Poucas vezes viagens no tempo foram tão desempolgantes.
Viajar no tempo é uma das brincadeiras preferidas dos roteiristas de Hollywood, e costumava ser uma de suas mais eficientes. Afinal, quem não se lembra com um gostinho de saudade da trilogia de Robert Zemeckis, “De Volta para o Futuro”? Tendo como mote principal o choque de culturas causado pelo deslocamento no tempo dos personagens, esses filmes transitam por diferentes gêneros cinematográficos, indo da aventura a comédia (em sua maioria), do drama ao romance. Este “A Ressaca” escolhe o caminho mais fácil para percorrer e prefere buscar na comicidade sua razão para existir. No entanto, por mais que consiga arrancar algumas risadas dos espectadores, a fragilidade do roteiro e da direção torna a obra extremamente esquecível.
Se super carros, diários e até auto-hipnose já foram utilizados como meios para retornar ao passado, desta vez é uma jacuzzi que permite essa viagem. E neste longa os poderes do objeto são descobertos por três antigos amigos e um adolescente, todos passando por momentos de dificuldades em suas vidas. Se Adam (John Cusack) acaba de ter mais um relacionamento rompido (e alguns itens arrancados de sua casa pela agora ex-namorada), Nick (Craig Robinson) não suporta mais ter seus passos traçados pela esposa e desconfiar que ela o trai.
Mas é Lou (Rob Corddry) quem vem encarando seus piores momentos. Isolado da família e afastado dos amigos, ele vai parar no hospital por um desconfiável desleixo quase fatal. Acrescente ainda Jacob (Clark Duke), um jovem nerd viciado em vídeo game que mora com o tio Adam. O acidente de Lou acaba os reunindo e o trio, acompanhado de Jacob, decide reviver experiências em uma cidade do interior. O que eles não esperavam é que o atual marasmo da localidade fosse compensado com um retorno aos inesquecíveis anos 80, logo após uma bebedeira inveterada na banheira de hidromassagem.
Diante de tantos longas com a mesma característica, “A Ressaca” não acrescenta nada de inovador, e o que é pior, nem o básico é bem feito. Escrito por Josh Heald, Sean Anders e John Morris, o roteiro deseja fazer com que seus personagens possam curtir mais uma vez um das noites mais badaladas da vida deles. Mas ao invés de tornar tudo uma grande zorra, há uma espécie de autoboicote, em que Adam, Nick e Lou, com medo de mudar o destino de cada um, são forçados a repetirem as mesmas ações e atitudes de cerca de vinte anos antes.
Então, se em 1986, Lou havia levado um soco do cara mais mal-encarado da cidade, agora ele vai voltar a ser sua vítima. O que poderia ser mais sem graça? Na tentativa de buscar uma certa credibilidade a uma história ficcional e maluca em sua essência, os roteiristas acabam por impossibilitarem as principais razões em potencial para risadas. Isso tudo quando nem eles mesmos são capazes de tornarem o processo de transferência de tempo crível, chegando a envolver uma bebida energética russa, a qual, aliás, rende insinuações políticas ridículas.
Além disso, o script não se envergonha em utilizar piadas “batidas”, como a clássica aposta em torno de acontecimentos futuros, ou aquela dúvida cruel que circunda a cabeça dos protagonistas e que só pode encontrar resposta no passado (aqui o mistério gira em torno da paternidade de Jacob, a qual pode ser facilmente descoberta já no desenvolvimento da trama). E se torna interessante observar como a fita atinge seus maiores êxitos quando justamente deixa as limitações das fórmulas de lado e busca graça no improviso de texto através de um humor “escrachado” ou mesmo escatológico.
O principal responsável por esses flashes de qualidade em “A Ressaca” tem nome e sobrenome: Rob Corddry. Por meio de seu hilário Lou, um personagem que sabe como aproveitar as circunstâncias a qual foi submetido, o ator brinca e conquista o público com sua falta de noção, podendo ser comparado, nas devidas proporções, com o Alan (Zach Galifianakis) de “Se Beber não Case” (cuja semelhança com este filme está apenas no título). Por outro lado, John Cusack, Craig Robinson e Clark Duke não dizem a que veio, prejudicados por um roteiro sem criatividade.
A direção lenta e nada inspirada de Steve Pink (“Os Queridinhos da América”) contribui ainda mais para o fracasso do filme, rendendo momentos vergonhosos. A sequência em que os três amigos percebem, em frente a um espelho, que seus reflexos estão um pouco modificados é o auge do mal gosto do cineasta (com uma clara contribuição dos roteiristas). E se em alguns momentos pensamos que Pink vai utilizar a ótima seleção de músicas oitentistas a seu favor, logo percebemos que tudo não passou de um lapso.
Com um final pra lá de clichê, “A Ressaca” é um emaranhado de situações sem graça e esquecíveis logo após a projeção. Permanecer uma hora e meia assistindo a um filme que tem como uma de suas principais piadas o mistério sobre o braço de um atendente de hotel não é das coisas mais agradáveis. E depois de tudo ainda perceber que a melhor cena do filme é exibida durante os créditos finais é o maior dos cúmulos. Poucas vezes viagens no tempo foram tão desempolgantes.