Cinema com Rapadura

Colunas   quarta-feira, 22 de maio de 2019

Sete motivos que provam que Avatar: A Lenda de Aang é melhor que Game of Thrones

A oitava temporada de "GoT" foi bastante criticada devido aos equívocos de roteiro. Então, reunimos os mesmos pontos trabalhados nas duas obras e mostramos o quanto "Avatar: A Lenda de Aang" é superior nesse quesito.

Uma série pode ser considerada grandiosa por diversos fatores, mas nenhum é tão importante quanto manter o nível da história que está sendo contada. Não há nada mais frustrante do que se apegar a personagens e narrativas únicas e especiais para, à medida que o fim da produção se aproxima, tudo ser posto à perda. Não há como não associar essa ideia ao final da última temporada de “Game of Thrones”, visto que o clamor popular foi quase uníssono em não perdoar os diversos equívocos da série.

Depois disso, fica o questionamento: alguma série começa e termina em níveis igualmente próximos à perfeição? Exemplos até vêm à mente rapidamente, como “Breaking Bad” e “Mad Men”. Mas e se você soubesse que existe uma outra produção seriada, que além do seu primor irreparável em contar uma história com começo, meio e fim, ainda apresenta diversas semelhanças com a produção da HBO, porém entregando exatamente o que os fãs da obra queriam ver? Pois é, se está à procura de algo que suavize o gosto amargo deixado por “GoT”, corra para assistir “Avatar: O Último Mestre do Ar”.

A produção trata-se de uma animação americana com forte influência de animes e mangás, traduzida como um épico inspirado na mitologia oriental, mas que também é notável por trazer mensagens sobre amor e poder de forma palatável para absolutamente qualquer idade. Ainda não está convencido? Então segue lendo porque enumeramos sete situações em que “Avatar: O Último Mestre do Ar” prova ter uma história muito mais coesa e coerente do que “Game of Thrones”.

Mas do que se trata afinal?

Pra você que não viu não ficar perdido, “Avatar” (a partir de agora citado assim, não confundir com o filme de James Cameron) conta a história de um mundo onde existem pessoas excepcionais capazes de dominar (ou dobrar) um dos quatro elementos: ar, água, terra e fogo. Cada elemento concebeu uma sociedade em volta de si, originando as Tribos da Água, localizadas nos extremos Norte e Sul; a Nação do Fogo, um arquipélago mais a oeste; o Reino da Terra, gigantesco continente entre o centro e o leste; e os Nômades do Ar, abrigados em templos nos quatro cantos do mundo.

Cada nação tem seus próprios costumes e identidade única, além de possuírem cores predominantes em seus ambientes que os diferem (azul, vermelho, verde e branco, respectivamente). O conceito de sociedade é tão bem trabalhado que até dentro das mesmas nações existem diferenças gritantes, como a exclusão de mulheres do treinamento de dobra de água apenas na Tribo do Norte, ou as diferenças abissais de privilégios entre os moradores de Ba Sing Se, a maior cidade do Reino da Terra.

Para manter o equilíbrio do mundo, um ser é capaz de dominar os quatro elementos: o Avatar. Sempre que o Avatar morre, ele reencarna em outra nação, com a missão de treinar a dobra de cada elemento e resolver as adversidades do planeta. Esta é a base da mitologia de “Avatar”, mas para entender a história do Avatar Aang e sua equipe, recomendamos fortemente que você assista esta excelente obra de animação, que possui 60 episódios de aproximadamente 20 minutos cada e é facilmente maratonável. A partir de agora, daremos todos os spoilers de “Avatar” e da última temporada de “Game of Thrones”, para provar que a série animada possui uma história muito melhor construída do que a megaprodução da HBO.

Loucura concebível de uma personagem poderosa

Pode falar o que quiser, a verdade é que a trama da Rainha Louca dada à Daenerys foi sim apressada, porque mostrar indícios é bem diferente de dar uma construção sólida à uma narrativa. Ela foi perdendo os seus próximos, mas o tempo de tela dado para mostrar os reflexos dessas perdas na sua personalidade foi mínimo. Tanto que quando a Mãe dos Dragões realiza o massacre em Porto Real, as discussões sobre a mudança “““repentina””” foram inúmeras. E quando não há um mínimo consenso, possivelmente estamos diante de um problema de roteiro.

