Mais uma vez, a franquia não agrada.
Paul WS. Anderson é cara do “quase lá”. Tirando a ofensa que é o primeiro “Alien vs. Predador”, seus outros filmes “quase” foram aceitáveis, como o recente “Corrida Mortal”, “O Soldado do Futuro”, o campeão da sessão da tarde “Mortal Kombat”, ou mesmo o seu “quase” maior êxito, “Resident Evil: O Hóspede Maldito”.
Tendo escrito e produzido os três primeiros filmes da franquia “Resident Evil” e dirigido apenas o primeiro, ele agora volta para a cadeira de diretor neste “Recomeço”, mas novamente falha na sua intenção de rodar um bom longa metragem de ação.
A história começa com estilo, créditos maneiros, atenção na produção e edição. Vem então uma bonita cena em slow motion (afinal, o que fica ruim em slow motion?) com um take de um ângulo superior, o famoso plongê, onde podemos avistar diversos guarda-chuvas transitando ao redor de uma menina que chora imóvel sob a água. Bem, depois de quase vomitar na cabeça do colega crítico da frente devido a uma infinidade de zoom in e zoom out rodopiantes em torno do globo, se inicia um tiroteio tão insano que confesso ter ficado feliz de sair vivo dele.
Anderson confirma então sua mediocridade como roteirista, apresentando um fiapo de história lamentável. Tudo gira em torno da vontade de Alice encontrar sobreviventes e fugir da corporação Umbrella, que a persegue devido seu valioso DNA. Seguindo os fatos já citados no filme anterior, ela parte atrás de um local chamado Arcadia (boa escolha de nome), que manda sinais por rádio oferecendo abrigo e ajuda. Após voar para o Alasca, não achar nada e dar com os burros em água fria, ela descobre que o lugar na verdade é um navio. Por fim, ela sai voando pelo mundo e acaba aterrissando seu teco-teco no teto de um presídio onde existem sobreviventes, e de lá avistam o Arcadia ancorado próximo a orla. Eles precisam então descobrir um jeito de chegar até seu estimado destino, e para isso terão de matar milhões de zumbis. Mas adivinhem, nem tudo é o que diz ser.
Com uma direção supostamente arrojada, com seu IMAX 3D imponente, o filme até traz algumas sequências interessantes de se ver, com muitos efeitos especiais e elementos “Matrix” para deixar tudo cool, mas com um andamento tão precário, um texto simplesmente ruim e interpretações no piloto automático, tudo se perde e acaba parecendo um vídeo clipe gigante. Outra falha gritante é a limpeza e a beleza de seus personagens, onde, em meio ao fim do mundo, mulheres estão sempre lindas e produzidas com cortes de cabelo de Hollywood, e os homens com suas barbas estilizadas, perfeitamente alinhadas. Uma falta de noção que beira o egocentrismo.
Milla Jovovich, que não emplaca um bom filme desde “O Quinto Elemento”, está apática e sonolenta como a heroína da fita. Sua função principal é primeiramente contar tudo que está acontecendo por meio de diálogos em voice-over, e depois matar hordas de zumbis fazendo cara de capa de revista. O elenco de apoio também aparece perdido, sem saber da onde veio e para onde vai. Wentworth Miller, do seriado “Prison Break”, até que tenta dar uma amenizada no clima com seu Chris Redfield, mas não há talento que salve a falta de atenção com que os personagens foram construídos, meros estereótipos prontos para serem mortos. Mesmo o vilão Albert Wesker – que está muito parecido com o vilão do game -, interpretado por Shawn Roberts, está canastrão e pouco convincente.
O fator “game” ainda salvou a pontuação final deste filme. Apesar de reinventar praticamente toda a história, o diretor Anderson teve a atenção de colocar referências do último jogo da franquia, “Resident Evil 5”. Temos o carrasco enorme e seu machado descomunal, zumbis com bocas deformadas que mais parecem plantas carnívoras, cachorros do inferno que se abrem ao meio se transformando em uma boca só, e o já citado vilão Wesker, que está muito parecido com o original. Chris também não foi esquecido, apesar de sua passagem ser decepcionante, como também já foi citado.
Mesmo colocando estes elementos, no final “Resident Evil: Recomeço” não honra a tradição do game que um dia teve a pretensão de adaptar. O clima de desespero e nervosismo simplesmente não existe. Parece que apenas as cenas de ação receberam algum tipo de atenção dos produtores, que esqueceram o primordial para tudo funcionar bem: uma história bem contada, coisa que o jogo faz sem dificuldade. Resumindo, a obra é um espetáculo de baboseiras com um roteiro pífio e apenas uma ideia na cabeça, levantar mais grana. Com a bilheteria que fez o próximo já está praticamente confirmado.