Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 26 de junho de 2010

Brilho de Uma Paixão

Ainda que o romance seja exageradamente doce e repleto de toques poéticos, a obra é interessante.

Londres, 1818. Uma história de amor acontece entre pessoas que enxergam a vida de forma diferente.  O jovem John Keats é vizinho de Fanny Brawne. Ele é poeta, ela é estudante de moda de opinião forte. Esses são dois pontos fundamentais para se analisar a obra. A diferença de personalidade entre os dois e seus respectivos interesses profissionais.  A primeira diferença só contribui para os artifícios melodramáticos do romance, que o deixará mais doce impossível. A segunda contribui muito para o aparato técnico com a utilização do ambiente da moda, responsável por dá ao filme uma indicação ao Oscar deste ano de melhor figurino.

A direção da neozelandesa Jane Campion (“O Piano”), que também é responsável pelo roteiro da obra, é bem competente à medida que não limita o alcance da obra. Ela aproveita a cena em seu potencial máximo. Tudo complementa. A paisagem encaixa-se perfeitamente com a linguagem poética bastante utilizada na obra. O figurino exalta o período e o contexto sócio-cultural do mesmo, além de contribuir para o romantismo. E se na direção Jane demonstrou uma boa mão, no roteiro ela deixou a desejar. É só observar as tantas cenas em que a linguagem poética é traduzida por meio de intermináveis poemas. Chega uma hora que até o mais romântico dos românticos cansa.

As atuações são interessantes. Abbie Cornish (“Elisabeth- A Era do Ouro”) consegue mostrar bem sua diferença de perspectiva entre início e o desfecho da obra. Essa transformação da personagem mostra que o roteiro, embora não tão bem adaptado, é bem fundamentado e agradável. Já Ben Whishaw (“Perfume- a história de um assassino”) traduz, dentro do seu possível, a perspectiva de um poeta envolto a uma situação em que mais perece tratar-se de uma de suas poesias. Ela vai descobrindo a poesia. Ele vai descobrindo os esforços da garota em ajudar o seu irmão mais novo. Outros personagens importantes são a mãe de Fanny feita por Kerry Fox, e Charles Brown feito por Paul Schneide, o melhor amigo de John.

Depois de “Em Carne Viva”, sua última obra de época, a diretora retoma o gênero e o faz de uma forma mais decente do que a última. Obras de época têm contas a prestar com todo o ambiente sócio-político-cultural do período e do local, no caso, a Inglaterra, o que acontece nesta obra. Tudo foi bem estudado e trabalhado. A obra atinge um equilíbrio técnico que só seria puxado para cima pelo belo figurino que rouba a cena.

O figurino tão elogiado da obra foi de responsabilidade de Janet Patterson, que já teve outras indicações por “Oscar e Lucinda”, em 1998, por “O Piano”, em 1994, e por “Retrato de uma Mulher”, em 1997. Aqui, seu trabalho mostra a Inglaterra do século XIX e suas tendências e cores brilhantes como o rosa choque utilizado por Fanny numa cena da obra. Um bom trabalho realizado por quem entende do assunto.

Durante as duas horas do longa, merecem destaque também a boa fotografia ajudada pela bela paisagem natural do país. A trilha sonora é simples, suave e eficiente, como quase tudo na obra. Destaque para as cenas do casal  apoiadas pela poesia que são um prato cheio para quem gosta de romance na telona. Uma obra açucarada ao extremo, repleta de toques poéticos e que tenta ser uma poesia para o cinema. Retirando os excessos, o filme funciona bem.

Marcus Vinicius
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