Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 18 de abril de 2009

Evocando Espíritos

Baseado em um caso real apresentado no documentário "A Haunting in Connecticut" (2002), exibido pelo Discovery Channel, “Evocando Espíritos”, do diretor até então desconhecido nacionalmente Peter Cornwell, proporciona alguns sustos, muitas cenas fortes e uma história confusa e difícil de engolir, por mais que a relatora do fato afirme que tenha ocorrido veridicamente.

No relato de Sara Campbell, seu filho Matt Campbell é diagnosticado com câncer e, por isso, toda a família teve que se mudar para uma casa que se localizava próxima ao local de tratamento do rapaz. Com o tempo, piora o estado de saúde de Matt, aparecem sintomas estranhos e alucinações, o que preocupa a todos. Como se não bastasse, eles descobrem que a nova casa guardava muitos segredos do passado além de ser um centro de trabalhos espíritas.

Entre o desconhecido elenco, destaca-se o bom trabalho de Virginia Madsen, que interpreta Sara, e é a principal responsável pelo desenvolvimento da trama. Quem interpreta seu filho Matt é o jovem Kyle Gallner. Ele também tem um importante trabalho quando seu personagem sofre as alucinações e não consegue entender aquilo que ocorre diante dos seus próprios olhos.

Como toda casa mal-assombrada, a casa da família Campbell segue direitinho o que manda o gênero. O local tem que ser grande e velho, guardar muitos segredos, ter problemas de iluminação, embora este seja causado pelo pai de Matt que faz o favor de quebrar todas as luzes da casa. Também tem que ter um porão empoeirado e muitos lugares secretos. Além de ter em seus domínios espíritos que pertubam qualquer novo morador.

É compreensível que ao fato relatado por Sara tenha sido adicionado alguns ingredientes próprios das produções cinematográficas, mas o problema é que, dessa forma, fica impossível saber se as falhas existentes no roteiro elaborado por Adam Simon e Tim Metcalfe são deles mesmos ou do próprio relato em si que apresenta problemas de concisão. Alguns fatos mereciam ser mais esclarecidos como a história de Reverendo Popescu, um senhor que Matt conhece na clínica de tratamento e que logo oferece sua ajuda ao rapaz para enfrentar os espíritos que o cercam.

Durante os 92 minutos desse terror, a intenção é de o tempo todo causar sustos, seja por um jogo de imagens, pelo forte efeito sonoro, ou por esses dois argumentos juntos. Algumas cenas são muito pesadas por mostrarem uma parte do corpo sendo decepada, isso que já virou marca de alguns filmes do gênero como “Jogos Mortais” e causa uma grande reação no público que, muitas vezes, prefere nem ver a cena. Ao final do longa, ocorrem reviravoltas e exageros, o que torna um tanto confuso e difícil de aceitar.

O problema financeiro dos Campbell, embora seja trabalhado em segundo plano, aproxima o longa do gênero drama. Além disso, ele tem um papel decisivo na história quando, por motivos financeiros, a casa que foi escolhida tinha que atender às necessidades econômicas da família. Isso engrandece o filme e o aproxima da realidade que tanto vendem os realizadores do longa.

Um dos pontos técnicos que merece destaque é a edição de imagens. Ela consegue refletir todos os aspectos intrigantes e misteriosos da obra. Imagens aparecem e somem sem ter nada a ver com a cena, misturam-se objetos, sons, rituais, uma verdadeira loucura. Isso é bom de se ver. Observa-se também um ângulo de câmera nervoso que transporta o espectador de sua poltrona para dentro do longa, passando por detalhes cuidadosamente trabalhados pela boa direção de arte.

O fato real que virou filme poderia ter ficado apenas na vida real, já que no cinema tornou-se uma história pouco crível, cheia de clichês e falhas. Mas é importante ser dito que, embora tenha muitos erros, o filme consegue assustar, perturbar e chocar. E como a própria narradora do longa diz: “considerem-se avisados”.

Marcus Vinicius
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