Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Os Mercenários (2010): um filme pífio e muito sem graça

Sylvester Stallone reúne em elenco de brucutus para trazer a aura dos filmes de ação dos anos 1980 de volta aos holofotes. O resultado é um filme que já nasceu datado e que só se sustenta pela curiosidade de ver tantos “astros” de ação juntos.

A despeito de ter detonado o Brasil e dado o calote em uma produtora nacional, para o bem e para o mal, Sylvester Stallone faz parte da história do cinema. Mais precisamente da história dos filmes de ação dos anos 80. Ele, juntamente com Arnold Schwarzenegger, por exemplo, ajudou a definir um tipo de cinema bastante popular na época e que não fugia às suas próprias regras: heróis solitários, quase exércitos de um homem só, geralmente traumatizados e prontos para dilacerar os inimigos, com facas, armas de fogo ou o que mais estivesse à mão.

Stallone criou um ícone seguindo essa fórmula (Rambo), e Schwarzenegger a levou adiante (“Comando para Matar”). Entre eles, uma série de heróis coadjuvantes que protagonizaram filmes menores, mas fiéis ao gênero: Jean-Claude Van Damme, Steven Seagal, Dolph Lundgren etc. Em tempos de Guerra Fria, os inimigos eram os comunistas e os países ditatoriais, e esses heróis viraram símbolos da Era Ronald Reagan.

O tempo, porém, passou. Reagan e a Guerra Fria viraram coisa do passado. O politicamente correto começou a tomar conta do cinema. E esse tipo de filme perdeu força para um cinema de ação menos viril e mais apoiado em efeitos especiais, com heróis mais humanos e frágeis e com a violência gratuita substituída por um tom humorado. Stallone e seus comparsas não apenas envelheceram como ficaram datados e perderam seu lugar no Olimpo dos heróis da sétima arte, hoje ocupado pelos personagens vindo dos quadrinhos.

Ciente de suas limitações e consciente de que sua imagem está atrelada demais a esse tipo de personagem, Stallone ressuscitou Rambo e, agora, reúne parte dessa galera do passado no derivativo “Os Mercenários”, filme que tenta emular os áureos tempos de quando ele ainda era um astro de verdade. Reside aí um dos problemas do longa. Ao mesmo tempo que tenta homenagear o datado cinema de ação oitentista, a produção se vale de alguns elementos contemporâneos para dar uma cara de atualidade à trama. A falha é que Stallone, protagonista, diretor e roteirista do longa, pega o que havia de pior dos filmes daquela época e mistura com o que, raramente, funciona hoje.

A trama é simples, básica e sem a menor vergonha de abraçar o clichê. Um grupo de mercenários parrudos é contratado por ninguém menos que Bruce Willis para “salvar” uma ilhota na América Latina que está sendo dizimada por um ditador. A desculpa comunista é substituída pelo tráfico de cocaína. A princípio, o bando liderado por Stallone na companhia de Jet Li e Jason Statham (tentando atrair um público mais jovem), desiste da missão por achá-la impossível. Mas eis que Stallone cruza com nossa Giselle Itié, filha do ditador disposta a morrer por sua ilhota, e os heróis decidem mesmo salvar a pátria, mesmo colocando suas vidas em risco.

É esse plot cansado de guerra, já visto e revisto tantas vezes, que serve de base para “Os Mercenários” desfilar diálogos infames, piadinhas sem graça, balas e mais balas e sangue em profusão. Os amantes do cinema descerebrado dos anos 80 vão urrar com prazer vendo os braços cortados, os pescoços degolados e o sangue vermelho estourando na tela. Ainda mais porque Stallone filma as cenas de luta e as explosões com a mesma câmera epiléptica do cinema atual, abrindo espaço também para cenas em uma câmera lenta totalmente desnecessária.

Stallone, o diretor e roteirista, também não se contém e apela para um tom emocional que escorrega no piegas e não ajuda em nada no desenrolar do filme, característica de seus trabalhos. As cenas em que Jason Statham (quem se sai melhor no filme, na verdade) entra em conflito com a namorada não contribuem em nada para o longa. Mesma coisa com a ridícula cena em que Stallone pede conselhos a um sentimental Mickey Rourke.

O resultado é  um filme pífio no qual nem as coreografias, coqueluche nesse tipo de produção, apresentam nada de novo e se perdem em meio a cortes acelerados e um ritmo capenga. Sem funcionar apenas por seu apelo saudosista (as participações de Willis e Schwarzenegger são decepcionantes, e as ausências de Jean-Claude Van Damme e Steven Seagal são sentidas e, talvez, suas presenças ajudassem o filme nesse quesito), “Os Mercenários” bomba feio e, talvez, tivesse um apelo maior se adotasse um tom de sátira. Não é o caso. O longa pode até funcionar como uma diversão rasteira para os que curtem um cinema de macho no qual o que vale é a quantidade de testosterona exposta na tela. Mas datado como é, para o espectador “comum”, ele parece mais uma piada sem graça já contada à exaustão.

Fábio Freire
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