Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 02 de abril de 2009

Monstros vs. Alienígenas

Código Nimoy! "Monstros Vs. Alienígenas" pode não ter um roteiro brilhante, mas é uma das animações mais divertidas da Dreamworks PDI em muito tempo, tendo elementos suficientes para agradar tanto aos pequenos quanto aos fãs de ficção científica.

Há alguns meses, foi lançado nos cinemas um remake de "O Dia Em Que a Terra Parou" que não agradou aos fãs do original justamente por não respeitar em nada o espírito ingênuo dos filmes de ficção científica dos anos 1950. Pois bem, esses espectadores nada satisfeitos – como eu – irão encontrar um belo alento ao assistir a este "Monstros Vs. Alienígenas", animação que pega diversos conceitos de vários filmes sci-fi clássicos e os transforma em uma aventura animada com bastante estilo e muito humor, sem esquecer a clássica lição de moral no final.

A história acompanha Susan Murphy, uma garota de uma cidadezinha americana que, no dia de seu casamento com o amor da sua vida, acaba atingida por um meteoro que a transforma em uma versão 13 vezes maior dela mesma. A jovem é capturada pelo General W.R. Monger, um excêntrico militar que fez da missão de sua vida prender monstros para que estes fiquem longe do convívio do povo. Na base, Susan conhece as outras monstruosidades lá cativas, como o cientista louco Dr. Barata, o enferrujado anfíbio Elo Perdido, o desmiolado B.O.B. e o gigantesco Insectossauro, que age mais ou menos como um bebê-inseto de 100 metros de altura.

Sem nenhuma perspectiva de sair de lá, as "aberrações" passam seus dias em uma rotina entediante, para desespero da recém-chegada, agora chamada de Ginórmica. No entanto, mal sabe ela que em seu corpo agora percorre uma energia desejada pelo cruel alienígena Gallaxhar, que envia uma sonda para a Terra a fim de recuperar o meteoro que atingiu Susan e usar a radiação deste em seus planos. Enviando uma sonda robótica (alô, “O Dia Em Que a Terra Parou”!) para capturar seu alvo, esta passa facilmente pelos militares americanos. Assim, o nada inteligente Presidente dos EUA resolve atender ao pedido do General Monger e libera os monstros para derrotarem a nova ameaça.

Assim como as ficções científicas que pipocavam nas telas nos anos 1950, o roteiro de "Monstros Vs. Alienígenas" é bastante simples, não tendo grandes reviravoltas. No entanto, o texto do longa foi arrumado para acomodar diversas e ácidas referências ao mundo sci-fi, brincando com os clichês do gênero, do mesmo modo que a franquia "Shrek" fez com as fábulas.

Assim, os próprios personagens que aparecem na tela são versões dos protagonistas (ou antagonistas) de longas clássicos como "O Monstro da Lagoa Negra", "A Coisa" e "Godzilla" (há uma referência a outro monstro clássico japonês em um momento chave da projeção). Ficções oitentistas como "A Mosca" e "E.T. – O Extra-Terrestre" também são citadas, havendo também uma ótima gag envolvendo a franquia "Um Tira da Pesada". Além disso, espere brincadeiras envolvendo as origens dos seres bizarros e quanto ao fato dos EUA sempre serem atacados pelos aliens.

Embora tais referências sejam encaixadas de maneira adequada e desenvolvidas pelo roteiro, é provável que parte destas não sejam nem notadas pelas crianças, pois é óbvio que esse universo da ficção científica não é tão acessível a elas quanto o das fábulas. No entanto, as empolgantes cenas de ação, o visual das criaturas e a ingênua burrice do simpático monstro-gosma B.O.B. deverão cativar mesmo os pequenos que nem sabem quem raios é Leonard Nimoy de modo a diverti-los durante os 90 minutos do filme.

É interessante ressaltar como o elenco dos dubladores americanos foi escolhido com cuidado, escalando atores consagrados em papéis que realmente combinam com as suas respectivas personalidades fílmicas. Assim, é engraçadíssimo ouvir os trejeitos vocais de Hugh "Dr. House" Laurie como um cientista louco baratizado ou Kiefer "Jack Bauer" Sutherland dando a voz para o militar durão Monger. Na versão americana, no entanto, quem rouba a cena é Rainn Wilson. Famoso por viver o amalucado Dwight da série de TV "The Office", Wilson dá um show a parte no papel do vilão Gallaxhar. Já na boa dublagem nacional, o destaque vai para Guilherme Briggs como o idiotizado presidente americano.

Os diretores Rob Letterman e Conrad Vernon, já veteranos da Dreamworks, fazem um belo trabalho no comando do longa, que possui um visual mais estilizado bastante adequado a sua bizarra história, sendo fácil notar a influência do mundo do anime no design dos personagens humanos. A dupla ainda conduz a narrativa de maneira bastante orgânica, jamais permitindo que as referências (estejam estas nos diálogos ou no visual da fita) envolvam o filme completamente e, com o perdão do trocadilho, alienem a audiência média.

Já na animação per si, o longa é realizado com louvor, detalhista e bastante colorido, visando justamente capturar a atenção das crianças com isso. Neste sentido, destaco o cabelo liso de Susan, algo difícil de fazer digitalmente e que aparece incrivelmente bem animado na tela, evoluíndo o trabalho da Pixar em "Os Incríveis" com a heroína Violeta. Ressalto também a inspirada criação de B.O.B., com o divertido ser de gosma exibindo ótimos efeitos, aproveitando a composição gelatinosa do personagem.

Infelizmente, não foi possível acompanhar outra das inovações do filme, que foi sua técnica em 3D, justamente por conta do número reduzido de salas com esta tecnologia aqui no Brasil. Fica um pouco frustrante seguir as diversas cenas claramente planejadas para a técnica sem poder pensar no modo o qual os realizadores do longa imaginaram. No entanto, a fita é divertida e bem feita o bastante para relevar esse problema e o nerd em mim saiu muito feliz ao ver personagens tão bacanas e familiares ganhando espaço nos cinemas.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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