Dez anos depois de "O Colecionador de Ossos", Angelina Jolie e o diretor Phillip Noyce voltam a trabalhar juntos neste filme que, se não prima pela originalidade, se revela um longa de espionagem deveras eficaz.
Angelina Jolie tentou estabelecer sua imagem de heroína de ação com fitas como os dois “Lara Croft – Tomb Raider” e o filme de assalto “60 Segundos”, mas, a despeito de seu carisma, tais produções simplesmente não empolgavam muito. Daí veio romântica de ação “Sr. e Sra. Smith” e o eficiente “O Procurado” que finalmente cimentaram Jolie neste mundo tão masculino.
Depois das desastrosas adaptações de “Tomb Raider” para as telas, este “Salt” é a primeira vez que a atriz assume a posição de protagonista absoluta de uma fita de ação. Dirigido pelo australiano Phillip Noyce, é um filme de espionagem à moda antiga, contando até com uma boa e velha ameaça soviética, bem no viés dos filmes de Jack Ryan comandados pelo cineasta nos anos 1990.
Escrito por Kurt Wimmer (que cometeu os pavorosos “Código de Conduta” e “Ultravioleta”), o longa acompanha a agente da CIA Evelyn Salt (Jolie), uma espiã americana, casada e prestes a passar para o serviço burocrático que é acusada de ser uma agente infiltrada em uma conspiração soviética para matar o presidente russo em solo americano e desencadear a guerra para acabar com todas as guerras, sendo caçada por seus pares, incluindo seu melhor amigo, o agente Ted Winter (Liev Schreiber) e do implacável agente de contra-inteligência Peabody (Chiwetel Ejiofor).
E é só isso que pode ser dito sobre o filme sem entregar suas diversas viradas, que deixam o espectador interessado na trama. Aliás, um dos grandes méritos do filme é nos manter no escuro quanto aos pensamentos e intenções de sua protagonista.
Desde o início, quando o longa exibe seu letreiro inicial, o título nos é mostrado em duas fontes, uma mais comum e outra que nos remete diretamente ao construtivismo soviético. O roteiro de Wimmer tem essa interessante ideia de não jogar na cara do espectador quais são as verdadeiras intenções de Salt, nos colocando na posição de torcer por uma protagonista que pode, de fato, ser a vilã do filme.
É nisso que esta fita se diferencia de outras como “O Fugitivo”, uma de suas inspirações mais óbvias, na qual sabemos desde logo da inocência de seu protagonista. Além disso, o fato de contar com atores de calibre como Liev Schreiber e Chiwetel Ejiofor como antagonistas da personagem de Jolie contribui para que fiquemos antenados nos dois lados da caçada.
As cenas de ação são retratadas pelas câmeras da produção de maneira bastante compreensível, qualidade rara hoje em dia. Na maioria das sequências, não há um emprego absurdo de computação gráfica, algo também espantoso. A única exceção é uma perseguição que ocorre no fosso de um elevador, na qual os efeitos digitais surgem tão óbvios que chegam a doer nos olhos, se tratando (ainda bem) de uma exceção.
Angelina Jolie está bela e dúbia na fita, sendo uma perfeita heroína do gênero. Se o filme consegue convencer em suas diversas ambiguidades é justamente por conta de Jolie, que nos deixa atordoados com suas declarações desesperadas de inocência, ao mesmo tempo em que seus atos apontam para uma direção completamente oposta.
Vale ressaltar que, como todo filme de ação estrelado por mulheres, temos um certo apelo fetichista, algo escancarado pela cena em que Salt usa uma calcinha para cobrir uma câmera e pelo subsequente close nas pernas da protagonista quando esta se esconde dentro de um táxi. Não estou reclamando de um filme que explora a beleza de Angelina Jolie, mas meramente fazendo uma observação.
“Salt” pode não ser o mais original dos filmes, possuindo elementos do já citado “O Fugitivo”, muito da franquia “Bourne” e mais um bom bocado dos livros de Tom Clancy, mas é bastante divertido e pode dar margem para uma série razoável. E ver as pernas de Angelina Jolie chutando alguns traseiros também não atrapalha…