Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 08 de setembro de 2009

Sequestro do Metrô, O

O diretor Tony Scott tenta com a repetição da parceria com Denzel Washington e com a utilização de recursos visuais, sobretudo na textura da imagem de seus filmes, mas tanto cuidado com a repetição de acertos de outros trabalhos fez com que ele deixasse passar muitas falhas e excessos.

Com um elenco encabeçado por Denzel Washington que, aqui, faz o seu quarto trabalho em parceria com o diretor, e com a participação de John Travolta na pele de um vilão que chama a atenção por seu caráter peculiar, o longa traz um enredo tradicional com direito a sequestro de um veículo com muitas pessoas inocentes dentro, um vilão bem maluco, a mobilização da sociedade para a solução do caso, muita violência com os reféns, e o principal, o surgimento de um novo herói para a sociedade. É inevitável a sensação de “já vi isso em algum lugar”.

Na história, um metrô é tomado por um grupo de sequestradores que pedem em troca da vida dos reféns a quantia de 10 milhões de dólares. Até o prefeito é acionado para tentar resolver o problema. Para aumentar mais ainda a adrenalina, ele ameaça matar um refém por minuto caso não cumpram os prazos. A partir desse momento, a correria toma conta do filme através de cenas de ação pura e de passagens que mais parecem terem sido captadas pela janela de um metrô. É importante lembrar que na versão original no papel de Travolta estava Robert Shaw e a quantia pedida pelos sequestradores era o valor de 1 milhão de dólares. Uma outra mudança foi o número de mortes que aumentaram nesta refilmagem.

Partindo para os detalhes, encontramos uma obra que chama a atenção pelo seu visual. Uma trabalho minucioso de texturização de imagem que o diretor Tony Scott aprendeu a ter na publicidade e trouxe para os seus filmes. Além disso, o ritmo do filme é bem instável. Lento em alguns momentos e acelerado na maioria, ele segue muito bem a cartilha dos filmes do gênero. Destaque para as cenas em que o trem segue desgovernado, provocando um realismo alucinante. E, assim como essa, muitas outras cenas de ação pura incrementam a obra e dão um gás ao seu argumento.

O vilão de John Travolta é de longe o principal destaque da obra. A profundidade do personagem e o talento do ator permitem que o espectador veja um vilão que não está preocupado apenas com o dinheiro. Seus objetivos vão além do que a mente de uma pessoa comum pode imaginar, refletem algo maior, princípios que podem valer mais do que o próprio valor financeiro. É assim que o personagem guia a história fazendo com que todos obedeçam suas ordens e, simultaneamente, questionem-se sobre as mesmas.

Denzel Washington é Walter Garber, um controlador de tráfego do metrô da cidade de Nova York. Ele participa diretamente das negociações do sequestro e, por isso, sofre uma grande pressão com a situação. Embora não tão rico como o personagem de Travolta, ele chama atenção por sua simplicidade e erros cometidos no passado que o fazem refletir sobre suas atitudes. Uma delas a de salvar as pessoas do metrô.

As principais falhas do filme se referem aos seus exageros. Constantemente surgem excessos desnecessários que comprometem as cenas. Um exemplo é a cena em que a namorada tenta conversar com o namorado pelo notebook enquanto o mesmo está dentro do metrô sequestrado. Mais do que isso, ela pede que ele diga que a ama de qualquer maneira, mesmo que alguém o veja e o mate. E se não bastasse, ele ainda obedece e ninguém vê.

Um outro notável exagero foi a cena em que a mulher de Walter Garber pede 4 litros de leite. A cena, que deveria dá um tom dramático, além de não conseguir tal feito, é a representação pura de uma cena forçada. Junto a esta, muitas outras cenas, incluindo o desfecho do longa, poderiam muito bem terem sido deletadas. Além de não fazerem falta, ainda proporcionaria um resultado mais interessante ao filme.

Repleto de falhas, “O Sequestro do Metrô 123” desperdiça um bom elenco, uma bom diretor e uma boa história. Uma obra que merece ser vista apenas por alguns aspectos como a fotografia, pelo fato ocorrido no metrô e principalmente pelo interessante caráter do vilão de Travolta. No mais, o diretor deveria ter lembrado da frase “O menos é mais”, tão utilizada na publicidade que repararia muitas falhas na obra.

Marcus Vinicius
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