Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 05 de fevereiro de 2009

Barry e a Banda das Minhocas

Depois de ogros, pinguins, esquilos, ratos, etc., agora é a vez de ter minhocas protagonizando uma animação. O resultado da parceria entre Alemanha e Dinamarca na produção de "Barry e a Banda das Minhocas" é desastroso por não criar o mínimo de empatia com os espectadores, seja criança ou adulto.

A Disney, a Pixar e a Dreamworks trabalham duro para a produção de suas animações. Elas não brincam em serviço. Elas conhecem o público exigente que só faz crescer, bem como suas crianças, que logo se tornam adolescentes e precisam ter seu espaço garantido em seus longas-metragens, seja em animação ou live-action. A preocupação com o espectador é máxima e tais estúdios prezam por histórias boas, e às vezes bobas, mas que entretém e divertem. Já a Imagem Filmes, em busca por experiência no ramo da animação, produziu o longa dinamarquês-alemão "Barry e a Banda das Minhocas", mas com um resultado pouco proveitoso. Além de enfadonho, não há graça em suas brincadeiras ou situações.

Na trama, conhecemos um pouco sobre a vida das minhocas, seres de extrema importância na base da cadeia alimentar. Para puxar a trama, Barry é visto como um perdedor pelos insetos jovens do seu "bairro" e suas perspectivas de vida incluem uma carreira fabricando adubos. Porém, ele acaba encontrando um disco de hits antigos e descobre a paixão pela música e pela dança. Impulsionado por um concurso de música, Barry precisa montar uma banda para mostrar a todos que as minhocas têm talento e não são destinadas apenas a uma vidinha pacata e sem graça. Mas não vai ser fácil montar a banda, principalmente quando a cantora tem a voz péssima e não há harmonia entre os instrumentos.

Foi difícil resumir uma história cujo único nome do personagem que eu lembro é o que tem no título. O principal problema do longa está justamente nisso: não criar empatia. Até que a animação começa interessante, apesar de típica, mostrando Barry como um perdedor que precisa impressionar os insetos para entrar no grupo da galerinha cool. As sequências são bem desenvolvidas, dando esperanças que o longa seja bom. Entretanto, com o tempo, é perceptível o pouco ou quase nada que a história mexe com o espectador para que ele se importe com ela. Não torcemos por Barry para montar a banda, muito menos para conquistar seu par romântico, nem mesmo acreditamos nos vilões, ou na mãe protetora de Barry ou no passado óbvio do pai do protagonista. A minhoca que se diminui por ser gordinha não cativa, muito menos o roqueiro com sexualidade suspeita. A trama não atrai, a não ser parcialmente durante os números musicais.

Não é que o longa seja uma animação-musical, assim como foi o excelente "Happy Feet: O Pingüim". "Barry e a Banda das Minhocas" possui números musicais, mas tal musicalidade não é presente o tempo todo. Primeiro temos que observar a banda de Barry ser um desastre, para depois ter a certeza que eles farão sucesso. Aliás, boa parte das músicas escolhidas para a trama são divertidas, até mesmo tocando "Boogie Wonderland", também presente em "Happy Feet: O Pingüim". O que acontece é que o diretor Thomas Borch Nielsen não tem criatividade para dar harmonia a esses números musicais. Os planos estão sempre na mesma perspectiva, sem criar o mínimo de espaço para seus personagens interagirem e conseguirem realmente passar o amor pela música. Isso é irrecuperável.

Em termos de animação, "Barry e a Banda das Minhocas" não traz nenhuma novidade, sendo até pouco interessante visualmente e sonoramente. Borch Nielsen ainda mostra sua inexperiência ao criar estratégias para 'mexer com o espectador', brilhando o globo de danceteria aqui, incluindo Village People ali, mas se entrega como pouco criativo. Como já dito, o roteiro não ajuda muito, já que os personagens são desprovidos de profundidade. Além disso, não sei de onde o roteirista Morten Dragsted tirou o argumento que sustenta a história: as minhocas não podem e não sabem dançar, sendo isso de exclusividade dos insetos. Não há como processar isso como crível, anulando os vilões e as situações de redenção do longa.

Totalmente desinteressante, "Barry e a Banda das Minhocas" entra em cartaz somente para tentar entreter o público infantil e seus acompanhantes, mas o máximo que é possível ter ao final do filme é a sensação de frustração. Sem graça e nem um pouco atraente, não é qualquer produtora que consegue bons resultados em animações. Depois de "Wall-E", o público se dá ao luxo de querer filmes magníficos e emblemáticos. Que venham eles, mas não este.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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