Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 30 de maio de 2010

Sex and the City 2 (2010): apesar de divertir, não é uma boa continuação

As quatro fashionistas que conquistaram o mundo estrelam este segundo filme que, apesar das diversas falhas, garante boas risadas.

Em 2008, os fãs do seriado “Sex and the City” puderam matar a saudade com a volta de Carrie, Miranda, Samantha e Charlotte, dessa vez nos cinemas. A emoção de ver o retorno e de compartilhar as lágrimas e as risadas que só elas proporcionam não agradou a grande parte dos críticos e a alguns fãs, um pouco conservadores com a ideia de ver o seriado sendo utilizado como caça níquel pela indústria hollywoodiana. Alguns mal humorados ou machistas continuam com a visão de que é um filme de mulherzinha, mas poucos reconhecem a importância de uma franquia que não aborda apenas o fashionismo, mas também as relações humanas de uma forma, alguma vezes, caricata, mas que reflete as verdadeiras facetas das pessoas.

O primeiro filme já seria suficiente, pois emociona com facilidade e dá o destaque adequado às quatro personagens, sem danos. Entretanto, a gigantesca bilheteria fez com que um segundo filme (e talvez um terceiro) fosse pensado. Para os fãs, quanto mais elas voltarem a fazer parte de suas vidas, melhor. Tudo é desculpa para vê-las em cena, com novos conflitos e agendas. O resultado de “Sex and the City 2” é que continua sendo maravilhoso vê-las juntas, mas que não necessariamente era preciso mais um filme para esta franquia. Ainda que existam problemas na obra, o fato é que, durante os 146 minutos de projeção, é impossível não rir das palhaçadas pelas quais elas passam. Enquanto o longa anterior cativa pela emoção e agrega humor ácido, este em questão fica apenas no humor. A proposta, então, é cumprida, ainda que falte um dos temperos que fez o seriado se tornar uma referência no mundo: Nova York.

Nesta nova trama, Carrie (Sarah Jessica Parker) está prestes a lançar um novo livro e a completar dois anos de casamento com Mr. Big (Chris Noth). Com a rotina monótona, a relação deles começa a balançar. Em paralelo, Miranda (Cynthia Nixon) percebe que seu vício em trabalho não está compensando em sua carreira; Charlotte (Kristin Davis) percebe que a vida de mãe não é fácil e ainda suspeita que pode estar sendo traída; e Samantha (Kim Cattrall) luta para não perder a libido e para continuar belíssima e jovem aos 52 anos. Com tais conflitos determinados, elas decidem viajar para Abu Dhabi, no Oriente Médio, e lá passam por mais uma renovação de suas rotinas. O choque de culturas mostra que, ainda assim, a alma feminina não muda em nenhuma parte do mundo.

O mais fascinante em “Sex and the City” como um todo é o fato de que o público, independente do sexo ou opção sexual, se identifica um pouco com cada personagem ou com os conflitos que elas viveram no seriado e no cinema. Para isso ser mantido, elas voltam carregando a essência que as marcaram. Carrie continua paranóica e talvez mais chata, enquanto Samantha continua com as melhores tiradas cômicas e Charlotte volta a ter momentos chaves de graça durante a projeção. A exceção é Miranda, cujo sarcasmo infelizmente fica ofuscado, mas ainda assim sua presença é imprescindível para o equilíbrio da amizade das quatro.

Mas assim como sempre foi, Nova York também é uma personagem da história. No longa anterior, as ruas da cidade cosmopolita foram palcos para buquês quebrados e reviravoltas amorosas, ainda que, da metade da projeção ao fim, as protagonistas também saíssem da cidade para uma viagem de renovação. Neste longa, pouco é visto de Nova York e isso descaracteriza o que ficou enraizado desde sempre. A música-tema do filme, “Empire State of Mind”, de Jay-Z e Alicia Keys, seria perfeita se a trama desenrolasse conflitos importantes em NY. O novo cenário para a história não fica deslocado completamente, até porque as questões culturais são interessantes de serem observadas, mas o mínimo que o roteiro poderia fazer era preservar o básico. De qualquer forma, a viagem a Abu Dhabi traz momentos cômicos impagáveis, mas em nenhum deles os problemas de cada uma realmente comove o espectador. Então vale ressaltar que este filme é puramente para entretenimento e talvez até divirta mais que o primeiro, ainda que este seja inferior quando o assunto é qualidade.

Michael Patrick King, o rei de “Sex and the City”, volta a ocupar a produção, roteiro e direção deste longa. Ele reconhece que suas protagonistas já não conseguem esconder as rugas, mesmo debaixo de tanta maquiagem, e as posicionam como verdadeiras quarentonas (e cinquentona) que achavam que a estabilidade da vida seria mantida quando a maturidade chegasse. A questão não é a maturidade, mas sim o fato de que em qualquer ponto da nossa vida teremos problemas para resolver, e muito deles envolvem sentimentos e relacionamentos. O roteiro de King também demonstra esgotamento de situações originais e, algumas vezes, cai no brega ou na vergonha alheia. Liza Minnelli cantando “Single Ladies” é uma tortura, bem como o extenso número musical das protagonistas cantando “I Am Woman”. O fashion debaixo dos panos das mulheres árabes também é dispensável.

Na direção, King faz um pouco do mesmo, já que ele nunca foi tão técnico em suas filmagens, sendo mais urbano e criativo justamente ao captar a alma de Nova York. Então ele se mantém apático como diretor quando leva a trama ao Oriente. Porém, a concepção do cineasta em manter o universo criado, com as grifes e propagandas escancaradas, bem como os looks incríveis trazem de volta a sensação de que realmente estamos vendo “Sex and the City”, ainda que pareça uma junção de três episódios em que nem tudo tem sua atenção merecida, deixando de lado e descartando personagens essenciais para o longa. De qualquer forma, somente King é capaz de elevar com autoridade as protagonistas e o faz bem.

Ainda que haja a ambição dos estúdios em fazer bilheteria, o primeiro filme bastaria, mas com “Sex and the City 2” é possível se entreter de forma descompromissada e dar muita risada. A péssima recepção da crítica que continua enxergando a franquia como futilidade e inutilidade não deve abalar os espectadores e, mais uma vez, não deve evitar que a bilheteria seja grandiosa novamente. Aos fãs, resta o saudosismo e a diversão. Aos mal humorados, certamente não é a melhor opção.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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