Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 09 de janeiro de 2010

Sherlock Holmes

O longa de Guy Ritchie é uma boa surpresa nos cinemas.

Muitos personagens, ao longo desses anos, foram repensados. Isso aconteceu com Batman, quando Christopher Nolan resolveu recriá-lo para dar a ele a sua própria visão. O mesmo aconteceu com o James Bond, interpretado por Daniel Craig, fugindo muito mais da classe deixada pelo seu antecessor, Pierce Brosnan, e seguindo as tendências cinematográficas que estavam sendo empregadas na trilogia “Bourne”, principalmente. O mais importante é que cada diretor, nestas respectivas obras, soube colocar o seu olhar e a maneira como eles enxergavam estes personagens.

Alguns podem não concordar, já outros podem aprovar as mudanças. O mesmo acontece neste “Sherlock Holmes”, dirigido por Guy Ritchie (“Snatch: Porcos e Diamantes”), em uma adaptação do livro de Sir Arthur Conan Doyle. Para Ritchie, mais do que deixar claro a inteligência e a sagacidade do personagem-central, ele o coloca também como uma pessoa durona (participando de luta-livre) e entregue completamente ao seu próprio mundo. Por isso ele sempre precisa de um novo caso, em parceria com o seu sempre fiel amigo Dr. Watson (Jude Law), para continuar tendo prazer em viver a vida.

Neste filme, a história gira em torno do Lord Blackwood (Mark Strong) e a sua tentativa de causar pânico na cidade de Londres com a sua magia negra. Sherlock Holmes (Robert Downey Jr.), um detetive bon vivant que presta consultoria à Scotland Yard (departamento de investigação britânico) e é o responsável por concluir o caso e trazer novamente paz nas ruas da cidade. Porém, quando tudo parecia que tinha chegado ao fim, eis que Lord Blackwood consegue forjar a própria morte e retorna cheio de mistérios para confundir a cabeça de Holmes e, finalmente, instigá-lo a entender as circunstâncias do que estava acontecendo. Aliás, este é um ponto que o diretor Guy Ritchie e os roteiristas Michael Robert Johnson e Anthony Peckham conseguem explorar muito bem no filme. Os três brincam com as pistas e fazem com que os espectadores também “participem” das investigações com o intuito de solucionar.

Com o tempo, o jogo vai ficando cada vez mais perigoso e também intenso. A partir do momento em que Irene Adler (Rachel McAdams) entra diretamente na narrativa, Holmes começa a entender que esta é uma investigação que não para somente em Lord Blackwood. De qualquer maneira, a maneira como a personagem de McAdams é inserida na narrativa soa forçada e, em nenhum momento, é possível entender como os dois (Holmes e Irene) construíram a química e a aproximação tão constante que se vê na projeção. Ainda assim, ela é o fio condutor para se chegar no Professor Moriarty (o próximo caso de Holmes e que já começa a ser desenvolvido ainda neste filme).

Em contrapartida, os roteiristas também conseguem exibir a amizade entre Holmes e Watson, seja pela difícil convivência entre os dois ou pela maneira “estabanada” com que Sherlock conseguia tirá-lo do sério. Para isso, Guy Ritchie misturou e tornou o seu filme mais britânico do que muitos esperavam. O humor sarcástico empregado por Robert Downey Jr. e a reconstrução da Londres daquele tempo, tomada por uma fotografia que, quase sempre beiram a escuridão. Assim, o diretor de fotografia Phillipe Rousselot traça bons contrastes em representação ao próprio medo vivido pela população londrina com o retorno de Lord Blackwood.

“Sherlock Holmes” tem na sua trilha sonora, composta por Hans Zimmer, o seu principal destaque. Mais uma vez, ele não decepciona neste seu novo trabalho. O mais importante é como ele consegue fazer com que a sua trilha tenha também representação na história. Durante todo o filme, Holmes segura um violino e fica tocando, como uma espécie de terapia para pensar nos seus experimentos ou na resolução dos seus casos. E o som sai sempre arranhado. Assim, é neste mesmo timbre que a composição de Hans Zimmer se encaixa, sendo uma parte integrante da narrativa e dos momentos de aventura empregados por Guy Ritchie, que apresenta uma direção segura neste novo filme. Logo no início, ele faz questão de situar o seu espectador na rua que está diretamente ligado ao detetive, se utilizando de um travelling até o número da casa onde Holmes morava.

Em mais um filme, Robert Downey Jr. demonstra o seu vigor e o bom momento que está vivendo na carreira. De certa maneira, em alguns momentos, a sua interpretação lembra muito a mesma empregada por Johnny Depp na trilogia “Piratas do Caribe”. Para isso, basta perceber seus trejeitos. Não é muito diferente daquilo que ele faz com o seu Tony Stark, no filme “Homem de Ferro”, mas, ainda assim, é uma interpretação segura de um ator que consegue sempre se sobressair e colocar o seu jeito de interpretar nos personagens em que vive. Jude Law não faz mais do mesmo, assim como Rachel McAdams, que vive aquela mulher que demonstra confiança, mas parece sempre estar em apuros e necessitando de alguém para salvá-la. Ao contrário do que pode parecer, Guy Ritchie não perde tempo com romances ou em colocá-la no centro da trama. Pelo contrário, ele segue a todo momento jogando as pistas, fazendo o seu espectador prender a atenção e se divertir com as aventuras vividas pelo seu personagem-título para desvendar mais um caso.

Podem existir algumas maneiras de definir este filme, mas a principal delas está no divertimento. O humor está presente em todas as cenas, fazendo com que a projeção seja realmente um puro entretenimento. Por mais que o roteiro tente complicar (ou bagunçar) em alguns momentos (como na cena em que Ritchie se utiliza de uma outra montagem para apresentar Moriarty), a verdade é que ele mantém a principal característica que fez do detetive Sherlock Holmes ser mundialmente conhecido: a prática investigativa. Qualquer um que deve ter jogado Scotland Yard e imaginado que um dia poderia se tornar um detetive como ele, com a mesma capacidade e inteligência para inventar coisas e solucionar casos estranhos. O fato de fugir do rótulo de que Holmes deveria sofrer uma abordagem muito mais séria do que aventureira não funciona para dizer que o filme é ruim. Pelo contrário, o longa-metragem de Guy Ritchie pode ser considerado uma grata surpresa. Agora, é esperar pela continuação e o duelo entre Holmes e o Prof. Moriarty.

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