Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 11 de janeiro de 2009

Grilo Feliz e os Insetos Gigantes, O

Esta aventura brasileira pelo mundo da animação 3D mostra que o País tem sim potencial para crescer, mas falta muito amadurecimento em tramas. Apesar da parte técnica positiva, a história extremamente infantil só deverá agradar as crianças abaixo de oito anos.

É inegável que o cinema brasileiro vem ganhando um poderio cada vez maior mundialmente, seja através de indicações a prêmios ou astros que despontam lá fora. Porém, quando o assunto é animação em 3D, o Brasil ainda fica longe de ter tanta moral, apesar de “Cassiopéia” ter sido um dos pioneiros na tecnologia (e até hoje os realizadores juram que ele foi lançado antes de “Toy Story”). Este “O Grilo Feliz e os Insetos Gigantes” chega, com um montante de apoio e patrocinadores nas costas (são tantos anúncios antes de o filme começar que chega a entediar), para quebrar esses padrões. Tecnicamente, o Brasil mostra que pode sim trabalhar com animação de qualidade, mas pena que isso não é suficiente para ter um resultado de qualidade.

A “história” mostra o Grilo Feliz, um músico que pensa em fazer um trabalho com crianças carentes. Enquanto isso, o sapo Netão e seu grupo de rap procuram uma voz feminina para cantar com eles, fazer sucesso, e assim sair da favela. Na Festa da Primavera, o Grilo Feliz conhece Pétala, uma grila linda e dona de uma bela voz, que logo conquista o herói. Acontece que os rappers a seqüestram e o Grilo, junto com seus amigos, vão em busca de seu resgate.

Dirigido por Walbercy Ribas, juntamente com seu filho Rafael Ribas, o longa nada mais é do que uma continuação de um desenho em 2D lançado em 2001, intitulado apenas “O Grilo Feliz”. No caso, Walbercy quebrou a cabeça por quase 20 anos para finalmente obter o produto final. Com tanto apoio, fazer a continuação em 3D acabou se mostrando um trabalho bem mais "tranqüilo". Tudo bem, nota-se claramente o tempo que é gasto para realização de uma animação, pois na época as canções “Festa”, de Ivete Sangalo, e “Amor Maior”, do Jota Quest, ainda eram moda. Assim, a intenção de parodiá-las acaba indo para o espaço, já que as mesmas estão fora da parada de sucessos há um bom tempo.

Tecnicamente, há pouco do que reclamar. Os movimentos dos bonecos são críveis, nos mínimos detalhes. Os traços às vezes podem soar meio estranhos, como por exemplo, os sapos não parecem sapos nem aqui nem na China, e outros que acabam o filme e não identificamos o que são de fato. Mas é entendível a intenção de optar por dar traços exóticos e particulares, típicos das grandes animações em 3D (vide a hilária preguiça Sid, de “A Era do Gelo”).

O defeito maior é pelo fato de a trama ter se desenvolvido visando unicamente as crianças e o roteiro acontece sem nenhum atrativo extra. O diretor segue com a historinha feliz do grilo que canta e quer agradar a todos, se confiando que uma piada em que um personagem chama o outro de feio garante a diversão. Melhor dizendo, são raras as piadas distribuídas ao longo dos 82 minutos (curtos, mas que parecem passar bem mais devagar do que o comum), e a busca pela simpatia do público se dá unicamente pelo carisma dos bichinhos em cena. E ainda assim peca, pois o sapos rappers, aparentemente são apresentados com a missão de serem os mais engraçados pelo jeito trapalhão de ser, mas são jogados para a posição de meros coadjuvantes, sem luxo algum.

Durante toda a exibição, não se encontra nenhuma justificativa para que aquela história fosse transformada em uma animação em 3D para os cinemas. O que se vê, mais parece um daqueles desenhos bobos exibidos nos canais abertos nas manhãs de domingo, cuja duração poderia muito bem ser resumida em 30 minutos, sem afetar em nada o desenvolvimento. Por sinal, a edição é uma parte que poderia ter sido melhor visada, visto que as muitas subtramas (o Grilo, os rappers, a gafanhota gigante Trambika…) são apresentadas de maneira muito aleatória, ficando confuso para as crianças a identificação do espaço e dos personagens que estão em ação no momento.

O roteiro de Walbercy até que tenta dar uma certa maturidade à trama ao não esconder ser uma animação típica brasileira, incluindo tiradas que mostram a exploração infantil e a pirataria (este, provavelmente o único momento risível da projeção), mas simplesmente não se encaixam no contexto geral. A idéia é boa, mas não para o público alvo, que são as crianças com menos de oito anos. Bem que, como espelho, os realizadores deveriam aprender um pouco mais com as sempre tocantes lições de vida das animações da Pixar ou o sensacional humor satírico das animações da Dreamworks, agradando em cheio a todas as idades.

Um fato curioso merece ressaltar: durante a sessão, um menino que devia ter por volta de seus três anos de idade vislumbrava com a tela grande, parecendo ser sua primeira experiência no mundo do cinema. Durante toda a projeção, ele ficava em pé, e ao final, aplaudia encantado. Para esse público alvo, não há dúvidas de garantia de diversão, no mais, resta a torcida para o amadurecimento das animações brasileiras. Potencial temos, resta mostrar para o mundo.

Thiago Sampaio
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