Diferente do que foi feito com a princesa Azula, vilã apresentada na segunda temporada de “Avatar” e uma das personagens mais bem construídas da série. A filha do Senhor do Fogo Ozai e irmã de Zuko é autoritária e opressora, buscando agradar apenas a ela mesma e a quem possa lhe dar mais poder. Isso acaba afastando suas cúmplices e melhores amigas May e Ty Lee, além de seu espírito opressor ser atormentado pelo afeto de sua mãe que ela jamais aceitou. Quando chega ao tão almejado posto de Senhora do Fogo, ela está completamente isolada, o que a leva a tomar decisões questionáveis e perder toda a precisão e calma que (quase) sempre mostrou. Depois de chegar ao poder, ela não tinha com quem dividir nada, ninguém em quem confiar. A loucura e a solidão acabaram consumindo uma das maiores dominadoras de fogo que já existiu.

Arco de redenção não foi jogado no lixo

Por falar em Zuko, o que dizer desse que foi um dos melhores arcos de redenção já visto em qualquer mídia, tão bem trabalhado que durou do primeiro ao último episódios. O filho renegado do Senhor do Fogo Ozai foi expulso da Nação do Fogo e condenado a perseguir e capturar o Avatar – até então desaparecido por 100 anos – para recuperar a sua honra. Na primeira temporada, esse era o objetivo cego de Zuko, mesmo advertido pelo sábio Tio Iroh que a raiva não iria levá-lo à redenção. Na segunda temporada, ele passa a compreender mais sobre si mesmo e a vida e entende que não é o seu pai que lhe devolverá a honra, mas sim ele mesmo. Porém, a oportunidade de capturar o Avatar surge de mão beijada, e ele acaba traindo seu tio e indo para o lado da irmã que tanto o perseguiu. Ele volta à nação do fogo com honras de herói na terceira temporada, respeitado por todos, inclusive pelo pai, que o reintegra ao alto escalão da Nação do Fogo. Porém, depois de finalmente ter o que tanto buscou, Zuko percebe que não era isso que queria de fato, até que ele deixa a Nação do Fogo e será o responsável por ensinar a dobra de fogo ao Avatar, afinal nenhum outro dominador de fogo consideraria isso. A redenção que ele tanto buscava não era com sua família, mas com todo o mundo. E ele a atinge completamente após vencer Azula e tornar-se o Senhor do Fogo responsável por restabelecer a paz ao lado do Avatar Aang.

Viu só que arco fantástico? Sir Jaime Lannister tinha potencial para algo tão maravilhoso quanto, afinal sua redenção vinha sendo trabalhada desde a terceira temporada de “Game of Thrones”, inclusive chegando a contrariar a própria Cersei no fim da sétima temporada. Porém, dois episódios foram suficientes para desconstruir toda a história de Jaime, que sem um motivo aceitável alegou o amor incondicional para voltar para os braços da irmã gêmea. Que fique claro: a queda da jornada de redenção não é o problema em si, mas sim o descuido e a pressa ao fazer isso acontecer, ainda mais em algo tão bem estabelecido nas temporadas anteriores. Potencial desperdiçado.

Relacionamento saudável

Um dos elementos que mais exerceu influência positiva nesse caminho de redenção de Jaime foi Brienne de Tarth. A destemida guerreira foi a primeira a testemunhar que o cavaleiro Lannister possuía bondade no coração, e foi desenvolvendo um sentimento de respeito e admiração que foi se transformando em uma paixão. Contudo, a pressa em concluir as pontas soltas e encerrar a série fizeram com que esse relacionamento, construído de forma visivelmente saudável, ruísse em uma única tomada de decisão. E como se não fosse o suficiente, a cena ainda compromete a construção de Brienne, convertendo-a em alguém frágil que se desespera quando deixada pelo “amor da sua vida”.

