Na volta de um dos temas mais eficientes de terror, prepare-se para um ambiente sombrio que deve causar bons sustos.
O reverendo Cotton Marcus decide filmar seu último exorcismo. A escolhida para a última prática dele é a inocente Nell Sweetzer, filha de Louis Sweetzer, um perturbado senhor e fanático religioso. Inicialmente, Marcus propõe revelar as mentiras que envolvem a prática tantas vezes feitas por ele, mas logo a situação que ele achava ter domínio sai de se controle ao ponto de causar dúvidas sobre a existência de demônios até mesmo no experiente reverendo. Um enredo previsível, mas que se encaixa direitinho com o tom da história e consegue envolver. Pena que alguns furos no decorrer da história acabam estragando tudo.
A direção é do desconhecido Daniel Stamm e este tem um desempenho superior a sua popularidade. Ele usa e abusa das técnicas de filmagem e as utiliza de forma ousada e oportuna. Além da câmera nervosa que treme exaustivamente, temos traços amadores utilizados de forma pensada que, dentro do contexto da obra, acrescentam muito ao trabalho. Uma das cenas mais interessantes é a que a menina tomada pelo demônio pega a câmera e saí desesperada. O efeito da cena é aterrorizantemente válido principalmente pelos sustos causados. Assim, o longa utiliza a seu favor um fato que o prejudicaria inicialmente.
Do desconhecido elenco destacam-se três integrantes cruciais para a história. O primeiro é Patrick Fabian, que encarna o falso reverendo e lhe dá uma esperteza bem interessante à proposta o personagem. A segunda é a menina endemoniada. Ela inicialmente é frágil e meiga, depois é inescrupulosa e cínica. Quando boazinha, ela não convence, mas no lado ruim ela se supera. O terceiro é o pai da menina que é cercado por seu fanatismo e por um mistério que perdura toda a obra. E ainda tem a produtora da filmagem feita por Iris Bahr que, embora esteja em quase todas as cenas, aparece em poucas e nada acrescenta à trama.
O roteiro de Huck Botko e Andrew Gurland é um tiro no pé do filme. Ele constrói um ambiente pensado e realista que impressiona por sua eficiência quanto ao gênero. Ele até brinca com os clichês dos filmes que abordam o tema. Logo depois, ele estraga tudo com a história do “666” nas paredes e com o desfecho que não merece nem comentários. Percebe-se a frustrada tentativa de repetir os finais de outros filmes que deram certo. Assim, fica um clima muito contraditório na história.
A fotografia do longa é excelente à medida que explora o lado obscuro da história, além de utilizar o baixo orçamento a seu favor. É mais válido explorar com detalhes uma casa caindo aos pedaços situada em um lugar deserto e aterrorizante. Além de ser mais realista, é muito mais econômico. A cena quando o reverendo chega ao local onde praticaria o ato é bem lenta e descritiva. Ela dá uma importante introdução do cenário isolado da obra. Destaque também para o bom aproveitamento das cenas noturnas, das cores escuras e da cor vermelha. Esta última é perceptível na sequência em que a menina sai com a câmera.
O tom metalinguístico da película se inspira em uma tendência nas obras de terror mais bem sucedidas nos últimos anos. O fato de ser filmada dentro de uma filmagem é estranho, mas funciona. O maior exemplo disso é “Atividade Paranormal”, que muita gente acredita até hoje que são cenas reais. Em determinada cena, a imagem do espelho mostra o câmera que é totalmente descartado da história. Ele a filma, mas não fala. Já a produtora aparece em poucas cenas apenas para o público não esquecer a contextualização da obra. Algo que não caiu muito bem, diga-se de passagem.
“O Último Exorcismo” impressiona por sua beleza visual perante a um baixo orçamento. Um filme que utiliza sua deficiência como uma oportunidade e, embora cause bons sustos durante toda sua exibição, o andamento da história deixa uma impressão aquém do que merecia.