Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Operação Valquíria

O novo longa de Bryan Singer conta com todos os elementos que um bom filme poderia contar. Um bom elenco, um bom roteiro, um ótimo diretor e uma parte técnica eficaz. Contudo, apesar de ter qualidade atípica, ele não aproveita metade de tudo que tinha para apresentar.

Em 1992, quando Spielberg lançou sua maior obra-prima intitulada “A Lista de Schindler”, os filmes políticos sobre segunda guerra estavam temporariamente em estado de hibernação. Isso aconteceu devido ao fato da provável impossibilidade de superar as qualidades do mesmo e assim não ter o mínimo de vazão que pretenderia. Anos depois, Singer, que já foi responsável por reviver grandes franquias e chamar atenção pela sua ousadia, desengaveta novamente esse assunto tão polêmico para expô-lo em um projeto de grandes proporções.

Com uma grande equipe, o diretor dá o seu máximo para extrair bons resultados de um tema que exige extremo cuidado quando se propõe a tratá-lo. Talvez todo o problema que ele enfrente seja justamente o longa feito por Spielberg. Singer, querendo ou não, pegou projetos muito grandes em sua curta filmografia. Deteve grandes responsabilidades a cada projeto e conseguiu estar ao nível de todas elas. Contudo, apesar de sua força como cineasta iniciante, é ainda demais para ele ser comparado a, talvez, o maior ícone do cinema atual.

O filme conta a história do coronel alemão Claus von Stauffenberg (Tom Cruise), que acidenta-se na África e retorna à Alemanha para juntar-se à resistência alemã contra o poder totalitário de Hitler. Encabeçando o projeto Operação Valquíria, Claus é encarregado de matar Hitler com as próprias mãos, pretendendo que o ditador possa ser substituído.

Talvez um dos pontos mais fortes na direção de Singer, com um auxílio pesado dos aspectos técnicos, é a ambientação do longa. Posso salientar as incríveis locações onde se passa toda a trama, dotada de cenários minuciosamente fiéis, além de um figurino completamente impecável. A insistência na exibição da suástica apresenta-se de extremo bom gosto, e por diversas vezes o ângulo escolhido por Singer salienta ainda mais todas essas características. Esse processo é tão bem arquitetado que torna-se crível que os alemães falem somente inglês.

Os aspectos técnicos em geral são grandes atrativos. Além desses citados, ainda contamos com uma bela fotografia – apesar de covarde -, uma trilha sonora bem ofuscada, mas bastante eficaz, e um aspecto sonoro formidável. Seja no som ou na edição do mesmo, o longa mostra-se de extrema competência ao caprichar em cada ruído que ouvimos. A impressão é que toda parte auditiva do filme foi pensada diversas vezes, para que, repentinamente, parte da tensão das cenas fosse derivada desse aspecto.

A direção de Bryan Singer é um tanto óbvia e padronizada demais nos minutos iniciais, mas ao desenvolver da história, o diretor vai crescendo juntamente com a trama. Com planos inteligentes, ele vai dando um ritmo interessante ao filme, em conjunto com o editor e compositor da trilha sonora, John Ottman, onde o mesmo tem 90% de sua história contada em escritórios, tribunais ou afins. E daí um ponto a mais para ele: o fato de não deixar a película tornar-se demasiadamente entediante.

O elenco trabalha muito bem em um todo. Tom Cruise mostra que tem talento e capacidade de encabeçar um elenco de peso, apesar de não doar-se inteiramente para o papel. Bill Nighy, que se apresenta bastante irregular em seus trabalhos, reafirma sua competência. David Bamber, que faz pequenas pontas de papel fundamental como Adolf Hitler, consegue uma caracterização competente para o personagem. Com poucas falas e poucas vezes em cena, Bamber comporta-se de maneira bastante curiosa e dá um tom deveras interessante para uma figura tão simbólica como Hitler. Desde a postura, passando por pequenos gestos, e como disse antes, a incrível caracterização, temos uma personalidade tão importante devidamente representada aqui.

O roteiro alterna entre uma ótica completamente política e a euforia do plano da resistência. Talvez algumas pessoas considerem que o filme banalize demais o tema, contudo, acredito que o propósito dele foi atingido com êxito. O longa concentrou-se em seu foco – o aspecto conspiratório -, mas sem desmerecer hora alguma os fundamentos políticos que o sustentavam. Talvez ele acabe pendendo mais para um lado, mas isso não atrapalha seus propósitos nem sua qualidade em geral.

“Operação Valquíria” é interessante devido ao seu conteúdo e competente nos mais adversos aspectos. Não é metade do que poderia ser, principalmente pelos padrões estabelecidos por Spielberg anteriormente. Inteligente, bem representado e até mesmo oscarizável, mas com um grande potencial inutilizado.

Amenar Neto
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