Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 14 de dezembro de 2008

Carga Explosiva 3

Fraco e com poucas cenas de ação realmente dignas de nota, este “Carga Explosiva 3” é, de longe, o exemplar mais fraco da franquia.

Os dois primeiros filmes da franquia "Carga Explosiva" tiveram como principal característica o exagero e a diversão, sempre com o apoio do carisma natural do astro Jason Statham, que vive o protagonista da série. Sem qualquer um desses elementos, restaria apenas um filme de ação genérico e chato, tal como este "Carga Explosiva 3" se apresenta.

Se as duas fitas anteriores eram filmes bacanas exatamente por serem de rápida consumação, o que temos nesta mais recente aventura do transportador Frank Martin é uma tentativa de colocar elementos sérios demais para um longa que deveria seguir uma tradição de despretensão.

Este equivocado tom solene do filme coincide com a chegada de um novo cineasta à franquia: Olivier Megaton. O francês de nome explosivo, trazido como mais um discípulo de Luc Besson (que assina o roteiro ao lado de Robert Mark Kamen) parece que quis revitalizar um pouco o mundo de Frank, algo que realmente não era necessário. O longa coloca o sisudo Frank obrigado a transportar a amalucada jovem Valentina (Natalya Rudakova) e dois malotes através da Europa, com esta improvável dupla presa a bombas que explodirão caso se afastem demais do carro.

O contratante desta vez é o misterioso Sr. Johnson (Robert Knepper), que deseja ver a entrega sendo feita a qualquer custo. Em paralelo, temos um ministro tentando defender a causa ambientalista enquanto é chantageado por Johnson sobre um contrato e um cargueiro repleto de lixo tóxico rumando a um porto desconhecido. As tramas começam a se cruzar enquanto Frank tenta descobrir a identidade de Valentina e através das investigações do fiel companheiro do habilidoso mercenário, o inspetor francês Tarconi (François Berléand).

Mas chega de papo, já que o público-alvo da franquia quer mais saber da ação. E é aqui que os problemas começam. A despeito de contar com algumas cenas bastante movimentadas, estas simplesmente não chegam ao nível tresloucado que os fãs se acostumaram nas partes um e dois da série, com exceção da luta final – que, mesmo assim, fica bem longe do nível imposto nos filmes passados. Além disso, Megaton e os escritores resolveram tentar se aprofundar nos dramas e na psique de Frank, além de fazer um pequeno drama envolvendo Valentina.

A impressão que fica é que o envolvimento entre o transportador e a atraente ruiva foi enfiado às pressas na fita para calar de vez os absurdos rumores de que o personagem não curte muito mulheres. A questão é que, ao invés de simplesmente resolverem a questão colocando-o junto da sexy personagem feminina de uma maneira mais "quente", resolveram transformá-lo em um amante sensível, conhecedor de vinhos e cozinha fina!

O resultado são cenas de diálogos constrangedores envolvendo o casal – com a da discussão sobre uma refeição perfeita – bem como uma queda brutal no ritmo do filme, que jamais pega um embalo decente. Chega a ser impressionante que Megaton tenha contado com dois profissionais na edição – Camille Delamarre e Carlo Rizzo – e ainda não ter conseguido dar ao filme uma velocidade condizente com seu título.

Sem contar que, contando com temas sérios e de maneira pseudo-séria, como ambientalismo e perigosas grandes corporações, sobra pouquíssimo tempo para as piadas e gags que caracterizavam a franquia e a diferenciam dos demais produtos do cinema de ação genérico atual. Aliás, a única cena que arranca algumas gargalhadas do público é justamente aquela em que Valentina se joga nos braços de Frank e, ao ser recusada, a garota pergunta se ele é gay.

Quanto aos coadjuvantes, nunca os conhecemos direito, gerando em meros estereótipos. Isso não afeta muito o ministro, cuja função é apenas ser um homem de caráter preocupado com o meio-ambiente, e nem ao inspetor Tarconi, pois já o conhecemos de outros carnavais. No entanto, faz um estrago tremendo com Johnson, já que não o conhecemos bem o suficiente para odiá-lo, fazendo com que ele se torne, aos olhos da audiência, apenas mais um pulha a ser pulverizado pelo mocinho, minando e limitando o trabalho de Robert Knepper, que vive o vilão.

Statham faz o que pode com as parcas e fracas cenas de ação e o ridículo desenvolvimento de personagem pelo qual o filme faz Frank passar. Mas, como vimos em "Corrida Mortal", o carisma do britânico não salva um filme sozinho. Já a sardenta Natalya Rudakova faz um trabalho até razoável, com algumas cenas bastante divertidas, tais como a que Valentina toma ecstasy e quase enlouquece Frank no meio de uma perseguição e a que a bela se joga nos braços do herói.

Com uma fotografia decente, provida pelo cinematógrafo Giovanni Fiore Coltellacci, e uma trilha sonora adequada, "Carga Explosiva 3" peca pelo seu ritmo ineficiente que, com poucas cenas de ação realmente empolgantes, falha em cativar o seu público. É irônico que um diretor que adotou "Megaton" como seu nome artístico tenha entregado o exemplar mais fraco de uma série antes explosiva.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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