Cinema com Rapadura

Colunas   domingo, 08 de janeiro de 2012

Livros: Cormac McCarthy e sua arte peculiar de contar grandes histórias

Ele é o autor de "Onde os Fracos Não Têm Vez" e "A Estrada".

Você já parou para pensar no que motiva um escritor a fazer um filme sobre faroeste? Daqueles onde o mais forte sobrevive e a cidade tem aquele feno que percorre o cenário perfeito de uma terra sem lei? Ou o que levaria alguém a escrever sobre um filme apocalíptico? Onde tudo o que sobrou de uma família foi o pai e seu filho pequeno? Para Cormac McCarthy, a resposta, dada uma entrevista concedida a Oprah, é muito simples: “eu não preciso de um motivo, apenas quero contar uma história”.

O autor, que publicou “Onde os Velhos Não Tem Vez” em 2005, caiu nas graças dos críticos à época do lançamento, mas  só foi descoberto pelo grande publico com a adaptação cinematográfica da sua obra para o cinema em 2007. O tema? O velho oeste. Mesmo com um tema tão adverso para um romance hoje em dia, o livro fez sucesso e chamou a atenção dos Irmãos Coen. E dois anos depois chegaria às telas do cinema sob o título, no Brasil, de “Onde Os Fracos Não Tem Vez”. Em seu elenco o filme conta com Tommy Lee Jones (“Capitão América: O Primeiro Vingador”), Javier Bardem (“O Amor nos Tempos do Cólera”) e Josh Brolin (“Bravura Indômita”). Vencedor de quatro Oscar, incluindo melhor filme em 2008, o longa baseado na obra de McCarthy levaria ainda mais 75 prêmios internacionais.

Em 2006 o autor foi agraciado com o Pulitzer de Literatura por “A Estrada”. Uma adaptação ganharia as telas em 2009. Com direção de John Hillcoat, roteiro de Joe Penhall (“O Último Rei da Escócia”), o filme seria estrelado por Viggo Mortensen (“O Senhor dos Aneis: O Retorno do Rei”) e Kodi Smit-McPhee (“Deixe-me Entrar”). Ainda em 2006, McCarthy publicaria a peça “The Sunset Limited”, que seria adaptada para TV. Em fevereiro de 2011, a série de mesmo nome seria produzida e dirigida por Tommy Lee Jones. O elenco do seriado também conta com Samuel L. Jackson.

Em 2010, o The Times colocou “A Estrada” ocupando o primeiro lugar na sua lista de 100 melhores livros de ficção e não-ficção dos últimos 10 anos. Frequentemente comparado pelos críticos modernos a William Faulkner, McCarthy tem sido muito cotado a ser o próximo ganhador do Prêmio Nobel de Literatura. Mas não é apenas isso. A vida literária do autor é um mais extensa. Outras obras também ganharam destaque no cenário literário como A trilogia da Fronteira. Que tal conhecer um pouco mais dessa caminhada do autor?

McCarthy ao lado dos irmãos Coen.

Terceiro filho do casal Charles Joseph e Gladys Christina McGrail McCarthy, Cormac nasceu em Rhode Island, em 20 de julho de 1933, onde morou até os quatro anos de idade. Em 1937, a família se mudaria para Knoxville, no Tennessee, onde seu pai trabalharia como advogado do Tennesse Valley Authority. Com um pai sempre em busca de melhores condições, para ele e os cinco irmãos, em 1967 os McCarthy novamente se mudariam, dessa vez para Washington, onde seu pai trabalharia em uma firma de advocacia até sua aposentadoria.

Porém, nem só de mudanças de estado viveu o nosso autor nesse período. Em 1951, Cormac foi para a universidade do Tennessee estudar artes, o que não durou muito, pois em 1953 ingressava para a  Força Aérea Americana onde serviu durante quatro anos. Mesmo assim, o autor viu durante dois anos a oportunidade de pôr em prática seu lado criativo, ao ser encarregado de um programa de rádio no Alaska. Passado o serviço militar McCarthy voltaria a Universidade do Tennessee, onde publicaria duas historias no The Phoenix e ganharia o The Ingram-Merrill Award por escrita criativa em 1959 e 1960.

O primeiro romance do autor, “The Orchad Keeper”, foi publicado pela Random House em 1965. McCarthy contou, em uma das poucas entrevistas que concedeu, que decidiu enviar o script para Random House porque “era a única editora da qual ele tinha ouvido falar”. Já na editora, o manuscrito encontrou seu caminho nas mãos de Albert Erskine, que foi editor, também, de William Faulkner até a sua morte em 1962. Erskine continuou a editar o trabalho de McCarthy pelos próximos 20 anos.

McCarthy com o diretor John Hillcoat.

Foi também durante o verão de 1965, usando o dinheiro da bolsa de estudos da American Academy of Arts and Letters, que McCarthy embarcou no navio Sylvania, esperando visitar a Irlanda e acabou se apaixonando. A bordo, conheceu Anne DeLisle, que trabalhava como cantora no navio. E no ano seguinte já estavam casados. Anne seria a primeira de um total de três esposas. Em 1966, McCarthy recebeu uma bolsa da Rockefeller Foundation, a qual ele usou para viajar pelo sudeste europeu antes de chegar a Ibiza, onde escreveu seu segundo romance, Outer Dark. Logo após ter retornado à America com sua esposa, Outer Dark foi publicado ganhando aprovação da crítica.

Pacato e sempre prezando por sua privacidade, McCarthy se mudou, em 1969, para Louisville, Tennessee. Lá comprou, juntamente com a esposa, uma fazenda, a qual ele reformou e executou todo o trabalho pesado. Aqui ele escreveu seu próximo livro, Child of God, baseado em fatos reais. O livro foi publicado em 1973 e, assim como o anterior, Outer Dark, a história se passa no da Appalachia. Em 1976, McCarthy se separou de Anne DeLisle e se mudou para El Paso, Texas, onde escreveria e publicaria, três anos depois, seu romance “Suttre”, no qual esteve trabalhando em paralelo nos últimos doze anos.  Vivendo da bolsa que recebeu em 1981 da MacArthur, escreveu seu próximo romance, “Blood Meridian, or The Evening Redness in the West”, o qual foi publicado em 1985. O livro ganhou seu espaço no circuito literário.

Em 2006, uma equipe de autores e editores foi convidada pelo The New York Times para listar os melhores livros americanos publicados nos últimos 25 anos. “Blood Meridian” ficou em terceiro lugar, atrás apenas de “Beloved”, de Toni Morrison, e “Underworld” de Don DeLilo.

Mas foi apenas em 1992 que McCarthy finalmente conseguiu seu reconhecimento. “Todos os Belos Cavalos” chegaria às livrarias e com ele viria o National Book Award e o National Book Critics Circle Award. Seguido por “A Travessia” e “A Cidade das Planícies”, o livro completa o que o autor chamou de trilogia da Fronteira.

Atualmente, McCarthy está trabalhando em três novos livros. Um se passa em 1980 em New Orleans e conta a história de um homem que tenta lidar com o suicídio da irmã. Segundo o autor, esse será seu primeiro trabalho em que a história gira em torno de uma personagem feminina. McCarthy atualmente mora em Tesuque, Novo México, área ao norte de Santa Fé, com a sua esposa Jennifer Winkley e seu filho John.

Leilane Soares
@

Compartilhe

Saiba mais sobre


Conteúdos Relacionados