Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 11 de setembro de 2010

Solomon Kane – O Caçador de Demônios

Apesar de o personagem-título ter décadas de existência, o filme não mostra um pingo de originalidade, afundando mais um herói de Robert E. Howard no cinema.

Sou fã de Conan e, por consequência, admirador de longa data do trabalho do escritor americano Robert E. Howard. No entanto, com exceção do primeiro longa do bárbaro cimeriano, as transposições restantes de suas obras para o cinema costumam fazer os fãs quererem levar os envolvidos em tais produções para um passeio nada agradável na era medieval. E, infelizmente, este “Solomon Kane – O Caçador de Demônios” não é uma exceção.

O longa, a despeito de não ser um insulto velado à memória de Howard, como fora o terrível  “Kull – O Conquistador”, é muito fraco. A história se passa na Idade Média e segue Solomon Kane (James Purefoy), filho deserdado de um grande nobre (Max Von Sydow), que se torna um soldado profissional, acostumado a cometer atrocidades por dinheiro. Kane renuncia à violência quando descobre que o inferno deseja a sua alma.

Após ser expulso de um monastério, Kane deve descobrir seu caminho no mundo. Acolhido por um gentil homem (Pete Postlethwaite), o guerreiro é obrigado a voltar ao caminho da espada quando a bela filha de seu benfeitor, Meredith (Rachel Hurd-Wood), é sequestrada pelos capangas do feiticeiro Malachi (Jason Flemyng), que deseja, é claro, dominar o mundo, com a ajuda de forças demoníacas.

O grande problema do filme, escrito e dirigido pelo desconhecido Michael J. Bassett, é o seu roteiro, que simplesmente desperdiça o bom elenco  com frases de efeito, situações previsíveis e uma geral falta de desenvolvimento dos personagens. O texto parece querer abarcar uma trama maior do que pode suportar e tudo parece apressado, forçado ou óbvio demais, com as situações jamais ocorrendo de forma orgânica, vide a saída de Solomon do monastério, apressada e quase sem razão.

Todo bom roteiro consegue expor ao público não só o seu protagonista, como também os antagonistas. Kane é o único em tela que tem sua motivação e personalidade exploradas, com o público apenas conhecendo o “grande vilão” do filme faltando 10 minutos para o final da projeção! Encarnado por Jason Flemyng, jamais sabemos nada sobre a persona de Malachi ou chegamos realmente a temê-lo, até porque, até os derradeiros momentos do longa, não o tínhamos visto!

O pior é que fica claro para a audiência que os atores estão realmente tentando fazer um bom trabalho. James Purefoy já provou com seu Marco Antônio na telessérie “Roma” que é capaz de compor um personagem forte e complexo, mas quando a única coisa que sai da sua boca são frases feitas, fica impossível trabalhar.

Pete Postlethwaite faz milagres com o seu William, dando alguma profundidade ao personagem. Rachel Hurd-Wood, coitada, só aparece em cena para se tornar o macguffin do filme e gritar desesperada por Solomon. Chega a doer ver o grande Max Von Sydow em uma quase-ponta como o pai de Kane, reduzido a declamar diálogos expositivos para pagar o aluguel.

O visual da produção, a despeito de ser meio genérico, principalmente em sua cinematografia, não incomoda tanto, com Bassett se saindo um pouco melhor como diretor do que como roteirista. Algumas sequências mostram certo potencial, mas são seguidas por outras que ultrapassam a barreira do brega, como a de Solomon escapando de uma cruz, na qual o cineasta usa uma câmera lenta que fará algumas pessoas rirem nas salas de cinema.

Se mostrando ineficaz em sua narrativa, “Solomon Kane – O Caçador de Demônios” é ineficaz até mesmo como aventura escapista, até mesmo pelo peso de seu pano de fundo semi-religioso, sendo mais um desapontamento para os fãs das obras de Robert E. Howard. Uma pena, de fato.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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