Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 10 de abril de 2010

Uma Noite Fora de Série

Tina Fey e Steve Carrel são a principal atração desta descompromissada e mediana comédia.

Ela é nada menos do que a atriz principal, roteirista e produtora da mais premiada série cômica do momento, “30 Rock”. Ele é a maior atração de “The Office”, um dos sitcoms mais populares dos Estados Unidos, além de já ter uma trajetória interresante no mundo do cinema. Revelado em2003, em “Todo Poderoso”, já atuou em comédias de sucesso como “O Virgem de 40 anos”, “Agente 86” e “Pequena Miss Sunshine”. É claro que estamos falando de Tina Fey e Steve Carrel, dois dos principais nomes da cena cômica americana na atualidade. Reuni-los em uma comédia feita para os cinemas não teria como dar errado, certo? Relativamente, pois apenas a dupla sai ilesa deste despretensioso “Uma Noite Fora de Série”.

Fey e Carrel interpretam o “insosso” casal de Nova Jersey, Phil e Claire Foster. Juntos há alguns anos, os dois sabem que não podem deixar o casamento cair na rotina e planejam, eventualmente, jantares românticos longe das travessuras de seus filhos e das obrigações de corretora de imóveis e advogado tributário. No entanto, as próprias saídas se resumiram a comer salmão e dublar conversas de casais de mesas vizinhas. Em relação a sexo… sobre esse assunto, eles têm vergonha de falar em público.

Algo mais divertido é necessário na vida dos Foster. E é o que Phil tenta fazer ao levar a esposa para jantar num chique e caro restaurante nova-iorquino. Ao chegar ao local, eles confirmam o que achavam que iria acontecer: ficam entre as dezenas de pessoas na lista de espera. Tudo muda, porém, quando  eles decidem se passar por um casal que não deu às caras, os Triplehorns. Mal sabem eles que a dupla é acusada de ter roubado de um poderoso mafioso local e que, como consequência, serão confundidos, passando a ser perseguidos durante todo o resto da noite.

“Uma Noite Fora de Série” aposta na mesma insanidade e inconsequência que alçou “Se Beber, Não Case” ao sucesso mundial. A capacidade de Phil e Claire Foster se meterem em trapalhadas diversas seguidamente impressiona. Fuga em barcos quase sem motor, disfarces hilários, perseguições em plenas ruas de Nova Iorque e performances de pole dance são apenas algumas das travessuras pelos quais os Foster são forçados a passar durante essa conturbada noite. Sem se levar a sério, o filme ganha pontos por sua proposta.

A película, no entanto, não traz uma trama eficiente em comicidade. Falta uma história mais envolvente e convincente, que traga um mínimo de credibilidade ao longa-metragem, além de mais algumas piadas. Quem sustenta o filme são justamente os astros Tina Fey e Steve Carrel. Eles justificam a expectativa em torno de si em interpretações que ultrapassam o ritmo cômico que já provaram possuir: as suas performances também são físicas. A química entre a dupla é outro fator positivo, convencendo a audiência como marido e mulher em crise matrimonial.

Fey e Carrel se saem melhor quando o roteiro de Josh Klausner deixa os diálogos de lado e aposta na improvisação. Mas não têm o que fazer quando a história esquece a aventura e ruma para uma resolução mais romântica. Em uma sequência em especial, o casal inicia uma discussão quando acabam de fugir dos dois bandidos que os perseguem, estacionando o carro e, consequentemente, o ritmo do filme. Klausner parece querer preparar o terreno para o final açucarado demais que dará a sua história, mas acaba prejudicando o seu desenvolvimento. Tina Fey, que já roteirizou o bom “Meninas Malvadas”, com certeza escreveria páginas bem mais ácidas e engraçadas.

Além disso, a história deixa furos ao longo de todo o filme. Realizar um longa descompromissado com a realidade não significa introduzir tramas e personagens paralelos a todo momento, além de ações tresloucadas. É preciso justificá-los na medida do possível. E em “Uma Noite Fora de Série” esses erros acontecem aos montes. Sobram também vilões bobos que não sabem nem mesmo quem são seus inimigos e que buscam um mero pen-drive com fotos reveladoras de pessoas influentes da cidade. O plot desta trama, enfim, não convence nem o mais inocente dos espectadores.

A direção é do criticado Shawn Levy, responsável pelos questionáveis “Uma Noite no Museu 2”, “Recém-Casados” e “A Pantera Cor-de-Rosa”. Ele sabe que o astro aqui são outros e deixa os protagonistas trabalharem com liberdade, sendo essa sua principal virtude. Em relação ao seu comando com a câmera, ele é bem limitado. As tomadas são comuns, o ritmo é lento e a direção de atores coadjuvantes deixa a desejar. Destaca-se apenas ao abrir o plano na cena do barco e na sequência da “pereseguição acoplada”.

Com o envolvimento de Fey e Carrel no projeto, outros atores reconhecidos também toparam fazer participações especiais no filme. Entre eles, estão Mark Wahlberg, como ex-cliente de Claire que insiste em ficar sem camisa; Mark Ruffalo, como o amigo prestes a se separar da esposa; e Jamos Franco, como o  verdadeiro Sr. Triplehorn. Enfim, se não fossem Tina Fey e Steve Carrel, “Uma Noite Fora de Série” não teria a mínima graça. No entanto, os craques da televisão bem que poderiam ter escolhido um projeto melhor para repartirem a tela grande.

Darlano Didimo
@rapadura

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