Isso é o exato oposto do que ocorre com Suki, representante das lendárias guerreiras Kyoshi. A personagem, além de ter sua força respeitada ao longo de todas as suas participações pontuais nas temporadas, possui um relacionamento que dá gosto de ver com Sokka. O guerreiro da Tribo da Água chega inclusive a se apaixonar por outra pessoa (que se transformou no espírito da Lua, coitado), mas a relação desenvolvida com Suki nunca é esquecida, inclusive com Sokka se retratando por seus pensamentos machistas e pedindo que a guerreira Kyoshi lhe dê a honra de treiná-lo. Isso sim é uma meta de relacionamento!

O cara da carne e do sarcasmo

Sokka é o único da “Equipe Avatar” que não possui a capacidade de dobrar. Entretanto, isso não desvaloriza o personagem, que ganha uma importância ímpar graças aos seus conselhos inteligentes e ao humor espirituoso (a dobradinha dele com Toph é sempre impagável). É sempre de se esperar que Sokka tire da cartola a ideia genial que irá tirar todos das situações de perigo – o que nem sempre acontece. Garantido mesmo é o carisma gigantesco do personagem, que consegue fazer qualquer espectador gostar dele.

Em “Game of Thrones” também temos um personagem assim: Tyrion Lannister. O cara que “bebe e sabe coisas” sempre foi responsável por diálogos ácidos e estratégias brilhantes, algumas pensadas quase que instantaneamente – muito se deve ao fato dele ter que usar sempre a inteligência ao seu favor para se virar em um mundo preconceituoso. Mas, especificamente depois que virou Mão da Rainha Daenerys, os conselhos de Tyrion não são considerados os mais “espertos”, por assim dizer. Sem falar na clara diminuição dos momentos sarcásticos do personagem, que perdeu muito da preferência das câmeras e não aparece tanto quanto nas temporadas iniciais.

Habilidoso e útil

Digamos que o último conselho dado por Tyrion em “GoT” teve influência fundamental nos rumos da série, afinal foi ele quem indicou Bran para o posto de Rei de Westeros. Lembremos que Bran foi de quase morto no primeiro episódio ao status máximo que se poderia chegar na trama, além de ser o detentor de todo o conhecimento da história, sendo capaz de enxergar no passado e no futuro. Mas, isso serviu pra quê mesmo? Revelar que o Jon é um Targaryen? Para o poder que representa, acabou não sendo muito útil assim não é?

Totalmente diferente de Toph Beifong, tida por muitos como a melhor personagem de Avatar. Aparentemente uma jovem cega e indefesa filha de uma família abastada, ela se revela como a maior dominadora de terra do mundo (frase dita por ela mesma), sendo capaz de usar sua limitação física como forma de apurar ainda mais a sua dobra – ela sente presenças através da dominação, conseguindo “enxergar” pela terra. Não bastasse ser a responsável por livrar a Equipe Avatar das maiores enrascadas graças ao seu pensamento rápido e sua habilidade de “enxergar além do alcance”, Toph se supera ao fim da segunda temporada ao inventar a dominação de metal, quando ela percebe que a terra está presente na composição do material. Isso é absolutamente essencial para os planos de invasão da Nação do Fogo, visto que trata-se de um continente altamente industrializado, com metal por todos os lados. Parece que temos um poder realmente útil aqui, hein?

Acreditando no poder dos personagens

É fato que a Equipe Avatar possui os melhores dos melhores, assim como os protagonistas de “Game of Thrones” também têm “muitos hitpoints”, por assim dizer. Contudo, é preciso haver desenvolvimento suficiente para que os espectadores realmente acreditem no poder dos personagens. Isso pode ser feito de duas formas. A primeira delas é contando uma história, como é feito, por exemplo com Robert Baratheon, em que é necessário que acreditemos piamente que aquele glutão foi um grande guerreiro. Meio óbvio que essa forma não é lá muito eficaz; como diz o ditado, temos que ver para crer. Já a segunda e mais eficiente maneira de demonstrar poder é mostrando o desenvolvimento do personagem em tela, e é inegável que Katara é o melhor exemplo a se seguir.

