O filme dá vida nova a franquia iniciada em 1987, só que mesmo com um elenco de peso e boas escolhas, fica um gosto de “poderia ser melhor”.
Antes de tudo, preciso confessar que sou um grande fã da franquia “Predador”. Não o recente sacrilégio “Aliens vs. Predadores”, que conseguiu manchar a reputação do personagem, mas sim dos filmes de outrora, com Arnold Schwarzenegger e posteriormente Danny Glover. Aquilo era simplesmente incrível e marcou minha vida cinematográfica, por assim dizer. Creio que isso aconteceu com muitos garotos daquela época, quando se depararam com o ser mais fantástico e assassino de toda a galáxia (que Lobo me perdoe).
Bem, após a heresia “AVP” já comentada acima, foi com muita empolgação que fiquei sabendo que ninguém menos que Robert Rodriguez iria trazer o feioso “predator” de volta ao seu devido lugar: a tão adorada sanguinolência clássica da série, indispensável e irretocável. Logo em seguida descobri que Rodriguez seria apenas o produtor e roteirista, sendo que a direção ficaria a cargo de Nimród Antal. Certo receio me atingiu naquele momento, mas Antal tinha um bom filme no currículo (“Kontroll”) e outro meia-boca (“Temos Vagas”). Então vieram os nomes de peso: o pianista Adrien Brody, o Venom duvidoso Topher Grace, a sobrinha preferida Alice Braga e Morpheu, ou melhor, Laurence Fishburne. Novamente estava restaurada a confiança. E foi assim, confiante que eu fui assistir ao longa. Mas todos sabemos que quando as expectativas são elevadas, o descontentamento acaba sendo um caminho certo.
O filme começa sem firulas, com o personagem Royce (Brody) em queda livre. Ele está desacordado e quando recobra a consciência entra em pânico, pois para ele era novidade estar caindo das alturas. Seu paraquedas abre sozinho e logo que aterrissa faz novas “amizades”. Um barão do narcotráfico aqui, um condenado a morte ali, soldados vindos de todo o globo, estranhamente unidos nesta desconhecida selva tropical.
Logo eles descobrem que tudo não passa de um jogo e suas cabeças são troféus. Quem está caçando? Bem, isso vocês já sabem, e se não sabem, terão o prazer de descobrir: os “predadores”. Outras criaturas fazem parte da diversão e também são caçadas. Mas o grupo humano rifa caro suas peles e consegue dar trabalho para seus algozes. É então que aparece Noland (Fishburne), um veterano daquele planeta que já sobreviveu a várias temporadas de caça. Apesar de seu vasto conhecimento sobre o território, ele pouco ajuda Royce, que busca achar uma maneira de sair deste planeta hostil. A única forma aparente parece impossível: roubar a nave dos predadores.
O roteiro do filme é simplório, mas acaba sendo mais honesto do que o do primeiro longa de 87, que criou um conflito irrisório no meio da mata para servir de desculpa para jogar lá seus mercenários. Não, aqui é tudo bem direto. Todos estão ali por um único motivo: serem mortos. Fora isso, não há outras evoluções dentro da história. Apenas tentativas frustradas, como o envolvimento de Isabelle (Alice Braga) e Royce – que acaba sendo banal e pouco real, devido às condições em que se encontram -, ou os ensinamentos de Noland, que é incrivelmente cortado da história com apenas uma cena contundente.
Um ponto forte é o suspense. O diretor tomou a decisão mais correta de sua vida ao manter a trilha de Alan Silvestri com fidelidade, pois ela é um dos pontos mais altos de todos os filmes da série, com sua percussão inesquecível. Então, com uma trilha de qualidade inquestionável, Antal fez questão de criar o mesmo clima investigativo e elucidativo do primeiro filme e se saiu bem na missão. O temor pelo desconhecido é vívido, pois o poder de seus vilões é bem explorado, com suas visões de calor, suas repetições de falas das vítimas e sua camuflagem perturbadora.
Muita criatividade também na caracterização de seus personagens, principalmente dos predadores. Facilmente distinguíveis, cada um tem sua personalidade própria, que é representada em suas máscaras e armas. Outro quesito de qualidade é a matança, realizada com apuro e muita beleza (só para os sádicos). Todos os elementos obrigatórios estão lá: corpos escalpelados, homens que são transpassados por laminas vindas do nada, tiros de canhão de ombro acompanhados pela mira laser inconfundível, e claro, colunas vertebrais que balançam ao som de um urro assustador.
Já as atuações são duvidosas. Basicamente composto por caras desconhecidas, o elenco de apoio tem seus momentos, mas como o roteiro não ajuda muito, fica difícil dizer que eles se saíram bem. Adrien Brody também parece perdido com sua interpretação, que se resume em colocar para fora frases de efeito enquanto faz cara de mal. Já Alice Braga chama atenção. Sua personagem tem muita importância na trama e ela se sai bem como esta combatente com consciência moral que se arrepende de seu passado. Thoper Grace também se destaca. Sendo um dos engraçadinhos do filme, ele às vezes derrapa, mas no final a ambiguidade de seu personagem é um refresco para o longa. Laurence Fishburne, como já foi dito, tem poucas cenas como o ensandecido Noland, e de tão exagerado acaba agradando.
No final, “Predadores” é uma homenagem ao primeiro filme da série. Toda a ambientação e o clima, a história carregada de suspense e as atuações não tão brilhantes nos remetem em muito ao primeiro filme, com uma diferença apenas: O final é muito decepcionante. Interessados apenas em mostrar a plástica das cenas (realmente linda), o desfecho é completamente empurrado com a barriga, sem graça, sem atitude. Os defeitos de antigamente e todo seu estilo B são os motivos do status dos clássicos de hoje, infelizmente estes erros não têm espaço no cinema atual, apesar do próprio Rodriguez e também Tarantino mostrarem que existem sim exceções, mas este não foi o caso. Eu como fã daria tranquilamente mais uma estrela, talvez até duas, mas como crítico, fica assim mesmo.