Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Curioso Caso de Benjamin Button, O

Indescritível. É a palavra que melhor define "O Curioso Caso de Benjamin Button". A história de uma vida, tão comum e ao mesmo tempo fantástica quanto à do personagem de Brad Pitt, merece ser assistida e, no silêncio, ser avaliada.

Ao sair da sessão de "O Curioso Caso de Benjamin Button" tive a sensação de ter assistido a um filme que se relaciona, com precisão, a qualquer pessoa, em qualquer momento de sua vida.

A história de Benjamin Button não seria extraordinária. O personagem, interpretado por Brad Pitt, perderia feio se comparasse suas experiências com as de Forrest Gump. Porém, como o jovem com deficiência mental, Button é atraente justamente por ser diferente, por viver o que viveria uma pessoa normal com os olhos de alguém que supera as dificuldades.

A mãe de Benjamin morre logo que a criança nasce. O bebê, prontamente deixado de lado por médicos e enfermeiras, tem a pele enrugada e a aparência velha. Desesperado, o pai da criança a carrega para a porta de uma casa, onde abandona o menino. É Queenie quem acolhe Benjamin. Queenie trabalha em um asilo em Nova Orleans. Ambiente estranho para criar uma criança, mas não uma criança como Benjamin. O menino cresce para se tornar um velho. Ao invés de correr e brincar como uma criança normal, fica preso a uma cadeira de rodas em razão da osteoporose avançada. Fala com dificuldade, mas tem a curiosidade e o brilho no olhar de uma pessoa com pouca idade.

"O Curioso Caso de Benjamin Button" começa como um conto de contrastes e apresenta outros conflitos, tão profundos e delicados quanto o principal, à medida que se desenvolve. A criança idosa encontra barreiras em sua própria existência. Por viver em um asilo, é testemunha frequente do que a velhice pode fazer. Vê a morte todos os dias, mas não sabe ao certo o que acontecerá com seu corpo, como poderá aproveitar todas as fases da vida. A dúvida sobre seu futuro e o medo da morte são facilmente reconhecidos. Benjamin, como muitas outras crianças de sete anos, teme o que está por vir.

À medida que o tempo passa e o velho se torna jovem, Benjamin se aventura em outras oportunidades. Abandona o asilo em que cresceu e enfrenta o mar ao lado de um capitão amalucado. Conhece o sexo, o amor e testemunha, mais uma vez, a morte.

Se existe algo a se criticar em "O Curioso Caso de Benjamin Button" é a personagem de Cate Blanchett. Daisy é egoísta e, muitas vezes, indecisa. A, por vezes, narradora da história deixa a vida passar por ela sem lutas, sem protestos. Se esforça pouco para mudar o que lhe é oferecido pelo destino. A interpretação de Blanchett foge do habitual e se torna enfadonha. O papel é desinteressante. A personagem parece não merecer estar presente.

A trajetória de vida de Benjamin Button é contada ao longo de 159 minutos de projeção. Quase três horas que passam voando, graças à direção de David Fincher. A fotografia belíssima, o cenário acertado e os diálogos sutilmente trabalhados, colaboram para dar forma ao conto extraordinário.

O que Benjamin vive não é extremamente relevante, mas sua condição nos obriga a enxergar a vida com os olhos de alguém que foi privado das experiências pelas quais todos passam. Observar as oportunidades e decisões de maneira a aceitá-las como são. As escolhas podem ter sido erradas, mas tê-las feito não foi. Mais do que um filme, "O Curioso Caso de Benjamin Button" é uma grande epifania.

Lais Cattassini
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