Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 11 de setembro de 2010

Solomon Kane – O Caçador de Demônios

O filme é baseado no herói dos quadrinhos criado pelo escritor texano Robert Ervin Howard, autor do personagem “Conan”, também levado ao cinema.

No século XVI, Solomon Kane é um líder impiedoso daqueles que não deixa passar ninguém vivo. Ele traz consigo traumas do passado que perturbam seus pensamentos e o direciona a ser o que é. Quando tenta mudar e ser um homem que prega a paz, o destino faz com que ele repense suas atitudes, o que o deixa mais perturbado ainda. Com isso, tem-se um entrelaçado debate religioso, com a tentativa de um fundo moralista que, por sua vez, não surte nenhum efeito relevante. Assim é o longa, cheio de reviravoltas que nada acrescentam e que só confundem a cabeça do espectador.

O fundo religioso da obra traz um ambiente de criaturas demoníacas em que a fé é colocada em dúvida pela dicotomia entre o bem e o mal, em matar e não matar, não convence pela própria condição fantasiosa da história. A tentativa de ligação de personagens históricos confunde-se com o amadorismo ao tratar do tema de forma tão clichê. Basta escutar a voz de uma das criaturas demoníacas que é impossível de se ter a quantidade de vezes em que ela foi utilizada no cinema. Um outro fator “clichê” utilizado é o personagem principal inatingível. Chega um momento em que surgem milhares de criaturas demoníacas e o espectador já não aguenta mais ver o herói matando todo mundo.

A direção e o roteiro é de Michael J. Bassett, que chegou sem nenhuma grande obra no histórico profissional e saiu da mesma forma. No comando do longa, ele não diz a que veio e se perde na obra, assim como sua história. O que dizer das cenas de lutas em que a coreografia é nítida aos olhos do público? E para não dizer que nada agradou, a cena em que a câmera caminha sobre todo o cenário, explorando a sua produção sem qualquer corte, foi de extremo bom gosto. Pena que os acertos perdem-se em meio a tanta confusão. E se na direção ele deixou a desejar, no roteiro ele conseguiu ser pior. Além do festival de clichês jogados em cena, seu roteiro ainda traz desfechos que impressionam por tamanho amadorismo e previsibilidade.

Os efeitos visuais poderiam ter salvado a história se a mesma tivesse deixado, já que eles entram de forma bem forçada e estranha. Os personagens passam boa parte do tempo lutando até que surgem demônios e os levam para dentro de um espelho. É como se anulasse a cena seguinte em que se exigiu uma realidade natural, institiva. Assim, os efeitos, ainda que belos, surgem de todos os cantos a qualquer hora de forma confusa e inesperada.

Quem vive o herói que está mais para anti-herói no longa é o ator James Purefoy e ele até que faz um bom trabalho. Embora não seja nenhum galã, o ator inglês consegue explorar a verdade que o personagem exige, seja no conflito interno, seja nas cenas de ação, seja na hora de demonstrar liderança. O problema é que o seu personagem é muito semelhante a outros do cinema como “Van Helsing”, com Hugh Jackman, e fica difícil deixar de associar um a outro. Outro personagem que Solomon se assemelha principalmente pela temática é o de Keanu Reeves em “Constantine”.

Como entretenimento descomprometido, o filme pode até funcionar, muito pela viagem que o longa faz por universos obscuros e mágicos que mais parecem ter saído de um pesadelo. O componente visual é fantástico. A cena em que ele entra na escuridão repleta de criaturas demoníacas é bem relevante na medida que mexe com o imaginário principalmente dos sonhos, o que destaca mais ainda a fotografia do longa que não apenas funciona, mas também impressiona por sua beleza.

A temática religiosa de fundo, os efeitos visuais forçados, o personagem sem atrativos, as reviravoltas do roteiro, as cenas de ação, quase nada entra em sintonia e, consequentemente, não funcionam. A impressão que o filme deixa é que foi costurado com retalhos de outros do gênero. Assim, fica difícil fugir do resultado desastroso e da sensação de que aquilo já foi visto antes.

Marcus Vinicius
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