Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 19 de setembro de 2009

Tempos de Paz

Depois do estrondoso sucesso de “Se Eu Fosse Você” e de sua seqüência, Daniel Filho decide investir em um novo estilo. Em “Tempos de Paz”, filme baseado na peça teatral “Novas Diretrizes em Tempos de Paz” de Bosco Brasil, ele consegue realizar um projeto pessoal como diretor e produtor e ainda participa atuando, o que leva a crer que faltou apenas um pouco mais de dedicação a sua função maior de diretor.

Em abril de 1945 os combates da 2º Guerra Mundial já cessavam na Europa, mas o Brasil ainda estava tecnicamente em guerra. Nesse contexto, A história narra a batalha travada entre o imigrante polonês Clawsenvitz (Dan Stulbach) e Segismundo (Tony Ramos), chefe da imigração na Alfândega do Rio de Janeiro. Isso acontece por que o fim da Guerra é o que tira a paz de Segismundo. Ele teme a vingança de seus ex-prisioneiros. E o chefe da imigração na Alfândega do Rio de Janeiro Segismundo é quem decide quem entra ou não no país. O imigrante tem que usar todo o seu talento de ator para provar que não é um seguidor de Hitler. Assim, a obra retrata um período crítico da história brasileira e fala principalmente da luta pela vida.

Dono da maior bilheteria nacional desde a retomada do cinema no país com a seqüência “Se Eu Fosse Você 2”, Daniel Filho, dessa vez, dirige um filme que mais parece uma realização pessoal sua. Seja produzindo, seja atuando, e principalmente dirigindo, ele mostra a preocupação em transmitir exatamente a mensagem da peça teatral, sua originalidade e franqueza. Além disso, ele também tem de objetivo de homenagear imigrantes europeus que chegaram ao Brasil após a Segunda Guerra Mundial.

Inicialmente a obra começa lenta e inevitavelmente cansativa. A primeira cena, a bordo de um navio, com Dan Stulbach falando em polonês visivelmente redublado em estúdio já mostrava um pouco do que vinha pela frente, mais um filme da Globo com um roteiro muito semelhante aos de suas novelas. Embora predominantemente isso ocorra, em diversos momentos, a película consegue convencer muito devido a dois nomes que fazem a diferença por onde passam. O Talento de Tony Ramos (“Se Eu Fosse Você”) não chega a ser novidade, já que ele é reconhecidamente um dos maiores atores nacionais, o que impressiona é a facilidade que ele tem para se adaptar ao meio, gênero, papel, e tudo que se apresentar a sua frente. Sensacional.

O outro grande nome do filme não é o de Daniel Filho, que embora tenha muitas funções no longa, não consegue dá o melhor de si a todas. Dan Stulbach (“Viva Voz”) lembra o ator americano Tom Hanks não só pela aparência, mas também pelo talento. É visivelmente perceptível a dedicação que ele tem para dá o maior realismo possível ao imigrante polonês que, ao final, consegue arrancar lágrimas de todos. A dobradinha que ele faz com o Tony é uma verdadeira aula de tudo que se possa transmitir artisticamente.

A fotografia apresenta-se no ponto certo. A qualidade de suas imagens na representação do período em que se passa a história muito agrada. Ao contrário de outras produções globais, aqui está tudo no lugar, não há exageros, nem tons gritantes. Tudo representa muito bem o que o tem que ser. E mesmo filmado em apenas 10 dias, seu resultado visual é bastante eficiente e vale a pena ser conferido.

Na segunda metade da película, a lentidão dá lugar a um envolvimento crescente que finalmente desperta no público à vontade pela obra. Mas já não seria tarde demais? Talvez. Mas é importante que se diga que a obra atinge um ritmo bem interessante que, ao final, proporcionará cenas marcadas pela emoção. Quem assistisse ao filme a partir da metade, sem dúvida, o chamaria de excelente. O problema é ter que resistir aos minutos iniciais sem dá aquele cochilo.

Repleto de boas intenções e mais acertos do que falhas, “Tempos de Paz” mostra a preocupação do diretor em fazer um trabalho despreocupado em conseguir grandes bilheterias e feito principalmente para sua realização pessoal. Uma obra que agrada principalmente pela atuação de seus protagonistas. Tempos de paz para Daniel Filho, ele merece.

Marcus Vinicius
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