Uma continuação patética, que resolve de modo ridículo os segredos interessantes do filme original, sendo desenvolvida de modo idiota e com personagens chatos e imbecis, incluindo um retorno absurdo. É uma pena, mas não estou falando de “Highlander 2”...
Quando o longa espanhol “[REC]” foi lançado, foi algo surpreendente. Com uma narrativa em primeira pessoa, através de uma câmera de reportagem, e contando com personagens interessantes e bem desenvolvidos, mergulhamos fundo no terror apresentado no filme e nos importamos com os dramas e com o destino de cada uma daquelas pessoas, presas em um prédio em quarentena repleto de “zumbis”, vítimas de uma infecção desconhecida.
Infelizmente para os fãs, nesta continuação intitulada “REC 2 – Possuídos” todas essas qualidades vão pelo ralo. Ambientado poucos minutos após o forte final do primeiro filme, o longa (não) nos apresenta a uma equipe de soldados que tem a missão de resgatar quaisquer sobreviventes no prédio infectado. Ao grupo se junta um médico estrangeiro, Dr. Owen (Jonathan Mellor) que guarda importantes segredos sobre a natureza da infecção.
Em paralelo, acompanhamos três jovens que entram no prédio lacrado seguindo dois homens com laços com os personagens do filme anterior, um bombeiro em busca de seus companheiros e um pai tentando salvar sua família.
Durante a primeira parte da trama, esta nos é mostrada quase como um videogame de tiro em primeira pessoa, enquanto acompanhamos aqueles soldados em sua missão. O problema é que, com exceção de uma curtíssima cena na qual aqueles homens discutem banalidades, simplesmente não sabemos quem são essas pessoas e o filme não nos dá nenhum motivo para nos preocuparmos com eles, já que seus atores crêem que desenvolvimento de personagens se resume a gritar uns com os outros.
Além disso, teoricamente falando, aqueles homens são soldados profissionais treinados, mas não dão o menor sinal disso. Indisciplinados em excesso, não conseguem nem ao menos atirar nos inimigos corretamente ou cumprir ordens simples. Não falo de contradizer um superior aqui ou acolá, estou falando de imbecis que insistem em metralhar o corpo dos inimigos com exceção da cabeça, local onde eles foram ORDENADOS a mirar!
A outra metade da narrativa também não ajuda. Os três garotos que surgem no meio do filme estão entre as criaturas mais estúpidas que já vi em qualquer filme, e isso inclui as “comédias” comandadas pelos irmãos Wayans e as caricaturas em longas no estilo “Deu a Louca em Hollywood”. Sério, que tipo de pessoa iria querer entrar em um prédio em quarentena para “se divertir”?
O trio de atores que vivem os adolescentes são canastrões além do limite suportável, com a garota do grupo, vivida por Andrea Ros, sendo a única com meio neurônio ali, mas todos são uniformemente sem carisma. O pai e o bombeiro, que deveriam fazer a ligação entre os dois filmes, são tão explorados pelo filme quanto um guarda-chuva em um dia de sol!
Outro problema enorme do roteiro é a “origem” dada para a infecção, explicitada logo de cara pelo subtítulo nacional. Uma possessão demoníaca que se transforma em uma infecção é uma das coisas mais ridículas desde a força com midi-chlorians em “Star Wars –Episódio I: A Ameaça Fantasma” ou os aliens imortais de “Highlander 2”.
Não podemos deixar de fora o “demônio”, que mais parece um falo e, em dado momento da projeção, entra pela boca de uma personagem feminina, com esta parecendo sentir prazer com aquilo. Há uma diferença entre subtexto sexual e mau-gosto, uma linha que foi cruzada pelos cineastas em questão até virar um ponto.
Jaume Balagueró e Paco Plaza, também diretores e roteiristas do primeiro filme, tinham uma boa oportunidade de criar uma narrativa intrigante, com as câmeras nos capacetes dos soldados e o recurso de picture-in-picture, principalmente com o ataque dos zumbis. E, em dados pontos do filme, este parece com uma mistura de “Resident Evil” e “Doom”, algo bem interessante para qualquer gamer.
A questão é que, ao contrário de um game, no qual você “encarna” um personagem, aqui estamos vendo outra pessoa jogar e o roteiro não nos dá nenhum bom motivo ligar se algum daqueles homens vive ou morre. Outro problema é o excesso de tremidos durante toda a projeção, tornando os ataques dos zumbis (ou possuídos, como queiram) incompreensíveis em dados momentos.
Mesmo com tais defeitos, a cinematografia é um dos poucos pontos da produção que realmente se salva, sendo responsabilidade, assim como no original, de Pablo Rosso. Os outros pontos positivos são a direção de arte da película, que recria muito bem os ambientes do original, e a efetiva maquiagem, que não deixa nada a dever em relação a nenhuma produção hollywoodiana.
Dando mais raiva que tensão, o único momento deste “REC 2 – Possuídos” que me deixou com medo foi o final com o gancho para uma terceira parte. Se a trama seguir essa linha narrativa, isto enterraria minhas esperanças para esta franquia, que começou tão bem. Decepcionante.