A dominadora de água da Tribo da Água do Sul enfrentou tudo que se pode imaginar desde sempre. Ela perdeu a mãe muito nova em um ataque da Nação do Fogo em busca de dobradores. A mãe protegeu-a com sua vida. Além disso, a dobra não é praticada em sua tribo, então ela vê em Aang a oportunidade para viajar até a Tribo da Água do Norte para aprenderem juntos. Aí que ela encontra uma tribo extremamente machista que proíbe as mulheres de dominarem para lutar, usando seus dons apenas para cura. Katara não só enfrenta o sistema, como se mostra a mais poderosa mestra de dominação de água do lugar, e a mais dedicada a aprender sempre mais. O sofrimento é tamanho que ela precisou agir para trazer Aang de volta à vida após um golpe fatal dado por Azula, onde o Avatar foi salvo graças às habilidades de cura de Katara. Ela ainda aprendeu a técnica de dominação de sangue para salvar seus amigos, algo que ela mesma considerou repulsiva. Tudo culmina no encontro de Katara com o homem que tirou a vida de sua mãe, quando em um dos momentos de maior grandeza da série, ela desiste de matá-lo no último segundo, mostrando o quanto ela é superior. Que desenvolvimento fabuloso!

Depois de um resumo que não mostra nem 10% do que Katara passou de verdade para ser essa dominadora inacreditavelmente forte, como falar de um personagem como Euron Greyjoy, surgido absolutamente do nada, com um punhado de cenas mostrando sua personalidade ascosa, e precisando convencer a todos de que ele é tão forte que vai ser capaz de levar os exércitos de Cersei à vitória (com direito a assassinato de dragão)? Difícil…

Herói e vilão na batalha final

Por fim, o fim. A batalha final. A culminância de tudo que foi mostrado e a revelação de para onde tudo vai. Nesse quesito, “Avatar” é capaz de bater de frente com absolutamente qualquer obra que você imagine. O duelo definitivo entre o Avatar e o Senhor do Fogo Ozai, prenunciado desde meados da primeira temporada, é um embate inesquecível. Com duração de quatro episódios (fiquem tranquilos, mais coisas acontecem além da batalha, não é “Dragon Ball Z”), temos o confronto entre um Avatar totalmente realizado e um dos maiores dominadores de fogo com seu poder aumentado em 100x graças à passagem de um cometa. Além da batalha épica, a resolução final é não só inacreditavelmente poética mas também faz todo o sentido com a personalidade de Aang construída desde o primeiro episódio. É simplesmente impossível não se emocionar.

Agora precisamos falar sobre “Game of Thrones”. Se você perguntar a 100 pessoas quem era o grande herói de “GoT” antes da temporada final, uma quantidade considerável responderia Jon Snow. O (antes) bastardo de Ned Stark, exemplo de moral e retidão tal qual o patriarca dos Starks, chegou ao ponto de ser trazido de volta à vida para cumprir algum propósito do Senhor da Luz. Agora paremos um minuto para pensar que propósito foi esse. Matar o Rei da Noite? Seria o mais provável, afinal ele era o grande vilão da série desde sempre. Mas não. Matar Cersei, talvez? Já que a ameaça dos Caminhantes Brancos cessou, a rainha Lannister era a grande figura a ser derrotada. Também não. Será mesmo que esse grande propósito era matar Daenerys, enxergada como vilã apenas a partir do penúltimo episódio da série, e ainda por cima da forma mais ordinária possível? Já investimos nossas fichas no Jon, onde está a batalha que o herói precisa enfrentar?

Se fica uma lição depois desse texto, é que vale muito à pena investir um tempinho em “Avatar: A Lenda de Aang”. A obra conta com episódios curtos, então é possível assistir vários de uma vez, tem spin-off (“A Lenda de Korra”), e é uma ótima pedida pra tirar o gosto de cinzas e sangue que “Game of Thrones” deixou.

Fonte: https://www.reddit.com/r/virginvschad/comments/bp0mi0/chad_avatar_the_last_airbender_vs_virgin_game_of/

Martinho Neto
@omeninomartinho

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