Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 06 de agosto de 2009

Lição de Amor

"Lição de Amor" é uma comédia romântica típica, que segue bem de perto a fórmula básica do gênero: casal se conhece, se apaixona, briga e, no final do filme, vive feliz para sempre. Não estou dizendo que isso seja uma coisa ruim, mas fazendo uma mera constatação.

O importante neste gênero cinematográfico não é o caminho, mas como a jornada é mostrada e se os sujeitos e conflitos envolvidos nela são interessantes o bastante para merecerem nossa atenção por noventa e poucos minutos, como é o caso desta produção aqui em análise, ao menos parcialmente.

O longa italiano é baseado no livro de Federico Moccia "Scusa ma ti chiamo amore" que, aliás, é o título original do filme. A trama acompanha o bem sucedido publicitário Alex (Raoul Bova), um trintão que, após ser largado pela namorada Elena (Veronica Logan), entra em uma profunda crise pessoal.

Certo dia, ele acaba trombando (literalmente) com a jovem e espontânea estudante Niki (Michela Quattrociocche), de apenas 17 anos. A despeito da diferença de idade, o entusiasmo de Niki acaba vencendo o bom senso de Alex e os dois começam um relacionamento, enquanto ele se esforça para emplacar uma nova e importante campanha publicitária. Enquanto isso, os amigos de ambos passam por seus próprios problemas amorosos.

A principal qualidade do longa reside em seus protagonistas. No momento em que conhecemos Niki já simpatizamos com ela. Extrovertida, animada, um tanto amalucada e obviamente linda, a personagem é defendida lindamente por sua intérprete, a carismática Michela Quattrociocche.

Já Alex é mais sério e amadurecido, cabisbaixo após uma decepção amorosa e frágil o bastante para mergulhar de cabeça em uma nova paixão, características que o ator Raoul Bova utiliza para transformá-lo em um clássico herói romântico. É interessante notar que eles dois possuem jornadas parecidas, com fantasmas de seus relacionamentos anteriores ainda os assombrando e desafios acadêmicos/profissionais vindouros, em um paralelo interessante,

No entanto, ao invés de focar a trama em seus protagonistas, o longa decide diluir a atenção do espectador em tramas paralelas envolvendo diversos coadjuvantes, cujas histórias não contribuem em nada para o plot central, como a do amigo de Alex, que desconfia da esposa, ou da colega virgem de Niki.

Tempo desnecessário é gasto com essas figuras, fazendo com que o espectador queira que o filme passe logo para resolver os conflitos do casal principal. Até mesmo alguns coadjuvantes que mereciam um maior destaque e que acabam realmente sendo relevantes para Alex e Niki, como o atrapalhado Andrea (Cristiano Lucarelli), ganham bem menos espaço do que o promíscuo Pietro (Francesco Apolloni), cuja única função é fazer um contraponto ao amoroso personagem principal.

A própria estrutura da fita contribui para isso, com a história sendo narrada por um detetive particular (Luca Ward) que mal aparece em cena e que adora ficar citando famosas frases românticas para pontuar momentos do longa. Tais frases, além de serem chavões extremamente conhecidos, pouco importam para o roteiro, basicamente estando lá para dizer que o filme contém alguma erudição.

O diretor Federico Moccia ainda dá sua contribuição para esses "momentos culturais" fazendo questão de colocar as "quotes" em forma de texto no filme, não bastando o voice-over do detetive/poeta. Fora este problema, o filme flui bem, com o cineasta investindo em planos plasticamente bonitos, valorizando o visual de seus atores principais.

Moccia aproveita bem a arquitetura de Roma, com a própria cidade sendo um diferencial em relação às demais comédias românticas em cartaz. A montagem é bem realizada, com a produção mantendo um bom ritmo boa parte do tempo, com exceção dos já citados deslizes. A parte musical do filme também agrada, com sua trilha sonora contando com alguns nomes mais famosos do cenário pop italiano.

Fora o cenário e o idioma, "Lição de Amor" não possui muitas deiferenças em relação a outros filmes de seu gênero, sendo um exemplar bastante regular sustentado pelo carisma de seu casal central. Se o filme investisse mais neles e nos coadjuvantes certos, poderia ser uma obra mais marcante, mas o excesso de personagens e de plots secundários acaba diluindo-o um pouco. Mesmo assim, é uma boa opção!

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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