Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Alguns Motivos Para Não se Apaixonar

Apesar dos clichês, esta comédia argentina é divertida.

A montagem inicial de “Alguns Motivos Para Não se Apaixonar”, dirigido por Mariano Mucci e escrito por María Laura Gargarella, ajuda a compreender um pouco da vida de Clara (Cid) e Teo (Marrale). Ela, por exemplo, é completamente desajeitada, sempre chega atrasada no trabalho e não acredita mais no amor. Enquanto que ele, bem mais velho, leva uma vida mórbida e já sem muitas expectativas para surpresas. Mas, na realidade, eles passarão a ser surpreendidos por aquelas coisas que eles já não acreditavam mais, estabelecendo, assim, um laço amoroso que surge como algo improvável (pela diferença de idade), mas que os inspira em suas respectivas vidas.

Uma das coisas que me fizeram ficar apaixonado pelo cinema argentino (e não, ele não me deu motivos para não me apaixonar) é o fato dos seus diretores conseguirem ter uma linguagem diferente daquela que é apresentada no nosso cinema. E são muitas as diferenças que corroboram com esta afirmação. Afinal de contas, o modo de produção de um e do outro é completamente diferente, ao passo que os argentinos conseguem lidar muito melhor com a diversidade de temas. E isso acontece exatamente ao contrário do nosso cinema, que continua se arriscando em retratar as favelas e a violência do país. Temas que, diga-se de passagem, já estão saturados.

Quando dizem que os argentinos fazem o cinema que refletem suas realidades, pode ser comprovado na filmografia dos seus diretores. E isso se deu quando o país passou pela ditadura e pela crise econômica, temas estes que se tornaram recorrentes. Em contrapartida, os filmes também sabiam mostrar o poder das relações humanas e é exatamente isso que vemos nesta obra em questão.

Logo no início, aliás, o diretor Mariano Mucci utiliza uma edição inteligente para demonstrar o porquê de Clara não mais acreditar nos relacionamentos amorosos. De maneira rápida, o diretor passeia pelos términos, pelas desconfianças, pelas desilusões e pelos medos da sua personagem.

Em seguida, é interessante observar como a narrativa se torna mais lenta para apresentar Teo, principalmente porque Mucci aposta em planos estáticos e enquadramentos mais demorados, ao contrário da edição frenética que se via anteriormente. Isso tudo surge como elemento narrativo para explicar o impacto que cada um terá na vida do outro. Clara dará mais mobilidade na vida de Teo, enquanto ele servirá como esperança na vida dela. É em meio disso tudo, criando regras de convivência a partir do momento em que se encontram e passam a morar juntos durante cinco dias, que surge o amor entre eles (mesmo Teo sabendo que a diferença de idade poderia ser um empecilho).

É claro que surgem algumas imperfeições no filme de Mariano Mucci, principalmente na primeira metade do filme quando o casal não consegue atuar com naturalidade, por mais que eles se esforcem nesse sentido. Além disso, o diretor argentino ainda abusa de algumas situações que parecem ser engraçadas quando, na realidade, são extremamente embaraçadoras.

Algumas cenas de convivência são extremamente forçadas, mas o filme consegue mudar isso a partir do momento em que passa a apostar ainda mais no romance entre eles. Sem contar que, por alguns instantes, Mariano Mucci parece não conseguir resolver a situação de Teo quanto ao seu relacionamento passado. Mesmo isso ficando até o final, não surge como algo comprometedor.

Para preencher o filme com outras situações, Mucci também mostra as rotinas dos dois e, principalmente, as suas paixões. Clara, por exemplo, é fissurada por cozinhar. Já Teo, um artista plástico que coleciona desenhos que nunca tomaram forma (talvez por algum medo de julgamento das pessoas). O mais importante do longa-metragem é notar o quanto eles foram importantes um para o outro nesse sentido. Acredito que esta é a beleza do amor, por isso acabo julgando de maneira negativa os casais que terminam e, simplesmente, dão as costas um para o outro. Ora, quer dizer que agora aquela pessoa que você disse ter amado não é mais importante?

Com isso, o cinema argentino mais uma vez se consolida no mercado (inclusive atingindo um público cada vez maior). “Alguns Motivos Para Não se Apaixonar” é uma comédia deliciosa que, mesmo apresentando alguns clichês do gênero, se segura por conta de uma narrativa que brinca com o ágil e o mórbido, em uma pura representatividade dos seus personagens. Alternando esta linguagem, o longa encerra a história de uma maneira emocionante, sob a ótica da qual o amor merece ser visto e contemplado. Por mais que tente apresentar motivos para não se apaixonar, ele logo subverte e passa a narrar o quanto é apaixonante amar alguém.

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