A conclusão da trilogia nos traz diversão, nostalgia e muita emoção, em uma das fitas mais tocantes já realizadas pelo estúdio (e, desde já, um dos melhores filmes de 2010).
Devo começar esse texto dizendo que não tinha muita fé em “Toy Story 3”. O filme passou por diversos “começos falsos”, chegou a entrar em pré-produção apenas pela Disney (heresia!) e finalmente caiu nas mãos do cineasta Lee Unkrich, co-diretor do segundo filme, com o criador da franquia e chefão da Pixar, John Lasseter, apenas como roteirista, escrevendo o texto ao lado de Michael Ardnt (“Pequena Miss Sunshine”). Felizmente, meus temores eram totalmente injustificados, com a fita se revelando, por incrível que pareça, como a melhor da série.
Após uma rápida montagem mostrando o crescimento de Andy, finalmente o temido dia dos brinquedos serem deixados de lado pelo rapaz chegou. Agora aos seus 17 anos, Andy está de partida para a faculdade. Woody e Buzz ainda são os líderes da gangue, que ficou bastante reduzida com o passar dos anos.
Prestes a serem levados para o sótão, por um engano da mãe de seu dono, a maioria dos brinquedos vai parar na creche Sunnyside onde, a despeito de sua aparência agradável e acolhedora, os toys locais são dominados com mão-de-ferro por um amargurado urso de pelúcia chamado Lotso. Enquanto isso, Woody acaba nas mãos de uma garotinha chamada Bonnie, enquanto tenta encontrar um modo de ajudar seus amigos.
Os fãs antigos da série irão notar toneladas de referências feitas aos filmes antigos, passando por coisas mínimas como uma caminhonete da marca **yo**, o Garra, a rede de pizzarias Pizza Planet, até coisas bem maiores como uma versão da brincadeira de Andy no começo do segundo filme, vista de dois pontos de vistas muito interessantes, Buzz pensando que é um patrulheiro espacial (piada recorrente na série, mas sempre de um modo diferente) e a claustrofobia e o medo do abandono de Jessie.
Mas não pense que “Toy Story 3” é uma mera reciclagem de ideias dos outros filmes da série. Conceitos novos são apresentados a cada momento (o olho perdido da Senhora Cabeça de Batata é genial) e os próprios brinquedos da Sunnyside e do quarto da Bonnie são interessantíssimos, destacando ainda o vilão Lotso, o capanga Bebezão (com a relação dos dois lembrando muito a de vilões da série “007” com seus segundos em comando), o porco-espinho de pelúcia Sr. Pricklepants e, é claro, o boneco Ken, que protagoniza cenas hilárias com e sem sua cara-metade Barbie.
O visual do longa é simplesmente soberbo, como é de se esperar de uma fita da Pixar. O mais interessante aqui (e que poderia render uma aula sobre o assunto) é como a Creche Sunnyside se transforma de um lugar agradável e esperançoso em um verdadeiro calabouço medieval sem nenhuma alteração “física” no lugar, apenas com mudanças nos enquadramentos de câmera e na fotografia. Esta, aliás, atinge momentos de genialidade durante o clímax desesperador da produção.
O roteiro de Michael Ardnt é primoroso, conseguindo não apenas propor situações interessantes a cada momento como também fechar todos os seus arcos narrativos, inclusive aqueles que o público nem percebeu sendo abertos (vide a deserção dos soldados). Sem contar que o filme se desenvolve em um crescendo magnífico, culminando em um terceiro ato eletrizante, que não deixa nada a desejar a nenhum filme de suspense e finalizando de um modo que se torna difícil para qualquer um que acompanhou a saga dos brinquedos de Andy segurar as lágrimas.
A forma como o texto se desenvolve é acompanhada pela montagem do filme, que acelera à medida que a história se aproxima do seu ápice, mas sempre em uma velocidade perfeita para o espectador apreciar a viagem. A trilha sonora de Randy Newman é ótima, também trabalhando com diversas referências aos longas anteriores, sendo este o melhor trabalho do compositor desde… bem, “Toy Story”.
A dublagem soberba do filme acaba sendo outro elemento de nostalgia para o público que já segue esses personagens há quase duas décadas. Guilherme Briggs e Marco Ribeiro, como a dupla Buzz e Woody, são simplesmente inigualáveis, sendo esta uma das raras vezes que peço para que o público vá atrás da versão dublada, por mais que eu goste de Tom Hanks e Tim Allen. Por falar nisso, fiquei um pouco chateado de Briggs não ter dublado o Buzz espanhol que surge em dado ponto da fita, creio eu que seu portunhol cairia como uma luva no filme, principalmente pelas referências aos folhetins mexicanos que surgem nessa parte da história.
O talento do diretor Lee Unkrich está impresso em cada fotograma da produção, bem como seu amor por aqueles personagens que, em dado grau, foram os responsáveis por colocar a Pixar no mapa. O cuidado em desenvolver cada situação, em mostrar cada detalhe do filme e em dar um desfecho adequado para uma história iniciada há tanto tempo e que se tornou tão pessoal para todos os que a acompanham desde o início é algo indescritível.
Minha identificação com a situação pela qual Andy passa no finalzinho do filme acabou por fazer com que me entregasse às lágrimas com o fechamento da história e com a agridoce conclusão de uma das maiores sagas sobre lealdade e companheirismo da história do cinema. Por um momento, me permiti voltar a ser criança e abandonar todo o cinismo que a idade adulta traz consigo.
Por conta disso, serei eternamente grato a esta franquia e é com alegria que me despeço de toda a turma do quarto do Andy, sabendo que esses meus amigos estarão em boas mãos, para o infinito e além!
P.S.: Apesar de o filme não exigir muito da tecnologia 3D, o fabuloso curta “Dia & Noite”, que precede o longa, já vale o ingresso mais caro, tendo em vista que este realmente utiliza de maneira bastante efetiva a imagem em profundidade.