Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 24 de janeiro de 2010

Chéri

Delicado e realista,“Chéri” mostra uma versão mais madura dos romances entre pessoas de idade contrastante. Embora pareça um pouco perdida, a adaptação do conto francês de mesmo nome consegue traduzir bem seus conflitos e, principalmente, seu fascinante clima envolvente da época.

Léa de Lonval (Michelle Pfeiffer) é uma prostituta de luxo que vê sua idade avançando e com ela a necessidade de aposentar-se de tal trabalho, uma atitude um tanto sensata, mas que não leva em conta a principal dificuldade que a própria tem de se envolver com alguém. No início, Léa mostra a independência que a fez chegar até onde está, mas quando conhece o jovem apelidado de “Chéri”, ela percebe como necessita, sobretudo, da companhia do jovem rapaz. Uma companhia que vai fazer com que ela enxergue a real diferença de idade entre os dois, o que a motivará a terminar o romance. Tudo isso ocorre em um cenário tão envolvente quanto a história, na bela Paris, em 1920, que ainda vivia a “belle époque” tão relembrada atualmente.

O cineasta inglês Stephen Frears (“A Rainha” ) assina uma direção bem madura à medida que mostra em sua obra um realismo que impressiona. A cena em que Léa está diante do espelho durante um tempo considerável mostra a sensibilidade que a obra realmente  tem em sua direção, aliada ao talento de Michelle Pfeiffer que, aqui, faz um de seus trabalhos mais sólidos. O roteiro de Christopher Hampton, que escreveu também o belo “Desejo e Reparação”, demora um pouco a vingar, uma vez que, em vários momentos, parece estar perdido entre a vida de Léa e seu romance com o jovem Chéri. Isso logo chega ao fim quando o romance entre os dois começa a sofrer com as diferenças.

Léa nunca consegue se envolver com alguém. Isso se deve a sua ex-profissão que lhe permitiu adquirir uma barreira contra esse tipo de sentimento. E para furar essa barreira, surge o jovem que vai tirar o sono da independente senhora. Em vez de proibir, Madame Peloux faz de tudo para seu filho se interessar por Léa. Interessante ver que para uma mãe entregar seu filho a uma mulher muito mais velha e com a profissão que ela tem só mesmo estando no mesmo meio social. A partir daí, muitas brigas, sexo, sonhos e glamour rechearão a história de amor dos dois.

A cena em que Léa observa outra senhora, assim como ela mesma, se relacionando com um jovem mostra-se bem naturalista. Logo depois, a sequência  serve de lembrança para Léa que começa a sentir a falta de Chéri. O desejo da ex-prostituta é eficientemente mostrado por meio da edição que intercala cenas de amor com outras que servem de lembrança. O detalhe sempre chama a atenção. O colar de pérolas representa metonimicamente não só a bela senhora, mas também o  charme e os sinais da profissão da mesma.

Além de Michelle Pfeiffer, o filme conta ainda com a presença da excelente Kathy Bates, que vive a mãe do jovem Chéri de modo impecável, ofuscando até a própria atriz principal. Por sua vez, o jovem Rupert Friend na pele  Chéri é bem limitado à medida que não consegue desenvolver seu personagem e suas complexidades comentadas no longa. Assim, espalhando luxo, beleza e talento, Michelle e Kathy mostram que cada idade tem a sua beleza e pode ser contemplada da melhor forma possível.

A reconstituição da época é maravilhosa. Figurino, cenários e, principalmente, o clima francês tão envolvente dos tempos da “belle époque” são traduzidos com eficiência e beleza. A trilha sonora mostra-se delicada e atraente. Ela está sempre ali, contida e pronta.

A história de amor entre a ex-prostituta e o jovem foge de todos os clichês e é tratada de forma delicadamente realista. Um trabalho em que mostra uma visão madura do diretor Stephen Frears em que tudo recebeu um cuidado merecido.

Marcus Vinicius
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