Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 06 de abril de 2010

Final Fantasy VII: Advent Children

"Final Fantasy VII - Advent Children" é o perfeito exemplo de filme que joga apenas para sua torcida, conseguindo alienar todo o resto do público.

Dentre os fãs da série “Final Fantasy” o sétimo episódio desta franquia de games, lançado em 1997, é um dos mais celebrados. Sempre lembrado por seus personagens cativantes, história épica e por ter um dos vilões mais marcantes da história dos jogos eletrônicos, Sephiroth. Assim, esse RPG ficou marcado como um clássico do gênero.

Quando a Square anunciou que a franquia ia ganhar uma versão cinematográfica, todos esperavam que o sétimo game fosse lembrado, algo que não aconteceu, com a estreia da série nos cinemas tendo um roteiro que pouco refletia as características das suas contrapartes interativas. Depois de muito protesto dos fãs, em 2005 foi lançado “Final Fantasy VII – Advent Children”, fita que continua a história do jogo.

E este é exatamente o ponto fraco do filme. Ele é a continuação de algo lançado em outra mídia e é tão dependente do game que pouco do roteiro do longa faz sentido sozinho. Na trama, o mundo está em ruínas após a companhia de energia Shinra praticamente ter drenado a força vital do planeta, o lifestream (algo muito parecido com o conceito de Gaia ou com o de Eywa em “Avatar”).

Mesmo após a corporação tendo sido impedida nos eventos do game, dois anos antes, a população sente os efeitos danosos através de uma doença chamada geoestigma. Um dos afetados pela doença é o herói do filme, Cloud. Anteriormente um dos soldados da Shinra, ele ajudou a salvar o planeta da destruição anteriormente, estando agora afastado dos seus amigos. Após o protagonista e Tifa, uma de suas antigas companheiras, serem atacados por um misterioso grupo, liderado pelo insano Kadaj, ele deve descobrir qual a ligação entre seus atacantes e o falecido Sephiroth e também como a entidade alienígena Jenova se encaixa nessa situação.

Se você nunca jogou “Final Fantasy VII” na sua vida, acredite, o filme não tornará nada fácil para que você entenda o que se passou no game. Os personagens jamais são apresentados ao público, mas sim simplesmente jogados em cena. O filme espera que o seu público já conheça aquelas figuras e fique em estado de graça ao vê-los novamente, não se dando ao trabalho nem ao menos de desenvolvê-los de uma maneira adequada, demonstrando uma imensa preguiça do roteirista Kazushige Nojima.

Os diretores Tetsuya Nomura e Takeshi Nozue fazem um bom trabalho na parte técnica da fita. Saindo do eixo hollywoodiano de animações computadorizadas, temos um dos trabalhos mais bonitos já feitos nesse nicho. Ao contrário de “Final Fantasy – O Filme”, que tinha o realismo das figuras humanas uma prioridade, aqui a Square fez um mix entre o fotorealismo e o estilo anime.

O resultado são personagens bem mais agradáveis aos olhos do que simples mimetizações humanas, que podem dar uma sensação de estranhamento ao espectador por algumas vezes. O design das criaturas e a direção de arte da película também são bastante interessantes. A fluidez dos movimentos dos vários elementos em cena e a beleza dos padrões de energias mostrados também são assombrosas. De fato, é realmente uma animação muito bem feita.

As batalhas também são bastante dinâmicas e agitadas. No entanto, os níveis absurdos de poder de alguns personagens tornam as lutas um tanto megalomaníacas por algumas vezes. O mais estranho é que, em dado momento, uma das figuras centrais do longa é atingido por um mero tiro. O que deveria ser um momento dramático perde muito da sua força justamente por aquele mesmo personagem ter escapado de ataques muito mais pesados poucos instantes antes.

No entanto, não dá pra pedir muita lógica narrativa em um filme que é a exata definição de fanservice. Ou seja, jogar elementos em cena visando APENAS agradar aos fãs, sem muita preocupação em contar uma história coerente. Sim, os aficionados pela série irão delirar com as aparições de Barrett, Vincent Valentine ou dos demais membros da Avalanche, mas o que o público em geral verá são apenas mais personagens surgindo do nada no meio de uma trama que já está bastante confusa.

Enquanto os personagens antigos são tratados como meros presentes para a audiência, sendo mais rasos do que um conjunto de pires, os novatos – ou seja, Kadaj e seu grupo – não passam de simples distrações para uma das ressurreições mais forçadas da história da cultura pop.

Como veterano da série, gostei muito de reencontrar personagens que adorava e revisitar Midgard. Mas já como cinéfilo, é impossível não reconhecer que esta fita simplesmente extrapolou em suas tentativas de agradar os fãs da franquia, alienando o espectador comum que for assisti-la atrás de meramente uma boa diversão.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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