Quando um filme faz parte da própria tessitura da cultura pop pode se dizer que ele é eterno, não envelhecendo jamais. Esse é o caso do primeiro "O Planeta dos Macacos", um verdadeiro clássico da ficção científica que permanece atual e assustador até hoje.
Não é raro ver algum exemplar de qualquer mídia que faça uma referência ao final de “O Planeta dos Macacos”, onde o astronauta Taylor, vivido por Charlton Heston grita horrorizado após a terrível constatação de onde e quando está. No entanto, o terror transmitido por aquela cena só pode ser compreendido quando o espectador se faz o favor de assistir este marcante filme por completo.
O filme é baseado no livro de Pierre Boulle, roteirizado por Michael Wilson e Rod Serling e dirigido por Franklin J. Schaffner, tendo sido lançado no hoje distante ano de 1968. O fato de ser um filme com mais de 40 anos de idade pode assustar muita gente, mas não se engane: as lições e o temor trazido por esta história ainda colocam medo em várias pessoas. Em seu início insuspeito, a fita mostra um grupo de astronautas liderados pelo arrogante Taylor em uma jornada à velocidade da luz no espaço.
Seguindo a teoria da relatividade, o tempo passa bastante devagar para eles, tendo passado apenas alguns poucos anos desde o início de sua jornada, do ponto de vista deles. Já na Terra, centenas de anos já transcorreram. Após entrarem em modo de hibernação, com milhares de anos tendo se passado no nosso planeta, Taylor e seus companheiros acabam caindo em um planeta desconhecido e aparentemente selvagem. Logo, eles se descobrem em um mundo de pesadelo, onde humanos primitivos e mudos são controlados por uma raça de macacos intelectualmente desenvolvidos.
Capturado e tratado como uma aberração, Taylor conta apenas com a ajuda de um casal de gentis cientistas progressistas, Zira (Kim Hunter) e Cornelius (Roddy McDowall) cujas teorias sobre a relação entre humanos e macacos vêm chocando a sua sociedade, provocando reações do conservador Dr. Zaius (Maurice Evans). Com a chegada do terráqueo, Zaius vê seu mundo ameaçado e fará de tudo para silenciar seus colegas e conter Taylor. Mas há mais mistérios no planeta dos macacos que o próprio protagonista pode supor inicialmente.
A primeira coisa a ser notada no filme é que, com exceção das maquiagens dos símios, pouquíssimos efeitos especiais são utilizados na produção, ajudando e muito na conservação visual do longa. Até mesmo a maquiagem dos atores, mesmo dificultando a atuação destes, não se tornou engraçada ou tosca aos olhos atuais. Deste modo, as mensagens do filme conseguem ser transmitidas muito bem para o público atual sem sofrerem grandes interferências.
Ressalte-se o ritmo perfeito do filme, em um crescendo magistral orquestrado pelo diretor Schaffner, que trabalhou bem na montagem da fita ao lado do editor Hugh S. Fowler. Em um clima de tensão constante, os mistérios da trama são revelados aos poucos, mantendo o espectador grudado na tela até o último frame da película. Sem cenas de ação extremamente elaboradas, ao menos para os padrões atuais, é a própria história e seus interessantes personagens que capturam a atenção do espectador.
Nesse sentido, o carisma dos atores é algo primordial, algo que o já falecido Charlton Heston tinha de sobra. Seu Taylor começa como um arrogante e prepotente astronauta, sempre cínico e disposto a ter a última palavra. Com o passar do tempo e seu crescente desespero ao se ver em um cenário saído de um pesadelo surreal, ele passa a se tornar uma figura mais calma, embora não perca suas características principais.
É interessante ver como seu relacionamento com a bela Nova (Linda Harrison) se desenvolve. Não há diálogos entre os dois, mas um carinho crescente e uma necessidade da sensação de companhia. O diálogo de Taylor e suas emoções mais fortes vão para seus “patrocinadores”, Zira e Cornelius, e para seu complexo antagonista, o Dr. Zaius, com os atores que interpretam esses personagens tendo de fazê-lo sob pesada maquiagem. No entanto, isso não os impede de criarem tipos tremendamente marcantes.
A personagem de Kim Hunter tem uma relação quase maternal para com o humano Taylor, mas existem algumas fagulhas de tensão sexual presentes ali e elas não são nada sutis, culminando com o famoso beijo inter-espécies. O Cornelius de Roddy McDowall sente sim uma pontada de ciúmes, mas logo vemos que ele é o ser mais lógico e centrado em cena. No entanto, a figura na tela mais interessante é, sem dúvida, o Dr. Zaius.
Vivido com uma convicção fenomenal por Maurice Evans, Zaius é um fervoroso defensor da sociedade símia e possui conhecimento o suficiente sobre o passado desta para saber que Taylor é uma ameaça concreta ao seu mundo. Em um diálogo primoroso com um jovem progressista, Zaius afirma que seus atos são todos em prol do futuro das crianças de sua raça e em momento algum duvidamos de suas intenções, mesmo que ele aja através de ações repulsivas.
Levantando questões sobre o papel do homem no planeta e a natureza destrutiva e belicista da humanidade, “O Planeta dos Macacos” é uma obre extremamente madura e adulta, devendo ser conferida não apenas por seu valor histórico e cultural junto à sétima arte, mas como uma alegoria séria realizada em uma época na qual a humanidade podia ver seu fim a qualquer momento. Que triste perceber que, nesses quarenta anos, pouca coisa mudou em relação a isto. Recomendado.