James Cameron é o cara? Depois de tantas tentativas, será que James Cameron conseguiu unir beleza visual a um conteúdo digno de ser lembrado? Sim! A resposta para essa pergunta está exata!
“Avatar” é um dos lançamentos mais esperados desse ano. Há muito tempo que se fala de todas as evoluções e aperfeiçoamentos que Cameron e sua trupe vêm realizando nos bastidores do filme, uma propaganda maciça do que estaria por vir. Criar tamanho alvoroço é uma jogada perigosa, pois o longa tem de superar as expectativas mais vertiginosas.
A história é clássica e simples. A organização que se denomina “Administração de Desenvolvimento e Recursos” (RDA, em inglês) está em Pandora, um planeta lindo e selvagem, rico em unobtainium. Tal material vale bilhões só o quilo e é a solução para a crise energética da Terra, pois adivinhe, tudo foi consumado por aqui.
O planeta é habitado por uma raça de humanóides muito inusitada. São seres que medem 3,50 de altura, sendo azuis e livres (entendem-se selvagens para os humanos). Um dos pontos de maior concentração do valioso unobtainium é exatamente de baixo do local onde uma das tribos desse enorme planeta se sitia, eles são os Na’vi. Um conflito então logo surgirá.
Para tentar evitar a perda de vidas de muitos nativos, todo um estudo da raça é gerenciado pela doutora Grace Augustine (Sigourney Weaver), que mantém contato direto com os Na’vi, tendo até ensinado inglês para alguns. Mas a doutora, que é fluente na linguagem da tribo, se aproxima por meio de avatares, seres que tem o DNA humano e Na’vi misturados. Por meio de uma tecnologia (que é rapidamente explanada no filme), seres humanos conseguem adentrar nesses corpos e ter controle sobre eles, conhecendo assim os privilégios da raça, podendo voltar sãos e salvos durante o sono do avatar.
É então que entra Jake Sully (San Worthington), fuzileiro paraplégico. O irmão gêmeo de Sully fazia parte do projeto da Dra. Grace, mas morreu pouco antes de experimentar seu avatar. Como os irmãos possuem semelhanças biológicas idênticas, Sully assume este avatar, mesmo sem nenhum treinamento anterior. Ele não conhece a língua e nem os costumes dos Na’vi, e parte às cegas, e um dos principais motivos disso é a possibilidade de poder andar novamente.
O soldado Sully é visado pelo Coronel Miles Quaritch (Stephen Lang), milico cicatrizado brucutu que comanda os serviços de segurança particular da RDA. Um exército de mercenários do céu e da terra. Ele ordena que Sully se infiltre na tribo, ganhando confiança, para assim tirar informações preciosas para Parker Selfridge (Giovanni Ribisi), líder máximo da operação no planeta e verdadeiro mercador da morte.
Claramente que Sully vai sofrer de um complexo de identidade, pois afinal, um paraplégico que volta a andar e atraca em um planeta empolgante, encontra um povo sábio e coeso, que vive uma ligação inexplicável com sua floresta, que é a arrasadoramente bela… Isso seria óbvio. Devemos lembrar que ele é um fuzileiro americano (entende-se maluco), mas seria demais para qualquer um.
Tecnicamente falando, o mais positivo de “Avatar” é o planeta Pandora. Tendo o gene da beleza em sua evolução, a criação do planeta é tão rica em detalhes que fica impossível de citar aqui. Diversas espécies de flora e fauna foram desenvolvidas com inspiração, assim como uma linguagem própria dos habitantes (Tolkien fazendo escola). Seres lindos e assustadores, críveis, como uma realidade paralela. Durante a noite tudo se ilumina, algo parecido com uma floresta de neon.
Como a Dra. Grace explica, são mais de um trilhão de árvores, e neste mundo tudo se conecta por algo que pode ser comparado a um cabo USB que os Na’vi possuem em seu cabelo. Informações podem ser guardadas em certas árvores. Uma evolução que desafia a lógica. “São mais conexões que o cérebro humano”, cita a doutora. Realmente um panorama muito criativo.
