Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 08 de janeiro de 2009

Dia Em Que a Terra Parou, O

Desnecessária, a nova versão de "O Dia em Que a Terra Parou" repete o mesmo mantra que ecoa por Hollywood, o da preservação do meio ambiente. Com um roteiro pobre e um elenco medíocre, nada se aproveita do longa-metragem.

Equivocada não era apenas a existência de uma refilmagem, mas também a formulação do roteiro da nova versão de "O Dia em que a Terra Parou". Pouco, muito pouco, pode ser aproveitado da experiência de assistir a um filme que é, acima de tudo, desnecessário.

Em 2008, uma professora universitária estuda a evolução de bactérias capazes de sobreviverem em ambientes inóspitos. Seu trabalho interessa a oficiais do governo norte-americano, que a convocam para estudar um fato estranho: a colisão de um objeto espacial com a Terra. Sem esperar por uma justificativa para ser retirada de casa, a cientista, interpretada por Jennifer Connelly, aceita sua missão.

Esperando um grande asteróide, as autoridades americanas se surpreendem com a aparição de uma esfera gigantesca em pleno Central Park. De dentro dela sai Klaatu, uma espécie de embaixador espacial, interpretado por Keanu Reeves, e um gigantesco robô, que tem a função de proteger o jovem diplomata de possíveis ações violentas dos seres humanos, o que não demora a acontecer.

O filme original, de 1951, carrega a inocência dos clássicos e a sinceridade de uma Hollywood menos tecnológica. Mesmo com efeitos toscos e soluções embaraçosas, a obra atrai aos espectadores por ser condizente com a época e por decifrar os principais problemas da humanidade, a violência e a ganância.

Klaatu, em 1951, chega ao planeta para avisar aos humanos, que começam a se aventurar em viagens espaciais e experiências nucleares, de que existe vida inteligente fora da Terra e que a violência não é necessária. Se utilizada, a Terra será destruída como forma de defesa dos outros planetas.

Em nada a nova versão de "O Dia em que a Terra Parou" se assemelha a de 1951. Em nenhum momento a Terra pára. O original possui uma seqüência em que Klaatu, para revelar a Helen Benson sua verdadeira identidade, e demonstrar o poder que tem a uma comunidade científica, desliga todos os sistemas elétricos da Terra. Nada remotamente parecido é feito pelo personagem de Keanu Reeves em 2008.

Diferente da mensagem de paz do Klaatu original, a nova versão é destrutiva, redundante e, graças à interpretação de Keanu Reeves, inexpressiva. Klaatu 2.0 não responde às perguntas feitas pela secretária de defesa americana, interpretada por Kathy Bates, e troca poucas palavras com sua salvadora Helen Benson e seu enteado Jacob.

Sua missão não é alertar aos humanos sobre a violência exagerada, algo ainda pertinente, mas avisar sobre as questões ambientais que qualquer pessoa que assistiu a "Uma Verdade Inconveniente", "Wall-E" ou a qualquer outro filme ecologicamente correto já está cansada de saber. Destruidores do meio ambiente que somos, não entenderemos nada até que o jovem alienígena libere sobre a Terra insetos que desintegram o que houver em seus caminhos.

Cheio de buracos, o roteiro é cansativo. Não é possível captar as verdadeiras intenções de Klaatu porque o rapaz simplesmente não as explica. Impossível torcer para os seres humanos, representados por uma cientista pouco curiosa, um menino irritante e uma chefe do governo norte-americano.

O que uma nova versão de "O Dia em que a Terra Parou" poderia ter feito para melhorar a versão original foi a elaboração de efeitos especiais que fizessem jus ao roteiro espacial. No entanto, parece que os produtores e o diretor Scott Derrickson escolheram trabalhar apenas nisso e torcer para que todo o resto fosse ignorado pelo público. Isso talvez acontecesse, se os efeitos fossem mais criativos e o elenco mais interessado em seus personagens.

Lais Cattassini
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