O detetive está de volta depois de algum tempo. O filme é competente caso leve-se em conta que as tentativas foram renovar um personagem já famoso e atingir vários tipos de públicos. Aventura não faltou.
Chegou a vez do famoso detetive, morador da rua Baker Street, ganhar um novo estilo. Sherlock Holmes volta aos cinemas com uma baita renovação. O aventureiro ainda é obcecado pelo que faz, mas agora está um pouco mais, digamos, circense.
Não tem nem por que perder tempo falando do legado que tem o personagem tanto na literatura, quanto na TV ou cinema. Recentemente até nos quadrinhos ele apareceu, além de já ter sido alvo de Jô Soares em uma bela homenagem em livro de sua autoria: O Xangô de Baker Street. O “Elementar, meu caro Watson” é conhecido por muitos, inclusive pelos que não conhecem as aventuras do detetive Holmes.
O filme se passa na Inglaterra, em Londres, nos tempos habituais nos quais Sherlock (aqui vivido por Robert Downey Jr., o Homem de Ferro) age. Junto com ele, o Dr. Watson (Jude Law) e um par romântico com um estilo mais cão e gato, a Irene Adler (Rachel McAdams). Tudo normal, até então. Não fosse um John Watson mais maduro que o Sherlock (meio destemperado, apesar de muito esperto) e uma história mais mítica do que investigativa. Infelizmente, sobre a história, nada poderei falar, pois o detalhe pode soar como spoiler.
Ah sim, os detalhes. Eles que fazem uma simples e não tão inteligente história transformar-se em algo perfeitamente assistível; que não incomoda. A trama, visando atingir um público mais geral e menos atento, é por demais autoexplicativa, demonstrando sempre um objetivo de deixar as aventuras antes superinteligentes e até difíceis de compreender bem mais acessíveis.
O ponto alto do projeto é, sem dúvidas, a fotografia. Sempre baseada em penumbra, dá o tom clássico à história e projeta muito bem uma época onde o forte, convenhamos, não era a iluminação. Poucas cenas claras. As demais, escuras quase sempre, são primorosamente bem visíveis.
Outro recurso bem utilizado foi a câmera lenta acompanhada de flashfowards de Sherlock. A velocidade diminui e começa uma narração do protagonista explicando o que vai fazer. Isso demonstra o diferencial do personagem: o pensamento rápido e lógico, até mesmo nas situações mais extremas. Sem dúvidas, esse é o aspecto que mais conota o projeto como um blockbuster. Um Sherlock Holmes para ser vendido.
O diretor Guy Ritchie soube vender. Apesar de vermos muito de seus trabalhos antigos em vários momentos do filme (Snatch e principalmente RocknRolla) esse talvez seja o trabalho em que mais o diretor apelou para a generalização de público. Da mesma forma que temos uma fotografia primorosa, que a “geral do Maracanã” não capta, temos pancadarias gratuitas e uma cena de explosão demasiada explorada. Além do bom e velho romance, lógico.
Vale destacar também Robert Downey Jr. dando um tom exagerado de heroísmo a Sherlock. Antes um personagem mais carrancudo, agora um bem mais artístico e reservado em dados momentos. Não vai agradar aos mais conservadores, mas se a proposta foi renovar, enxergo aí uma franquia quase que sem fim a ser explorada.
Com atuação bem mais madura, temos Jude Law como Watson. Antes abobalhado e até mais aprendiz do que formado, o Watson de Law é muito decidido. Sabe muito bem o que faz e que atitudes tomar. Por isso que o “Elementar, meu caro Watson” nem precisou ser utilizado. Destoaria, se fosse. Apesar de em um dado momento da trama, o Sherlock brincar dom um interpretação óbvia do parceiro.
A repaginação de Sherlock Holmes me foi bem-vinda. Vamos esperar mais. Sei que para os mais conservadores – e entendo isso – ela será tratada como desrespeitosa. Por isso, não é bom entrar nessa sessão desavisado. Aquele Sherlock que o Jô Soares sempre cita e do qual é muito fã não apareceu e dificilmente irá aparecer nesse cenário atual do cinema.