Divertida e ágil, a animação de aventura é uma ótima pedida para o público que esteja ansiando por 90 minutos de pura adrenalina!
Engraçado como as coisas são… Este “Como Treinar o Seu Dragão” e a hiperprodução “Avatar” possuem muitos traços em comum em suas respectivas narrativas, mas a jornada do jovem viking Soluço me comoveu muito mais do que a do fuzileiro Jake Sully.
Esta animação da Dreamworks PDI, roteirizada e comandada por Dean DeBlois e Chris Sanders (ambos diretores de “Lilo & Stitch”), apesar de ser bastante despretensiosa, possui as já batidas mensagens sobre ecologia e “ser você mesmo”, mas elas são transmitidas dentro de uma história de aventura tão empolgante, que o público consegue ignorar esses clichês e embarcar na ação junto dos personagens.
Baseado livremente no livro de Cressida Cowell, o longa acompanha o viking Soluço, filho do chefe de sua aldeia, Estóico. Para vergonha de seu pai, o garoto não é nada atlético, acreditando mais no poder do cérebro do que na força dos músculos. Desajeitado e atrapalhado, Soluço acha que se entrosará com os demais habitantes de sua aldeia ao conseguir matar um dragão, já que o lugar é atacado constantemente por esses seres, que roubam toda a comida dos habitantes do lugar.
Quando finalmente uma de suas engenhocas funciona e ele consegue capturar um dragão, ninguém acredita. Ao verificar seu achado, Soluço descobre que derrubou um Fúria da Noite, uma das raças de dragão mais perigosas. No entanto, o pequeno não consegue matar o animal e, aos poucos, uma grande amizade nasce entre os dois.
Enquanto isso, Estóico parte em uma expedição para encontrar o ninho das feras, deixando o filho aos cuidados de seu amigo Bocão, encarregado da academia de matadores de dragões. Preso entre as lealdades ao seu novo amigo, batizado carinhosamente de Banguela, e ao seu povo, Soluço acaba descobrindo cada vez mais sobre os dragões, em uma trama que mudará para sempre o destino das duas espécies.
Soluço passa pela clássica “jornada do herói”, começando como o pária da aldeia até alcançar seu destino. Até aí, tudo bem. O diferencial em “Como Treinar Seu Dragão” é que o filme realmente oferece riscos sérios à vida de seu protagonista, com cenas de ação não só empolgantes, como desenvolvidas de maneira orgânica dentro da narrativa.
Os desafios que surgem para Soluço e seus companheiros não são meras desculpas para que apareçam cenas deslumbrantes, com a segurança do herói estando constantemente em risco, algo que o filme faz questão de destacar, aumentando a força dessas sequências consideravelmente.
Ao tratar a história (e o espectador) com respeito e inteligência, os cineastas alcançam um público bem mais amplo do que o infanto-juvenil, fazendo desta experiência uma película realmente envolvente. Muito disso vem do carisma do protagonista Soluço e da naturalidade de como sua relação de amizade com Banguela floresce.
O rapaz nos representa no filme, já que aprendemos sobre os dragões junto dele. Note que, a princípio, a câmera nos mostra os animais como seres ameaçadores, nos permitindo apenas relances destes, sempre de ângulos que realçam a natureza bestial desses répteis gigantescos.
À medida que o jovem herói se aproxima de Banguela e aprende mais sobre os bichos, começamos a vê-los de uma maneira mais idílica. Apresentar seu protagonista como um estranho no ninho também é um modo do longa nos colocar dentro da história já que isso ajuda muito na relação entre o público e aquele mundo, pois passamos a conhecer aos poucos cada personagem. Tal identificação é primordial para que o relacionamento afastado entre Soluço e Estóico funcione da maneira correta na produção.
É interessante notar que o filme traça um paralelo entre seus personagens humanos (incluindo Soluço) e as principais espécies de dragões mostradas, algo que repercute de maneira positiva na mensagem de equilíbrio natural proposta pela produção.
É bom ressaltar que, como o filme é focado em seu protagonista, acaba sendo natural que poucos dos demais personagens ganhem destaque. Dos colegas de Soluço, apenas a valente Astrid acaba ganhando um cuidado um pouco maior, tendo em vista que ela é o interesse amoroso do rapaz. Mas isso se trata de uma escolha do filme, não de um defeito da narrativa.
O design dos animais e dos humanos merece elogios. O visual mais cartunesco, assim como fizeram em “Lilo & Stitch”, é mais uma maneira dos cineastas mostrarem que estão apostando na história para capturar a atenção do público, sem grandes ruídos visuais para distrair o público, além de já darem dicas sobre a personalidade de cada figura vista em cena.
Os efeitos computadorizados e as texturas de cada material visto na tela são maravilhosos, com destaque ainda para a “luz” (note como ela influencia até mesmo na coloração das orelhas de cada personagem), em um belo trabalho de cinematografia. A própria aldeia onde o filme se passa sofre as consequências da trama, algo que dá bons créditos à direção de arte da fita.
Outro fator positivo é a trilha sonora de John Powell (“O Ultimato Bourne”), que aposta em uma trilha baseada em músicas tradicionais escocesas, resultando em temas bastante marcantes para a película. Para completar, as cenas de vôo e de combates do filme em 3D ficaram incríveis, sendo até mais marcantes que as de “Avatar” em matéria de profundidade, garantindo uma experiência a mais para aqueles que pagarem um extra pelo ingresso nas salas com essa capacidade projeção.
Divertido e marcante, “Como Treinar o Seu Dragão” é uma aventura incrível, embora eu não a indique para crianças muito pequenas justamente por ser demasiadamente movimentada e até pesada em dados momentos, principalmente em seu clímax. De qualquer modo, digo sem medo de errar que se trata da melhor animação realizada pela Dreamworks/PDI. Recomendo!