Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 01 de maio de 2010

Homem de Ferro 2 (2010): cumpre com folga sua proposta de entreter o público

Jon Favreau e Robert Downey Jr. retornam mais divertidos do que nunca.

Iniciada em 2008, a franquia “Homem de Ferro” estreia seu segundo filme apostando em características bem diferentes de outras adaptações cinematográficas de histórias em quadrinhos. O diretor Jon Favreau conhece muito bem o potencial e as limitações dessa HQ  da Marvel e explora com enorme qualidade todos os seus pontos positivos. Fugindo de dilemas humanos universais, tão bem utilizados nos “Batman” de Christopher Nolan ou nos “X-Men” de Bryan Singer, a saga conta uma história simples, mas recheada de personagens carismáticos e bom humor, atingindo com méritos o objetivo de entreter o público. E “Homem de Ferro 2” consegue superar seu predecessor quando o assunto é diversão.

A trama traz inicialmente Tony Stark (Robert Downey Jr.) sendo pressionado pelo Senado americano a entregar a armadura que criou para o seu super-herói. Os políticos questionam os perigos das ações do Homem de Ferro para a população e desejam que o exército se aproprie dela. No alto de seu narcisismo, Stark, no entanto, nega. Ele alega ter consciência de suas atitudes, além de destacar que a tecnologia está bem protegida.

Pouco depois, suas palavras se perdem. Em um ataque de proporções monumentais no Grande Prêmio de Mônaco, Ivan Vanko (Mickey Rourke), um russo de ligação bem próxima a família Stark, demonstra também saber os segredos do traje do herói. O vilão é preso, mas com a ajuda de um concorrente direto de Stark no mercado armamentista, é liberto. O objetivo de Justin Hammer (Sam Rockwell) é se apropriar da tecnologia tão bem conhecida por Vanko para fazer frente a empresa administrada pelo  agora Homem de Ferro.

Além das ameaças inimigas, Tony Stark também tem de lidar com problemas particulares. O paládio está prejudicando a sua saúde e é preciso encontrar um novo elemento químico que traga energia limpa ao seu corpo. Em relação ao comando de sua empresa, ele o passa para a sua secretária e caso amoroso Pepper Pots (Gwyneth Paltrow), inexperiente na função de presidente. Para solucionar esses e outros entraves, ele contará com a ajuda de seu grande amigo James Rhodes (Don Cheadle) e de mais dois desconhecidos, Nick Fury (Samuel L. Jackson) e a misteriosa assistente Natalie (Scarlett Johansson).

Assim como o primeiro longa da saga, “Homem de Ferro 2” é tão bom porque jamais nega o seu caráter comercial. Estamos diante de um filme que está em cartaz para arrecadar dinheiro por meio de um entretenimento raso e rápido para a audiência. Sua construção narrativa traz inúmeros vícios de incontáveis filmes de Hollywood, ao mesmo tempo em que renova a linguagem de tantas outras relações. E é reescrevendo esse desenvolvimento comum que a película atinge um nível invejável de qualidade.

É bom que se diga que a fita, diante do que se propõe, é muito bem dirigida, escrita e, principalmente, atuada. Jon Favreau comanda toda a sua equipe com uma sabedoria diferenciada, apostando na simplicidade de sua história e na competência de seu elenco. Tudo que funcionou no primeiro filme volta a ser explorado nesta sequência, e o que falhou é visivelmente ajustado. O humor retorna com força total, os vilões são bem melhores desenvolvidos e as cenas de ação são bastante superiores.

A responsabilidade maior de escrever uma trama acessível ao grande público, mas com toques de modernidade, ficou por conta de Justin Theroux  (“Trovão Tropical”), que realiza um roteiro descompromissado e inteligente. Ele respeita grande parte dos padrões do cinema americano, mas desvirtua outros. A introdução e a participação de Ivan Vanko é espertamente antecipada, fugindo daquele clima chato de expectativa em torno do embate entre vilão e herói. As relações humanas seguem o seu próprio rumo, com destaque para a sutil afeição entre Pots e Stark. Além disso, sentimentalismos exagerados simplesmente não existem.

Tony Stark retorna mais ácido do que nunca e os personagens que o circundam recebem uma devida atenção, principalmente Pots. O humor também é guardado para o desajeitado vilão Justin Hammer, enquanto que a função de carrasco resta para Vanko, que também possui suas bizarrices. Theroux ainda faz questão de caprichar no confronto final, mas prefere encerrar seu filme com uma hilária sequência que conta com a cômica participação do ator Garry Shandling, como o contrariado senador Stern.

Por falar em elenco, é difícil encontrar um filme em que todos, sem exceção, façam um trabalho excelente, e isso acontece em “Homem de Ferro 2″.  Downey Jr. é o ator do momento e comprova seu status em mais uma performance excelente. Improvisando quando pode, ele é a maior atração da franquia que devolveu o respeito que ele nunca deveria ter perdido na indústria. Ao seu lado, Gwyneth Paltrow sabe que não pode tirar sua atenção, trazendo na discrição seu maior mérito.

Mickey Rourke é o mais estereotipado dos personagens, mas ainda assim mostra força e rivalidade por meio de seu rosto desfigurado e sotaque russo. A grande surpresa é mesmo Sam Rockwell que foge da caricatura, entregando uma performance cômica incomum para um vilão. Completando o elenco principal estão os competentes Don Cheadle, que substitui sem prejuízo Terrence Howard no papel, Samuel L. Jackson e Scarlett Johansson, que protagoniza uma milimetricamente ensaiada cena de luta.

Com efeitos especiais que não fazem feio frente a blockbusters de orçamento bem superior, “Homem de Ferro 2” cumpre com folga sua proposta de entreter o público. Não pode e nem deve ser levado a sério diante de obras do gênero  como “Batman – O Cavaleiro das Trevas”, mas consegue como poucos divertir com uma trama despretensiosa e extremamente cômica. Jon Favreau e Robert Downey Jr. mais uma vez acertaram em cheio.

Darlano Didimo
@rapadura

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