Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 08 de agosto de 2010

400 Contra 1 – A História do Comando Vermelho

O filme em destaque pode até ser classificado como mais uma obra do cinema nacional que retrata uma violência cada vez mais recorrente nas obras do país, mas ele tem seus méritos e sua verdade é um deles.

Baseada no livro autobiográfico de William da Silva Lima, a obra nacional da vez mostra o surgimento da organização criminosa Comando Vermelho, nos anos 70, liderada por William da Silva Lima (Daniel de Oliveira), durante a ditadura militar, e mostra também como a convivência entre presos políticos e comuns conseguiu transformar a violência do país em uma força organizada e treinada. Tudo isso acontece no presídio da Ilha Grande, no Rio de Janeiro, um lugar que se dependesse dos filmes nacionais seria dominado pela criminalidade, onde as pessoas não fazem outra coisa da vida a não ser pensar na violência.

O longa marca a estreia de Caco Souza na direção de um longa-metragem de ficção, após experiência em curtas-metragens e documentários. O cineasta poderia ter dado um gás novo a um olhar tão desgastado do formato nacional, principalmente nas obras desse gênero, mas tal esperança não acontece e o diretor acaba caindo na mesmice de sempre. Vale ressaltar que o roteiro de Victor Navas e Julio Ludemi também não ajuda. Assim, fica difícil fugir desse modelo pré-estabelecido.

Daniel de Oliveira interpreta o líder e pivô da organização e também o grande nome da obra. O trabalho do ator, que inclui “Zuzu Angel” e “Cazuza- O Tempo Não Pára”, agrada por demonstrar segurança e talento puro. A verdade que o William da Silva passa é um dos poucos atrativos do longa. Daniela Escobar, que teve que engordar para interpretar a personagem Tereza, também consegue ser eficiente.

A trilha sonora é de Max de Castro, que mostrou bem a cara da Black Music Nacional e sua batida eletrizante, algo que caiu muito bem com as cenas do Comando Vermelho. Percebe-se um bom trabalho feito por Max, sobretudo em tentar fugir do comum. A caracterização também funciona. Ela consegue traduzir a época em que a obra se passa. A montagem sofre para acompanhar o ritmo da obra repleta de flashbacks que mais confundem do que explicam.

O desenvolvimento da obra tem seus méritos. É interessante ver que a trama não trata seus personagens como figurantes que morrerão em algum tiroteio. Eles são mais do que isso. Eles têm força e identidade. O filme tem uma complexidade peculiar que é trabalhada de forma sutil, mas marcante. É interessante ver também que no fim dos seus 90 minutos de duração, o longa deixa uma boa impressão. Algumas filosofias pregadas pelo Comando Vermelho mais parecem fruto de um individualismo oportunista.

O cinema nacional está precisando urgentemente de obras que se não tratem de outro assunto, pelo menos, não aborde a violência de uma forma cada vez mais forçada a ponto de soar caricata. Entre méritos e falhas, o longa acerta nas boas atuações que dão verdade a sua filosofia.

Marcus Vinicius
@

Compartilhe

Saiba mais sobre