Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 11 de setembro de 2010

Amor à Distância

Elenco afiado e edição arrojada garantem agilidade e bom humor à melhor comédia romântica do ano.

Drew Barrymore e Justin Long transbordam química. Não importa se parte de uma estratégia de marketing da New Line Cinema, o fato é que nas telonas o casal funciona tão bem quanto na vida real. “Amor à Distância” é a prova disso.

Em meio ao excesso de comédias românticas descartáveis lançadas todos os anos, é sempre agradável se surpreender com os atributos de alguns produtos que fogem à regra e exibem uma qualidade indiscutível. Partindo da direção firme e de uma edição original, com a ajuda de um casal protagonista que não poderia dar errado e um competente elenco de apoio, “Amor à Distância” tem o mérito de conseguir divertir sem soar como afronta ao intelecto do público. Adicione à lista de êxitos um roteiro de situações bem construídas, humor ágil e uma trilha sonora que te faz tamborilar com os dedos na perna.

Com tais qualidades, nem um argumento meia-boca é capaz de comprometer o desempenho do filme. A história do casal que se conhece às vésperas de uma iminente separação é de uso comum pelas produções do gênero. Tentativas de namoro à distância também existem aos montes. O grande problema é que a maioria delas se perde na disposição dos elementos comédia/romance na narrativa: se nas cenas iniciais os primeiros encontros do casal transbordam bom humor, o segundo ato é marcado por um melodrama barato, na tentativa de garantir mais sentimento à dor da separação e à emoção do reencontro.

Felizmente este longa soube compensar o amadorismo de seu argumento com um roteiro bem elaborado. No texto de Geoff LaTulippe não existe espaço para a construção de um romance sem humor ou vice-versa. Tudo é trabalhado para que em nenhum momento o público esqueça que está diante de uma comédia romântica. Em outros filmes, a indefinição de um gênero predominante pode comprometer o resultado final da produção, mas aqui esse equilíbrio é responsável por seu êxito.

E nas mãos da diretora Nanette Burstein o script assume uma forma leve, despretensiosa e minimalista, coroada com uma edição e montagem arrojada e de bom gosto. O convencionalismo dos movimentos bem dosados de câmera casa com recursos menos usuais, como a divisão da tela em dois espaços e a representação em forma de pop-up do display dos celulares, durante a troca de mensagens entre o casal.

Em meio ao rol de êxitos, Barrymore e Long são os grandes trunfos do filme. É inegável a sintonia que se desenvolve entre os dois em qualquer tipo de sequência. Seja enquanto gritam uma lista impublicável de xingamentos, enquanto fazem você-sabe-o-quê na mesa da cozinha ou quando tomam as decisões mais importantes da relação, o casal parece tão à vontade que é difícil perceber que estamos diante de uma ficção.

O elenco de apoio, cujos núcleos específicos dariam outros bons filmes, também merece destaque. Os melhores amigos do personagem de Long, vividos pelos atores Charlie Day e Jason Sudeikis (mais conhecido por seu trabalho no tradicional “Saturday Night Live”) garantem boas risadas com diálogos surreais e situações constrangedoras. A excelente Christina Applegate, da série “Samantha Who?”, está impagável como a irmã da protagonista, e sua teoria sobre o poder da “esfregação” é hilária.

Para embalar o competente trabalho do time de atores a trilha sonora não podia ser diferente. As músicas do The Cure, The Pretenders e Weezer encaixam bem com a proposta do roteiro e a jovialidade das atuações. Agora é esperar pelo lançamento do CD com as canções.

Com tantos pontos positivos, é impossível não se envolver pela atmosfera hilariante de “Amor à Distância”, o típico filme que eleva a classificação do gênero comédia romântica para alguns pontos acima do habitual. Se não gostar do que viu, ao menos duas constatações valerão o preço do ingresso: cultivar seu bigode pode ter resultados surpreendentes e uma “esfregação” pode não ser muito bem-vinda na mesa de jantar.

Jader Santana
@

Compartilhe

Saiba mais sobre