Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 30 de junho de 2010

Eclipse (2010): a franquia acumula mais um desastre

No terceiro capítulo da... "saga", temos até algumas cenas de ação, mas as situações embaraçosas atingem um novo patamar.

Não há como fugir, “A Saga Crepúsculo – Eclipse” é um filme ruim. Não é tão desastroso quanto o primeiroCrepúsculo, mas chega bem perto. É incrível como o longa é truncado, sem ritmo e, por muitas vezes, tedioso e monótono. O pior é que este está sendo vendido como a fita que trará adrenalina para a série, algo que simplesmente não ocorre.

Qualquer esperança que alguém tinha de que o diretor David Slade (que vinha de dois bons filmes, “MeninaMá.com” e “30 Dias de Noite”) em trazer sangue novo para a franquia se perdem logo após a segunda cena. Após um início tenso, o longa volta para o lenga-lenga entre Edward (Robert Pattinson) e Bella (Kristen Stewart) e a velha discussão sobre ela virar ou não vampira.

O que ainda tenta dar um pouco de ânimo ao filme é o triângulo amoroso envolvendo o casal principal e o lobisomem Jacob (Taylor Lautner), com algumas cenas que realmente possuem algum investimento emocional, principalmente aquelas envolvendo só a garota e o jovem licantropo.

No entanto, TODA VEZ que Edward aparece em cena, qualquer química vai por água abaixo, já que Pattinson simplesmente não atua, mais parecendo um boneco de cera em frente às câmeras. Nas cenas envolvendo o trio, o galã britânico quase que desaparece em cena frente a Taylor Lautner que, mesmo não sendo um novo Warren Beatty, ao menos é carismático e acaba roubando o filme para si.

Sou capaz de jurar que em uma cena envolvendo Edward, Jacob e uma Bella desacordada, deram o roteiro de “O Segredo de Brokeback Mountain” para Pattinson ao invés do de “Eclipse”, pois só isso explica o clima homoerótico que ele parece querer colocar em seu diálogo com o rival!

Bella, aliás, está mais insuportável do que nunca. Além do irritante ar eternamente blasé que Kristen Stewart adotou para a protagonista desde a fita passada, as ações da personagem se resumem em suspirar por Edward, provocar suspiros em Jacob, aparentar indecisão em momentos difíceis ou tomar decisões estúpidas. Continuo achando que a queridinha de Forks possui sérios transtornos psicológicos e deve ir procurar tratamento profissional o mais rápido possível!

Qualquer outra plot mais interessante, como a ameaça de Victoria (Bryce Dallas Howard) ou até mesmo o próprio dilema de Bella perde força justamente por conta das inserções de Edward na trama. Devo dizer que o roteiro de Melissa Rosenberg é terrivelmente mal-costurado, enfiando sucessivas subtramas indiscriminadamente no texto, mais parecendo uma colcha de retalhos com diálogos cafonas do que uma narrativa coerente.

Existem “paradas” no meio da história principal que jamais interagem de maneira orgânica com ela e geralmente envolvem diálogos expositivos ou pequenas “origens” dos coadjuvantes, engasgando o ritmo da película e fazendo-a aparentar ser mais longa do que realmente é, defeito piorado pela terrível montagem do longa.

Aliás, como Jasper evoluiu de um vampiro ainda sedento de sangue no segundo filme para um mestre controlado em tão pouco tempo é um mistério. Por falar do filme passado, alguém aí lembra dos Volturi? Bom, enquanto no segundo filme eles só fizeram aparecer, aqui… eles também só surgem de maneira ameaçadora, matam alguém e… fim. Esse deve ter sido o cachê mais fácil da carreira de Dakota Fanning.

Já Bryce Dallas Howard paga o mico de sua vida como a vampira Victoria. Além da personagem não ter absolutamente nenhum desenvolvimento, ela simplesmente não convence como vilã (até porque o filme não lhe dá espaço) e surge substituindo uma atriz no papel de maneira absolutamente inexplicável e com uma peruca que faria as de Nicolas Cage serem os acessórios mais naturais do mundo.

David Slade até que realizou boas cenas de ação que, embora curtas, são intensas (na medida do possível), mas parece ter sido atropelado pelo nada sutil caminhão de conservadorismo que é a franquia baseada na obra de Stephanie Meyer, já que pouco ele pôde imprimir de original em matéria de enquadramentos, visual ou ritmo, tendo a obrigação de seguir a fórmula deixada por seus predecessores.

A dificuldade de montar o filme ficou óbvia, principalmente no primeiro ato. Repare na cena em que Jacob explica a ligação entre Sam e sua amada e veja como a montagem ali é truncada. A trilha sonora, seja a orquestrada por Howard Shore ou a de canções conhecidas selecionadas para o filme, acaba ficando em terceiro plano.

Assim, “A Saga Crepúsculo – Eclipse” só consegue se sair melhor que o primeiro filme por não ser uma produção semi-mambebe, com o dinheiro em efeitos visuais (realmente bons) e em uma direção de arte mais caprichada conseguindo tirar o filme do desastre e levando-o para o patamar de meramente constrangedor.

Invariavelmente essa fita vai fazer dinheiro, com sua continuação, “Amanhecer”, já tendo sido anunciada como um finale em duas partes. Será que existe a possibilidade desses dois últimos filmes redimirem essa franquia? Pessoalmente, eu duvido.

LEITURA COMPLEMENTAR
Crítica de Crepúsculo
Crítica de Lua Nova

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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