Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 05 de dezembro de 2009

É Proibido Fumar

Glória Pires e Paulo Miklos protagonizam “É Proibido Fumar”, escrito e dirigido por Anna Muylaert e que conta com um enredo simples e, ao mesmo tempo, eficiente.

e-proibido-fumar-560-1A vida de Baby (Pires) não é das melhores. Solitária e romântica, ela conta apenas com a companhia de um amigo que ela não consegue viver sem, o cigarro. Com a chegada de um novo vizinho (Miklos) ela vê nele uma possibilidade de sentir novamente gosto pela vida. E consegue, o que faz com que a mesma comece a tomar atitudes que, até então, ela não conseguia, como largar o cigarro. Mas não é tão simples quanto ela imagina, ainda mais quando se namora um rapaz misterioso e imprevisível.

No início, somos levados a acreditar que o filme trata-se de um daqueles que vão falar sobre os problemas causados à saúde pelo cigarro. O olhar que o filme faz sobre o cigarro não é de um monstro de sete cabeças que vai matar a seu consumidor, mas de um produto que, embora tenha suas contra-indicações, promove um prazer que só quem fuma conhece. E assim, a obra trata do assunto de forma bem sutil e sólida. Uma grata surpresa.

O grande nome do filme não é novidade. Mais uma vez, Glória Pires arrebenta em um papel que exige, acima de tudo, uma identificação com o real, com a típica solitária estressada com sua vida e que desconta sua raiva em problemas banais, como a posse de um sofá velho. Ora esperançosa, ora desiludida, ora vingativa e ora apaixonada, Baby viaja por todas as fases de uma típica mulher que não aguenta mais ficar sozinha. A atriz consegue muito bem traduzir isso. Já Paulo Miklos também faz um bom trabalho, embora não chegue nem perto do brilhantismo de sua parceira.

A simplicidade da fotografia é algo que marca por conseguir passar o ambiente em que a obra se desenvolve. São cores mortas de um apartamento perdido em uma grande cidade repleta de mistérios e traições. O clima de mistério surge durante a obra e permite que novas sensações sejam exploradas. O momento em que Baby percebe que está sendo traída é marcada por um ambiente escuro, embaçado e repleto de fumaça. Tradução mais fiel impossível do que o cigarro promove.

Durante a obra, Baby entra para um grupo que combate o vício do cigarro. O problema é abordado de forma bem sutil e não permite que o público reflita sobre o fato. O que interessa ali é a vida da solitária moça e não os males que o produto pode vir a causar. É sempre bom quando se utiliza um novo olhar sobre um tema que já está bastante batido.

A trilha sonora é outro ponto forte do longa. Ela é explorada em suas melhores oportunidades e não deixa a desejar em nenhum momento. Destaque para a cena em que o músico dedica a canção “Baby” para a sua namorada que tem o mesmo nome, quando o romantismo da cena é quebrado quando o dono do estabelecimento pede para ele voltar a tocar samba. Algo que deixou a desejar foi o toque de comédia que não tem efeito.

Simples e eficiente, “É Proibido Fumar” agrada por tratar o problema do cigarro como algo simples e próximo da realidade. Glória Pires é a prova de que é possível variar o repertório do cinema nacional. Seja na comédia,  no drama, seja no suspense, ou até quando tudo estiver junto.

Marcus Vinicius
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