Filme tenta e até consegue se diferenciar de outros longas do gênero, mas se perde em sua proposta "realista" e em roteiro falho.
“O Último Exorcismo” parece diferente, mas não escapa de ser mais um longa ruim que aborda esta temática polêmica, tentando dar alguns sustos no público. Se a clássica produção “O Exorcista”, de 1973, iniciou a moda e, desde então, nunca saiu do topo da lista dos melhores do terror, surgiram diversas outras peças posteriormente, que se não traziam o exorcismo como assunto principal, buscavam pelo menos exibir uma sequência de uma cerimônia de expulsão de demônios. Com o baú seco de ideias, que já rendeu até uma película de discussão ética (“O Exorcismo de Emily Rose”), sobrou para este filme modificar a plataforma ficcional, flertando com o documentário. A fragilidade da narrativa e a mediana execução da ideia, no entanto, enfraquecem bastante o resultado final.
Se os religiosos costumam assumir um importante, mas coadjuvante papel nestes filmes, aqui a classe protagoniza a história. O reverendo Cotton Marcus (Patrick Fabian), além de comandar missas protestantes com um entusiasmo extra, é especialista em exorcismo, ou pelo menos em fraudes de exorcismo. E todos os métodos mentirosos que utiliza são revelados para uma equipe cinematográfica que produz um documentário sobre ele, sobre a vida contraditória que ele leva diariamente.
Acompanhado da diretora e do cinegrafista do longa, o reverendo se encaminha para uma isolada fazenda na Louisiana, onde imagina que realizará mais um “exorcismo” cotidiano. A vítima agora é uma garota de dezesseis anos chamada Nell (Ashley Bell), pertencente a uma família bastante conservadora e religiosa. Ao cumprir sua falcatrua rotineira, Cotton recebe o seu pagamento e parte da localidade. O que ele não esperava é que os sintomas sentidos pela menina não fossem meras conseqüências de surtos psicológicos.
Para os que desconhecem o seguinte termo, mocumentário é um doc em que todos os fatos são ficcionais. “O Último Exorcismo” pertence à categoria, e desde a primeira tomada jamais faz questão de esconder. Ao exibir o personagem principal fazendo a barba, uma câmera refletida no espelho já deixa claro onde está a tentativa diferencial desta produção. E de início a estratégia funciona com enorme eficiência ao respeitar as regras básicas de um documentário, mesclando cenas do cotidiano do reverendo com depoimentos de seus familiares e amigos.
Com orçamento curtíssimo de US$ 1,8 milhão, o longa, porém, perde sua força ao se embrenhar no território rural e tentar instalar tensão com sua trama pretensamente sobrenatural. Em termos técnicos, os erros são evidentes. A direção de Daniel Stamm, que antes fugia dos desafios, passa a ser forçada a lidar com o instantâneo, e falha. A variação de ângulos de câmera em uma única sequência, em característica que contradiz com a proposta do filme, desmente a história e derruba por terra todo o universo realístico que vinha sendo construído até então.
Stamm também parece bastante conservador ao tentar inserir o caos. Se a edição é demasiada correta, com cortes simplistas que nunca perdem uma única ação, a câmera pouco trêmula condiz com os exagerados cuidados do diretor. Por isso, se torna quase impossível levar sustos ou se envolver com a trama. Mesmo quando o cineasta coloca a possuída Nell para comandar a imagem, a sequência não convence devido a previsibilidade do diretor. A falta de criatividade e talento de Stamm, no entanto, não poderia ser mais óbvia do que na ridícula cena final.
A culpa da sequência, porém, não deve ser dada apenas a ele, mas também a dupla de roteiristas, Huck Botko e Andrew Gurland. Eles criam uma situação vergonhosa, fazendo com que os espectadores exalem um ar de enorme decepção com a chegada repentina dos créditos. Lembram-se do desfecho de “A Bruxa de Blair”? Pois é, “O Último Exorcismo” busca plagiá-lo, com a diferença de que exibe o que o longa de 1999 fez questão de esconder inteligentemente.
Além disso, a narrativa escrita por Botko e Gurland deixa inúmeros questionamentos em aberto, nunca justificando ou explicando a possessão de Nell. Se a premissa aparenta certa originalidade ao tratar da fraude do reverendo, a história cai no lugar comum ao apostar em situações já exploradas em outros filmes do gênero, como a já batida cena no celeiro ou o pedido de ajuda para outros religiosos no processo de exorcismo. Falha ainda ao buscar confundir o público com uma certa gravidez e a insinuação medonha de um incesto, que não passam de “enrolação” para expandir a limitada duração da película.
Em mocumentários, um ponto super importante a ser analisado são as atuações, já que o nível delas pode destruir ou alavancar o sucesso de um filme. Porém nesse quesito, “O Último Exorcismo” até que se sai bem, com as naturais interpretações de Patrick Fabian, Louis Lertham, como o pai da garota, e Caleb Landrey, como o irmão dela. A própria Ashley Bell, no entanto, não convence como a menina azarada tomada por um demônio, entrando para uma lista que parece não ter fim no cinema norte-americano. É esperar pra ver quem será a próxima possuída que passará por um exorcismo, porque desta vez não deu certo.