se darem conta que vivem uma vida de casados. Interesses amorosos exteriores ajudam. A personagem de Heigl tem uma paixonite pelo médico Sam (Josh Lucas), um homem sério que aceita a rotina dela e não nutre ciúmes por seu “companheiro”. Enquanto Messer continua sua instabilidade afetiva opcional, carregando na falta de compromisso sua principal característica. A ótima química entre os atores coopera no bom resultado do filme.

Contando ainda com bons personagens coadjuvantes (com destaque para os fofoqueiros vizinhos e a assistente social Janine), “Juntos pelo Acaso” agrada por não ter medo de mergulhar, mesmo que de forma rasa, no drama, encontrando seu próprio tom. E assim conquista através de uma história já conhecida, de desenvolvimento e desfecho previsíveis. Também sem esquecer de fazer rir, o filme se converte numa boa opção para uma audiência diversa sem grandes exigências.

Darlano Didimo
@rapadura

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