É impressionante pensar que toda a selva é computação gráfica. Em certos momentos vemos sólidos e enormes pedaços de terra flutuando em uma área com gravidade alterada, isso com certeza soa de forma inconcebível, mas dentro da floresta é tudo tão perfeito, que mais parece alguma floresta tropical do que algo digital. É realmente arrasador.
Cameron criou artifícios especiais para o longa. O 3D é feito com apenas uma câmera – normalmente é feito com duas – e também criou um monitor mágico que transforma os atores automaticamente em seus avatares digitais, tendo o resultado final na hora. A captura de movimento está seis vezes aumentada e mesmo com rostos totalmente diferentes (olhos e narizes maiores, pescoços maiores e por aí vai), podemos perceber vividamente a interpretação dos atores, seus olhares e feições nos personagens. Os efeitos sonoros e a trilha incidental também marcam sua presença de forma excelente. As composições têm como base o fundo orquestral, mas passeiam por diversos elementos diferentes, como a música eletrônica.
A primeira etapa do filme parece se arrastar um pouco, talvez devido a expectativa de ver logo os personagens no fervo. É quando começa a visitação de Pandora que tudo vai evoluindo. O plot é simples: O bem contra o mal, uma história de amor cheia de problemas, consciências pesadas e atitudes honradas no final. Mesmo contendo alguns “clichês”, herdados, por exemplo, de filmes como “Star Wars”, “Avatar” consegue passar sua mensagem muito bem, mostrando todos os benefícios de um povo que cuida de sua mãe (a natureza), ao invés de enterra- lá (como nós). Todo o desenrolar dos ensinamentos abordados no filme são a melhor forma de apresentar o planeta e seus personagens, além de sempre ser interessante ver alguém aprendendo ou descobrindo algo fantástico (ex: o primeiro “Homem Aranha”).
Os atores também se destacam, em especial Zoë Saldana, que desaparece dentro de sua Neytiri. Ela entrega uma interpretação visceral mesmo não mostrando o rosto (pelo menos o real) em momento algum. Sam Worthington também é um ótimo ator. Seu Jake Sully é cativante e rapidamente ganha a torcida do público. Dosando muito bem o drama que há em seu personagem, todas suas escolhas e atitudes demonstram uma evolução natural de personalidade, de forma pura e simples. E o que falar de Sigourney Weaver? Trabalhando novamente com Cameron (a primeira parceria foi em “Aliens 2”), ela mostra tamanha afinidade com o longa que nem parece se esforçar para ser bem sucedida.
No time de coadjuvantes temos a enfezada Michelle Rodriguez como a piloto de helicóptero Trudy Chacon. O já citado Giovanni Ribisi encarna o capitalista mercador da morte Parker Selfridge, um personagem fácil de cair na mesmice, mas que faz Ribisi dar um show. Joel Moore faz o nerd gente fina Norm Spellman. Wes Studi, o ator indígena que fez “O Último dos Moicanos” de Michael Mann, interpreta o sábio e digital Eytukan, enquanto Stephen Lang alcança toda a alienação perigosa do Coronel Quaritch. E finalizando temos o ótimo Dileep Rao, ator que tem em seu currículo o inusitado Rham Jas de “Arraste me para o Inferno”, ele interpreta o solidário Dr. Max Pate.
“Avatar” realmente será lembrado. Ainda é cedo para diagnosticar o tamanho de sua repercussão, mas quase toda a mídia especializada aprovou o filme com veemência. James Cameron novamente chama a atenção e agora seu tiro é muito mais perfeito do que “Titanic” ou mesmo a franquia “O Exterminador do Futuro”. Ele literalmente criou um universo tão palpável e real que temos o planeta Pandora como um lugar a ser visitado, e não uma ilusão de computador. Então fica a dica de um fim de semana memorável em 3D IMAX. Aparentemente, a fórmula atual de James Cameron vem funcionando, ideias simples com embalagens belíssimas. É ver para crer.