Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 01 de setembro de 2010

Nosso Lar

Apesar da boa produção, o longa é desinteressante.

“Nosso Lar” envolve uma questão de Fé que vai muito além de apenas assistir ao filme. Falando por mim, não acredito na Vida após a Morte. Para se envolver no roteiro escrito por Wagner de Assis, baseado em livro psicografado por Chico Xavier, precisa exatamente desta Fé na relação da vida material com a vida espiritual. Porém, dá para ver realmente os esforços de Wagner de Assis em fazer um filme que não pudesse ser voltado apenas para os espíritas, mas também para um público de uma maneira geral. Ele se esforçou, mas acredito que não tenha alcançado o resultado satisfatório.

André Luiz (Prieto) é um médico renomado e que sempre deu muito mais importância ao trabalho do que para a família. Em um certo dia, ele morre por conta de uma doença e acorda na umbra (uma espécie de limbo ou purgatório). Os primeiros defeitos de “Nosso Lar” começam a ser apresentados logo nestas primeiras cenas, quando Wagner de Assis dá a impressão de que está fazendo um filme de terror, colocando uma trilha bastante pesada, tendo focos bruscos nos “rostos desfigurados” dos seres humanos que estavam ali por conta das suas personalidades quando estavam “presos” à matéria.

Não há como precisar o período que André Luiz fica preso naquele mundo, mas depois ele é “salvo” e “levado” para um outro plano onde as pessoas vivem como uma verdadeira comunidade, existindo leis, governantes e organização. André Luiz, obviamente, acorda cheio de perguntas. Mas, antes mesmo de começar a respondê-las, as pessoas que cuidavam dele parecem ter algum poder de cura que conseguem adquirir naquele mundo. A partir daí, o filme se desenrola (ou se enrola) com algumas questões que beiram demais o que costumo chamar de “brega”.

Pra começar, o “poder verde” que sai das mãos das pessoas que viviam no “nosso lar” se encaixa nesta terrível definição. O visual também imposto pela fotografia de Ueli Steiger ajuda a retratar a desagradável experiência que é assistir ao filme nos cinemas. Sem contar que os figurinos, com todos vestindo as mesmas roupas naquele branco que mais parece comercial de sabonete em pó, também cai no velho clichê que vemos em diversas novelas (e em outros filmes) em relação ao modo como as pessoas se vestem. A única personagem que usa uma roupa diferente é Eloisa (Mulholland). E será que isso acontecia porque ela ainda não estava pronta para aceitar aquele mundo espiritual no qual ela estava?

Analisando os aspectos cinematográficos do filme, dá para dizer que a obra não soa interessante. Pelo contrário, ela se torna bastante cansativa. O próprio André Luiz, protagonista da história, acorda com uma série de perguntas. Sem muito tempo para desenvolver todas aquelas indagações da personagem, Wagner de Assis pula os estágios e o faz compreender todas aquelas dúvidas que outrora faziam parte da sua mente de uma maneira muito rápida. Os diálogos, aliás, não fluem com naturalidade. Parecem ter sido escritos com o objetivo de serem declamados, como se o filme fosse uma peça teatral. E é uma pena que as palavras ditas pelos atores (até a própria narração) dêem a impressão de estarem vagas no espaço (ou no plano espiritual).

O longa pode causar efeitos em quem acredita nesta doutrina mas, ainda assim, acredito que tem um visual que vai muito além da realidade. Independente da religião ou do fato de acreditar ou não, o espírito de André Luiz não consegue causar envolvimento. A sua história é tão vaga e mal desenvolvida que, em nenhum momento da produção, é possível se interessar pela sua trajetória em querer rever a família e de ser uma pessoa melhor naquele plano em que ele estava. “Nosso Lar” tem uma mensagem positiva nesse sentido, de imaginar que existe uma vida após a morte, de que as pessoas podem conseguir se reencarnar depois de um período e, a partir dali, ter uma outra experiência.

A trilha de Phillip Glass, que é um dos elementos que se salvam nesta obra de Wagner de Assis, é extremamente bonita se ouvida fora do filme. Dentro da sua narrativa, ela está completamente mal inserida. Em alguns momentos, Glass adota claramente um tom mais rápido tentando manter um certo suspense ou criando uma ação para a história que é mórbida e lenta. No entanto, Wagner de Assis não consegue controlar a sua trama – apesar da sua tentativa em querer fazer algo bom.

Com uma boa produção, o longa não consegue fugir daquele mesmo visual apresentado por novelas como “A Viagem” e a recente “Escrito Nas Estrelas”. Porque, no final, “Nosso Lar” não passa de uma novela disfarçada de filme.

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