Por mais impressionante que seja o sucesso de um projeto como "Atividade Paranormal" junto aos blockbusters americanos, isso não torna o filme automaticamente bom. O que é mostrado na tela é um longa tedioso, chato e pouco assustador.
Existem coisas na vivência doméstica dos estadunidenses que são engraçadas. Inúmeras vezes, em brigas de casais na telinha ou na telona retratadas em histórias fictícias vindas de lá, o público pôde ver o domicílio de um casal ter algum problema, a esposa pedir para o marido chamar um especialista (geralmente um eletricista, pedreiro ou bombeiro hidráulico), mas decidir resolver tudo por conta própria e acabar por piorar tudo. Esse clichê, bastante repetido, é o argumento de “Atividade Paranormal”.
Sim, a base principal do que vem sido apontado como “o filme mais assustador da década” é um chavão de comédias. Escrito e dirigido por Oren Peli, que realizou o projeto por módicos US$ 15 mil dólares, a fita acompanha o casal Katie (Katie Featherston) e Micah (Micah Sloat), dois típicos americanos trabalhadores, que passam por uma situação incomum. Katie vê eventos estranhos acontecendo em sua nova casa e Micah resolve filmar o tal fenômeno com uma câmera.
A partir daí, “vemos” (entre aspas mesmo) os dois sendo cada vez mais perturbados pela tal atividade paranormal do título e ignorarem os conselhos de um psíquico, que os recomenda chamar um demonologista para lidar com a situação. O filme todo é mostrado pela fita na câmera de Micah, como se o público a tivesse encontrado, não muito diferente do que ocorreu em “A Bruxa de Blair”, fita que claramente inspirou Peli nesta produção.
Se a escuridão e a paranoia marcavam aquela fica graças ao temor do desconhecido representado pela floresta, em “Atividade Paranormal” o cenário se restringe à residência suburbana do casal protagonista, algo nada aterrorizante. Ora, o que deveria assustar o público seria a segurança do lar de Katie e Micah ser quebrada, com eles dois se sentido animais acuados em sua própria toca.
No entanto, quase nunca o espectador consegue sentir que aqueles dois estão realmente ameaçados, com o fenômeno se restringindo a ruídos e lençóis se movendo “sozinhos” durante boa parte da projeção. Nos últimos vinte minutos é que situações mais pesadas começam a ocorrer, mas é provável que o público já tenha sido vencido pelo tédio.
A montagem esquemática da fita a torna extremamente enfadonha, com uma discussão do casal, filmagem do fenômeno paranormal (algo como um lençol se mexendo), os dois comentando a filmagem, brigando depois de ver a fita… Esse padrão acontece por mais de uma hora, tornando o filme ridiculamente repetitivo.
Esteticamente, nada chama muito a atenção no filme, que mais parece algo do projeto Dogma 95, já que não há maquiagem para os atores, iluminação além daquela da própria câmera ou mesmo trilha sonora, algo que deveria dar mais realismo e tensão ao filme, mas que acaba por denunciar seu caráter amador, não funcionando para dar o ar de documentário desejado pelo realizador.
É preciso reconhecer o esforço da equipe do longa em realizar os efeitos práticos do filme com relação às ações do fenômeno considerando o orçamento limitadíssimo da produção, mas ver uma fronha se movendo ou uma televisão ligando sozinha só assusta mesmo se for na sua casa, não em um filme.
Aliás, temos de dar os parabéns para Micah, já que o personagem se torna um dos mais idiotas dos últimos anos por ser um corretor de ações que, aparentemente, sempre quis ser um dos caça-fantasmas e acaba colocando a namorada e a si mesmo em risco por conta disso, ignorando qualquer conselho ou bom-senso na hora de lidar com a tal aparição. A imbecilidade do rapaz acaba sendo mais um fator negativo (ou cômico), pois o público acaba torcendo para que, seja lá o que tiver na casa, mate-o logo.
Por quase uma hora de filme, se arrasta uma discussão sobre chamar ou não alguém que entenda do assunto e, mesmo depois que Micah passa a acreditar na existência do fenômeno, ele diz que é completamente capaz de lidar com aquilo. Até mesmo o ator que vive a tal figura, Micah Sloat, parece não engolir algumas ações de seu personagem, tornando a situação ainda mais ridícula.
Já Katie Featherston, ao encarnar sua personagem homônima, se torna um dos poucos pontos positivos nesta produção. Carismática, bonita (sim, isso ajuda), ela encarna bem o estereótipo da vítima em um filme de terror. Sem querer o risco de dar grandes spoilers, basta dizer que sua reação ao descobrir a verdadeira natureza da ameaça que a cerca, além de plenamente crível, levam a sua personagem a um ponto extremamente interessante, com a atriz conseguindo conduzir muito bem sua Katie em um momento crucial do filme.
Infelizmente, tal sequência vem tarde demais para tentar redimir quase 80 minutos da mais pura chatice. Oren Peli ganharia a nota 10 se “Atividade Paranormal” fosse um trabalho de conclusão de curso em uma faculdade de cinema. No entanto, no momento em que o filme é lançado comercialmente em salas de cinema, o nível é outro. A única lição que esta película deixa é que, em caso de fenômenos paranormais, não tente resolver sozinho. Para quem você vai ligar? Bom, tem um tal de Dr. Peter Venkman que dizem ser muito bom nisso…