Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 06 de dezembro de 2008

Colegiais em Apuros

"Colegiais em Apuros" não tem nenhuma imaginação em relação à narrativa cinematográfica, roteiro ou fotografia, mas pode dar umas boas idéias sobre o que ter em uma festa adolescente.

Nos anos 1980, a indústria cinematográfica viu um verdadeiro boom de filmes com colegiais querendo entrar em festas, beber e transar. Vários desses filmes marcaram época, tais como "A Vingança dos Nerds", "Porkys", "Sem Licença Para Dirigir" e "Namorada de Aluguel". Recentemente, com a ascenção do cineasta Judd Apatow como um dos maiores nomes da comédia para cinema, tais temas voltaram à moda, com sucessos como "Superbad – É Hoje", lançado em 2007. No entanto, duas coisas separam esses filmes citados de "Colegiais em Apuros", a mais nova produção a tentar seguir essa cartilha: carisma e originalidade

Aliás, foi até bom citar "Superbad – É Hoje", já que a premissa básica dos dois longas é a mesma, com dois melhores amigos de infância (um tímido e sensível e o outro gorducho e desbocado) e um elemento agregado extremamente nerd tentam pegar mulheres, beber e se divertir juntos antes de ir para a faculdade. No entanto, enquanto a fita produzida por Apatow possuía uma mensagem de amizade e personagens carismáticos, "Colegiais em Apuros" possui… seios desnudos, lésbicas se agarrando e piadas recicladas de outras obras. Enquanto tais coisas são mais do que suficiente para um bom filme pornô (as piadas são um extra), não são exatamente o suficiente para uma comédia.

Na história, Kevin (Drake Bell), Carter (Andrew Caldwell) e Morris (Kevin Covais) – respectivamente o sensível, o gordo e o nerd – são estudantes do último ano do colegial e estão indo passar o fim de semana na universidade onde este último será entrevistado para conseguir uma bolsa de estudos. Ao chegarem lá, descobrem que teriam de dividir o dormitório com um aluno bastante peculiar. Saindo fugidos do lugar, acabam pedindo refúgio em uma fraternidade onde são torturados pelos administradores do local, Teague (Nick Zano). O trio acaba se apaixonando por três estudantes da universidade, escondendo o fato que ainda estão no ensino médio. A partir daí, eles têm de suportar Teague e sua gangue, bem como tentar se divertirem ao máximo nas festas – uma delas contando com a participação especial de Verne "Mini-Me" Troyer.

Longe de ser um desafio intelectual para o elenco ou para o público, longas assim devem ser, no mínimo, divertidos, contando com personagens bacanas com quem o público possa se identificar. No entanto, ao simplesmente copiarem as figuras vistas em outro filme, tal identificação cessa e tudo o que vemos são figuras esquemáticas que temos a sensação de ter visto em outro lugar. Assim, os atores não possuem nem como imprimirem características marcantes aos seus papéis, já que estão basicamente repetindo o que outros profissionais já fizeram.

Além disso, o que deveria funcionar como gags no roteiro mais parecem uma sessão de escatologia para iniciantes, já que temos fezes animais, fezes humanas, urina, pêlos incômodos, bundas coladas em privadas… enfim, uma verdadeira confusão sem lógica nenhuma. As únicas partes decentes da película – e estou sendo bastante gentil aqui – são aquelas que mostram as festas em si, sempre amalucadas e repletas de mulheres nuas ou seminuas sexualmente bastante abertas.

Porém, quando o filme resolve tentar contar uma história, vai tudo por água abaixo graças à falta de imaginação dos roteiristas Dan Callahan e Adam Ellison. Inacreditavelmente foram necessários dois escritores para repetir, mal e porcamente, a cena da carteira de identidade falsa de "Superbad – É Hoje". Estou impressionado! Já na direção, a "cineasta" Deb Hagan pode até não conseguir saber dirigir um elenco ou ter uma narrativa amarrada, mas mostra que sabe muito bem como organizar uma festa, merecendo palmas se, ao invés de um filme, estivesse comandando uma calourada geral de alguma faculdade.

Quem merece os parabéns são Freddy Luis, Anne McCarthy, Jay Scully e Amy Staub, os diretores de elenco do filme, já que fizeram um BELO trabalho no casting das gost…, digo, das atrizes que abrilhantam a tela. Resumindo a ópera, trilha sonora mais ou menos, muita mulher bonita, muita bebida e atores ruins. Seria uma ótima festa, se não fosse um filme.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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