Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 28 de março de 2009

Surf Adventures 2 – A Busca Continua

Muito bonito, mas sem conteúdo atrativo para o público em geral, “Surf Adventures 2 – A Busca Continua” deve agradar aos fãs do esporte e somente a eles.

Sendo bastante sincero aqui, eu entendo tanto de surf quanto de física nuclear. A despeito de ter amigos adeptos desta modalidade esportiva, nunca me interessei muito por esta prática e não foi este "Surf Adventures 2 – A Busca Continua" que me instigou a retificar isto. Com cerca de uma hora e meia de duração, a fita é um documentário que segue diversos surfistas em suas viagens em busca de novas ondas e emoções, passando por locais como o Rio de Janeiro, pelo norte brasileiro, bem como por outros países, como México, Peru, Taiti e Austrália.

Bons documentários, ao seguirem pessoas em suas empreitadas, sejam lá quais forem, devem fazer com que o público se interesse por aqueles indivíduos, seus dramas e objetivos, realizando uma ligação entre audiência e "personagens", fazendo com que esses sofram junto dos documentados. No entanto, o que temos neste longa são figuras genéricas de surfistas que nunca recebem um devido tratamento. O único surfista que se era possível identificar sem o auxílio das legendas era Kelly Slater e isto pela fama deste, não por sua apresentação no filme.

Chega a ser bizarro que pessoas reais em situações de alto risco consigam importar menos para a plateia do que figuras ficcionais. Isto acontece pois o diretor Roberto Moura preferiu enfocar a prática esportiva em detrimento dos praticantes. Assim, nomes como Marcelo Trekinho, Sifú, Adriano Mineirinho e Danylo Grillo, completos desconhecidos para o público em geral, jamais se tornam pessoas de verdade para quem assiste ao filme e sim meros pontinhos em meio ao oceano, com o público jamais se preocupando com eles durante suas empreitadas em alto mar, o que é desastroso para qualquer fita deste gênero.

Assim, ao invés de descobrirmos por que esses homens se aventuram em um esporte potencialmente arriscado (se praticado no nível mostrado no filme) ou mostrar para o público leigo como aquelas pessoas realizam suas proezas, nos deparamos com falas como "altas ondas, aê…" e "se eu pudesse, vivia dentro do tubo, pedia um cheeseburguer lá, uma batata frita…".

Moura optou por trivializar o esporte e manter todos os estereótipos de surfistas existentes, ao invés de mostrar um lado mais humano dos seus praticantes. Sua escolha foi gastar o precioso tempo de tela mostrando alguns surfistas trocando diálogos risíveis – típicos de amigos em viagens longas – dentro de um furgão que mais lembra a Máquina do Mistério do Scooby-Doo.

No entanto, algo não se pode ser esquecido. O diretor soube realmente como filmar as espetaculares cenas de surf mostradas na película. Em tomadas belíssimas, Moura e seus diretores de fotografia Manuel Águas e Guga Millet posicionam suas câmeras de modo a levar o espectador a, literalmente, mergulhar de cabeça com os surfistas no meio do oceano, com algumas sequências sendo – literalmente – de tirar o fôlego.

A mais impressionante delas, a das ondas gigantes, merece ser vista e revista, principalmente mostrando a insignificância humana perante a natureza, bem como a coragem daqueles esportistas. Outras, como a que mostra o fenômeno da pororoca, conseguem até trazer um bom nível de tensão, já que um dos esportistas – em uma das poucas boas intervenções dos praticantes – nos conta o que acontece quando o surfista cai da prancha em meio às águas escuras por lá.

Mesmo assim, algumas dessas cenas são estragadas por algumas decisões erradas na montagem do filme, adicionando efeitos de envelhecimento completamente desnecessários, tentando remeter ao projeto "Grindhouse" da dupla Tarantino/Rodriguez, prejudicando o visual da fita. Além disso, como há pouquíssima coisa interessante a se ver e ouvir fora as cenas de surf, algumas delas acabam parecendo repetitivas. Afinal, tudo em exagero faz mal, até mesmo belezas naturais gravadas em película.

Outro grande ponto negativo é a narração do filme, feita pelo humorista Hélio De La Peña. Quando o narrador faz um trocadilho ou insere uma fala mais engraçadinha na cena, praticamente transforma aquela sequência, na cabeça do espectador, em um quadro do “Casseta e Planeta Urgente", programa do qual De La Peña faz parte há anos, quebrando totalmente a tensão do momento. Mas, até aí, com os surfistas fazendo piadas sem graça sobre o Peru, o clima já estava um tanto comprometido mesmo.

De qualquer maneira, os praticantes do esporte podem gostar de ver alguns dos seus ídolos em momentos mais descontraídos e em cenas de surf filmadas de uma maneira magnífica, nem reparando nos defeitos do documentário. Por outro lado, o espectador médio não verá muita graça nesta fita que acaba por morrer na praia.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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